quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Anitta, que de malandra não tem nada - por Giba Carvalho

A cantora Anitta. Fonte: Google Imagens.



“Ser bom nos negócios é o mais fascinante tipo de arte. Ganhar dinheiro é arte, trabalhar é arte e um bom negócio é a melhor arte.” – Andy Warhol

Parem as máquinas! Lá vem o turbilhão avassalador chamado Anitta, que de malandra não tem nada.

Todo ser-humano é movido por desejos. A chama que queima seu interior, seja para cantar, interpretar, escrever, cozinhar, criar, dançar e todo resto. Noutra época, esta chama de vontade, era conhecida como “Élan Vital” (H. Bergson) que, nada mais é, do que aquilo que nos impulsiona, que nos trás tesão na realização. Após conquistar milhões de fãs por todo Brasil, Anitta decidiu alçar um vôo maior. A conquista do mercado norte-americano é o sonho de consumo de todo e qualquer artista do mundo POP (e não é um desejo apenas de nomes da música atual). Com ela não seria diferente. E, sem maiores celeumas, penso ser bastante normal.

Cada época cria a arte que lhe é própria, isto é um fato claro. Foi-se o tempo que o sucesso de um artista era medido pela quantidade de discos vendidos e de shows. O Mundo POP atual, é movido basicamente por likes, compartilhamentos, número de audições e visualizações nos sites e aplicativos. E são milhares deles! Neste quesito específico, a menina da Zona Norte do Rio, deu um “banho” de planejamento e execução em todos. Obviamente, que isto não ocorreu gratuitamente. Anitta contratou uma empresa estrangeira para tomar conta de sua carreira, com foco no objetivo principal. De imediato, parou com os lançamentos sucessivos de discos (o último foi em 2015) e partiu para uma nova estratégia de mercado. Esta consistiu no lançamento de quatro videoclipes (um por mês) de um novo single e com produção gringa (inclusive, o nome dos três singles anteriormente lançados, também são em inglês). Este foi o Projeto CheckMate.

Inicio este texto citando Andy Warhol. E, inevitavelmente, relembrei outra frase dele ao tomar conhecimento deste projeto – “...não importa o quanto você seja bom. Se não for promovido da forma correta, você não será sequer lembrado.” Seria leviano de minha parte afirmar que na questão de números, o CheckMate não foi um sucesso absoluto. Vamos a eles:
  • “Vai, Malandra” ficou entre as 18 músicas mais ouvidas no mundo no Spotify;
  • Foi a primeira música em português a entrar no Top 20 da plataforma;
  • Mais de 25 milhões de visualizações no Youtube;
     
Reconheço o mérito da cantora, porém, isto é bastante diferente das afirmativas que li nos últimos dias sobre a ascensão metórica no mercado internacional. Faz muito tempo que repito que as carreiras de artistas de aço foram por água abaixo com as plataformas de internet. O fim das gravadoras trouxe consequências trágicas para a música. A cada segundo, milhares de novos “artistas” surgem em todo e qualquer buraco do mundo e, alguns destes, são elevados a patamares quase divinos sem o menor crivo de qualidade. Apenas por serem legais, divertidos, ou engraçados. Esta é a tônica.

Anitta não faz parte deste meio, é fato. E, por já ser um sucesso dentro do Mainstream Pop-Tupiniquim, usa de certas benesses que tal meio proporciona. Primeiramente, a quantidade absurda de dinheiro que corre por baixo dos panos (muitas empresas envolvidas). Segundo, por ser “sister” do Jornalismo domesticado de críticos lerdos (que apenas leem releases) e das inúmeras assessorias de imprensa que vendem seus serviços facilmente. Para finalizar, inegavelmente, Anitta tem muitos fãs que a sustentam pagando caro nos seus shows. Contudo, isto é completamente divergente de uma conquista de carreira internacional. Ainda que, seja o maior promovedor de tralhas da face da Terra, o nível de exigência para adentrar no mercado estadunidense é elevadíssimo. Na minha opinião, Anitta erra gritantemente no formato escolhido: “Latina, sexy, sensual, marquinha de biquíni, brazilian girls, brazilian butts, etc...” Isto já está bem manjado do Morro do Vidigal hasta Puerto Rico de los “despacitos de la vida”. Simplesmente, mais do mesmo!

Musicalmente, Anitta continua péssima! Para mim, este é o ponto principal. Os três primeiros clipes deste projeto são sofríveis. As músicas da mesma forma. Porém, mesmo detestando Funk e achando “Vai, Malandra” uma música igualmente medíocre, penso ter sido um acerto no quesito estilo. Por quê? Porque uma coisa é não gostar de Funk e assumo que não gosto. Outra coisa, é negar o Funk como representação cultural popular. Neste ponto específico, aos 45 do segundo tempo, Anitta marcou o gol. E o gol só saiu porque ela foi mais Brasil e menos “americána”. Se isto será suficiente para que o projeto obtenha o sucesso desejado, não saberia informar (acho pouquíssimo provável) mas, que causou um furor gigantesco entre público e mídia, é fato latente. A propósito, como costumo sempre ressaltar, concentro minha atenção na música e, ainda que, as redes sociais possuam esta capacidade aglutinadora de correntes solidárias, não utilizarei a pecha bastante usual da “solidariedade à distância”. A relação tão corriqueira com o “outro generalizado”. Até porque, não adianta falar para um público emocionalmente histérico, afeito unicamente a “modas de comportamento” (a arte é completamente dizimada nestas brigas) e, que no final, são igualmente “legais” e “fofinhos”.

Gostaria de lembrar aos leitores e fãs da cantora, alguns pontos. Inegavelmente, a arte de qualquer período tende a servir aos interesses da Classe Dominante. Com Anitta não é diferente, muito embora, no clipe de “Vai, Malandra”, ela tente passar uma imagem contrária. Em contrapartida, insisto na afirmativa de que o relevante de nossa música (do Rock ao Samba), está no Underground. Nas esquinas, vielas e pequenos palcos desta vida. Basta que a gente queira ouvir, enxergar e ajudar. É um trabalho árduo e para poucos. Mas, quem foi que disse que as coisas que valem a pena são fáceis? Fácil mesmo, é apontar o dedo e limitar a discussão na quantidade de celulite das bundas alheias.