domingo, 29 de abril de 2012

Debate - "Os grandes poetas do rock nacional" - por Gilberto da Costa Carvalho

Esta semana irei fazer algo diferente e intrigante. O gosto pelo debate sadio, me fez ter a idéia de lançar uma tema para discussão aqui no blog. Vou procurar ser mais específico. O tema é: "Os grandes poetas do rock nacional".
Num tempo "musical", onde qualquer palerma se auto-intitula poeta, gostaria que os leitores do blog opinassem sobre o assunto.
A idéia surgiu numa bela cervejada ontem à tarde na casa do pai de Lucchesi. Estávamos a ouvir um disco de Raul Seixas e pensei: "Engraçado. Em termos de poesia no rock nacional, as pessoas (e me incluo no meio) sempre ficam alternando os primeiros lugares entre Renato Russo e Cazuza. No entanto, esquecem de Raul."

Uma heresia imensa! Concordam? Reconheço: "também sou um herege!"


E para vocês leitores?

O "Maluco Beleza" é isto tudo mesmo?



 O "filhinho de papai" da zona sul do Rio merece nossa atenção?
Ou o "gay complexado" de Brasília é que tem que ser mais ouvido?
Está lançado o debate.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Olha Aí, O Meu Guri e Macca! - Por André Maranhão

Na semana passada pude conferir apresentações de Chico Buarque e Paul McCartney. Considero ambos significativos não apenas para a música, como também para a canção, já que assim como Luiz Tatit (2007) considero a canção algo diferente da música; um exercício bem peculiar, de combinar sons e palavras e prepará-los para o uso da voz. Esse métier é muito diferente de qualquer construção instrumental ou de algum poema, glosa, conto e epigrama. Por isso, acho que quaisquer análises prestadas sobre Chico Buarque e Paul McCartney devem transcender aspectos meramente instrumentais ou literários. Chico Buarque e Paul McCartney levaram a canção para direções muito significativas ao longo de suas carreiras. Mesmo com esse mérito, os dois divergem em vários aspectos, não apenas estéticos, mas comportamentais. E isso pra mim ficou ainda mais evidente após as apresentações da semana passada. Na sexta-feira percebi um Chico Buarque lacônico, quase “joãogilbertiano”, sem estabelecer muita interação com o seu público. Pouquíssimos momentos de maior proximidade ou descontração, como na sua despedida do show (quando ele se dirigiu à frente do palco e apertou uma série mãos sortidas da plateia) e no momento em que pôs o chapéu de Wilson das Neves para cantar um pouco. Chico parecia ali prestar um serviço taciturno, um serviço dos mais cotidianos; com tanta seriedade que apenas sorria com um sorriso pontual; daqueles que ele mesmo escreveu em Cotidiano! Diante de tanta Buarque formalidade, o Teatro Guararapes ainda assentava a histeria de mulheres e de homens que clamavam: “Chico, mostre a cabeça da Medusa!”, ou “Chico, onde está o veneno da Hidra de Lerna?”. Enfim, uma tietagem para qualquer semideus não botar defeito. Chico é um artista que aposta na segurança da forma. Em sua nova turnê ele apresentou as canções do seu novo álbum Chico (2011), mantendo o lirismo e a suavidade como a tônica, apenas com tímidas variações, melhor percebidas em Tipo Um Baião e Sinhá (esta última uma parceria com João Bosco). Chico veio escudado por muita gente competente: Luiz Cláudio Ramos (o seu arranjador), Wilson das Neves e Chico Batera são alguns nomes de quilate. Além das novas canções, Chico interpretou outras pérolas já consolidadas na MPB: Bastidores; Geni e o Zepelim; Futuros Amantes; O Meu Amor; Anos Dourados e Desalento. Finalmente, executou Cálice, mesclando essa canção com alguns versos de Criolo: um gesto no mínimo interessante. E o que falar de Paul? Que ele é o cara! Junto com John Lennon, constituiu uma das parcerias mais férteis da canção no século XX. Compôs não só hits, mas trabalhos de mudança estética para o panorama do Rock, como Helter Skelter (tocada no sábado passado no Estádio do Arruda). É certo que o repertório de Paul é profundamente nostálgico. Aliás, vários críticos associam a nossa época a uma cultura do Pós-Modernismo, marcada pelo forte retorno às nostalgias. Arjun Appadurai (2010) considera as turnês de Paul McCartney e de The Rolling Stones como exemplos marcantes do que ele chama de “nostalgia oblíqua”. No caso de Paul, haveria a reprodução de uma nostalgia pelos Beatles, transmitida não só para os fãs antigos, mas para novas gerações e novos grupos culturais: o que implica em pessoas jovens também cultuarem um ícone como Paul. Mas não deixemos que a nostalgia se converta em um fatalismo, tampouco em um tom de condenação, seja para Chico, seja para Paul. O repertório de Paul foi mesclado entre The Beatles, Wings e sua carreira solo. E mesmo após tantos anos, Paul interpretar sucessos como Yesterday, Band on The Run e Maybe I’m Amazed é algo muito significativo, pois nem sempre tocar o antigo é uma atitude artística condenável. Pelo contrário; pode se traduzir em uma postura relevante e pedagógica na formação de uma cultura. Paul já alcançou graus altíssimos de reconhecimento e legitimação, foi (e ainda é) um Beatle, cavaleiro da Rainha Elizabeth II e milionário. Não precisa mais provar nada no quesito fama! Atualmente, eu diria que ele optou por evangelizar seus clássicos como um peregrino da canção, e Recife foi um dos seus “Santiagos de Compostela” mais recentes. Penso que a peregrinação de Paul é uma atitude válida e não menos importante para a história da música. Afinal, essa coisa de nostalgia não é tão nova assim, tampouco exclusiva ao Rock de Paul ou à MPB de Chico. Tia DeNora (1995), demonstra que o próprio Beethoven por muito tempo da sua vida se apresentou com uma “trindade” de composições: as suas músicas, as de Mozart e as de Haydn (esses dois mais antigos do que ele) e nem por isso foi desconsiderado ou preterido como alguém genial na história da música. Sem falar no jazz, que aí daria pano pra manga no quesito standard e nostalgia... O que eu cá com meus botões pensei? Que Paul, um cavaleiro e Beatle milonário, passava de carro pela Avenida Beberibe de janela abaixada, acenando pra Deus e o Mundo, enquanto nos dias de hoje qualquer “restartzinho” mal olha pra cara dos seus fãs e dá “piti” se alguém encostar no seu carro! Enquanto eu vejo artistas que mal têm uma carta na manga, Paul McCartney tem um Royal Straight Flush é dá lições de cordialidade e gentileza, ao cumprimentar e tirar fotos com soldados da Polícia Militar de Pernambuco e ao abraçar crianças. Paul se esforçou deveras pra falar quase a metade do seu discurso em português, apelando até para certos regionalismos, como “Salve a terra de Luiz Gonzaga”; “Povo arretado” e pra voltar ao palco empunhando a bandeira de Pernambuco. Pierre Bourdieu (2005) dizia que não existe ato desinteressado. É evidente que a cortesia de Paul e o seu show multimídia lhe convertem grandes dividendos e aumento de prestígio entre seus fãs, mas Paul bem poderia não fazer nada disso que continuaria Paul com toda a sua áurea artística! E vamos conjecturar sobre o fato: e o fato é que Paul fez tudo isso! Entre Chico e Paul é difícil tecer muitas comparações. Mas saí com uma impressão de que o Show de Paul valeu mais o ingresso. Não necessariamente por questões de repertório, ou pelo fato de Paul se colocar como um multi-instrumentista ou como um cara mais descolado, mas por sua produção, pelo seu show de valor multimidiático forte (telões, pirotecnia, fotos, clipes) que deixam até os momentos antes de sua subida ao palco mais animados e interessantes. Enfim, sobre esse aspecto Paul dá um “Sir / Senhor” show pra cima do biscoito fino de Chico. Com relação ao Recife, acredito que o fato dessa cidade receber Paul McCartney e Chico Buarque num mesmo fim de semana não é um acaso qualquer: é, de fato, um indicador de mudança, de um passo importante no cenário da música mundial.

Referências APPADURAI, A. Modernity at large: cultural dimensions of globalization. Mineápolis: University of Minnesota Press, 2010. BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. [São Paulo]: Papirus, 2005. DENORA, T. Beethoven et l’invention du génie. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Paris, v. 110, p. 36-45, 1995. TATIT, L. Todos entoam: ensaios, conversas e canções. São Paulo: Publifolha, 2007.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Hendrix - o número 1 - por Fernando Lucchesi


Como havia prometido, vou tecer alguns breves comentários sobre o número um na lista dos melhores guitarristas promovida pela revista Rolling Stone, James Marshall Hendrix, ou simplesmente Jimi Hendrix.
Não foi e não será apenas nessa lista que Hendrix foi eleito o guitarrista mais importante e influente da (breve) história do Rock n´Roll. Em termos de virtuose  muitos outros guitarristas já o superaram, mas a técnica trazida por ele no final dos anos 60 permanece como a mais influente até hoje. Recentemente assisti em um canal a cabo um documentário intitulado “A história de Jimi Hendrix” (em inglês simplesmente “Jimi Hendrix”). O título em português me fez imaginar que fosse uma cinebiografia, mas na verdade trata-se de um documentário feito em 1973, que tenta seguir uma certa ordem cronológica da vida de Hendrix através de depoimentos e apresentações históricas dele.  Vários rock stars como Pete Townshend( The Who), Eric Clapton  e Mick Jagger dão depoimentos, bem como ex-namoradas , ex-companheiros de anonimato,etc. A ausência mais sentida é a do primeiro empresário dele, Chas Chandler( ex-baixista do The animals), que trouxe Hendrix para a Inglaterra.
As filmagens das apresentações nos mostram um instrumentista inovando completamente canções de outros artistas. Pode ser que seja a falsa impressão de alguém leigo em instrumentos, mas a genialidade de Hendrix se revela com maior evidência justamente nas versões cover do documentário. “Wild Thing”, uma canção da banda de garagem do anos 1960 The Troggs, se transforma completamente, repleta de fúria, que culmina com a queima de sua guitarra no hoje lendário festival de Monterey. “Johnny B. Gode”,de        Chuck Berry tem a sua levada Rockabilly bastante modificada, fica muito mais acelerada, mas ainda assim ele consegue preservar a essência da música. Mas o artista que Hendrix melhor conseguiu traduzir para seu universo foi Bob Dylan. As versões de “Like a rolling Stone” e “All along the watchtower” ganham novos arranjos (obviamente ele precisava adaptar a levada folk dessas músicas para a sua guitarra cheia de distorção), mas é brilhante a forma  como ele consegue harmonizar estilos de música diferentes entre si.
Dizer que Hendrix é o maior de todos os tempos é fácil (afinal, desde que comecei a gostar de rock/pop ouço isso). Mas descobrir o porquê disso leva tempo. Tive uma percepção maior ainda no último final de semana pois ouvi de muitos amigos meus a seguinte frase: “Gosto de Hendrix, mas não há nenhum disco dele que eu ache absurdamente bom”. Não o considero o maior guitarrista de todos os tempos, pois para mim, existiram guitarristas cujas músicas me emocionam mais e discos que são mais importantes do que os dele, mas a importância dos 3 discos gravados com o Experience deixaram marcas indeléveis no rock n´roll e influenciaram e influenciam guitarristas até hoje.

P.s: Esse documentário é no mínimo curioso pois não se sabe que dirigiu!Só aparecem os nomes dos produtores.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

The Walking Dead - por Bruno Vitorino

Paul McCartney

No dia 21 de dezembro deste ano, o Recife será tomado pelos zumbis! A “Zombie Walk Recife” – em sua 5ª edição – reunirá centenas de entusiastas de filmes de horror fantasiados de mortos-vivos promovendo um verdadeiro apocalipse zumbi na cidade. Contudo, quem não conseguir esperar e quiser participar de uma prévia cuja temática seja os errantes putrefatos que vagam ao léu em busca de carne fresca onde lhes for possível encontrar terá ótimas oportunidades. De hoje até o próximo domingo, moribundos vindos diretamente das tumbas do mundo pop irão mostrar seus rostos carcomidos na capital pernambucana: Chico Buarque, Los Hermanos e Paul McCartney.

Exatamente, meu leitor imaginário, você não me entendeu errado. Eu afirmei que o poeta redentor dos olhos azuis, os quatro prodígios barbudos do pop nacional e o cavaleiro místico do reino encantado do rock estão mortos! Afirmo categoricamente e peço que me perdoe o atrevimento de não repetir discursos prontos, diluídos em papinha e postos à venda (a preços elevados) para o consumo dos indivíduos que se julgam acima da média intelectual de seus semelhantes. Gostaria também de previamente esclarecer que não busco me colocar como o “do contra” e sim como o arauto da dúvida, porque se a inércia abençoa a ignorância, a incerteza liberta o pensamento. Portanto, sigamos!

O primeiro baile zumbi acontecerá hoje no Teatro Guararapes e se estenderá por quatro dias consecutivos numa farra dionisíaca. O preço da entrada é caro – em média R$ 240,00 – por isso só os escolhidos presenciarão. No palco, Chico Buarque de Holanda, um músico/poeta falecido nos anos 1980, que soube, porém, construir ao redor de sua carcaça artística uma aura messiânica que o colocou acima de tudo – da música em si ao olhar crítico – e que vem se aproveitando dessa redoma cristalina para devorar não a carne (talvez o cérebro), mas o dinheiro dos devotos os quais se entregam em sacrifício inebriados pela ilusão do triunfo da arte numa liturgia macabra de provação intelectual. Música conservada em formol, vendida como nova. Popular no campo das idéias, porém, na prática, destinada ao consumo de intelectualóides endinheirados. Falei sobre todo esse rito num post anterior aqui no Variações para 4.

Outro aguardado evento temático acontecerá amanhã no Chevrolet Hall: a apresentação do grupo Los Hermanos no Abril Pro Rock na nova (?) turnê em comemoração aos seus 15 anos de carreira. Assassinado friamente por seus próprios criadores em 2007, o quarteto carioca volta do mundo dos mortos para apresentar sua enfadonha mesmice ao público recifense. E quando digo “mesmice”, meu caro leitor, refiro-me à falta de criatividade e ousadia artística dessa promissora banda que há cinco anos anda cambaleante a requentar seu repertório e não escreve uma nova melodia sequer. Ao contrário, acostumou-se a convenientemente se levantar do túmulo quando seus integrantes precisam de dinheiro para tocar adiante seus inexpressivos projetos pessoais. Para que se dar ao trabalho de criar se existe uma legião de fanáticos que se deixam abocanhar de maneira tão delirante? Melhor relançar em vinil toda a sua discografia e se cercar de um robusto aparato midiático para dar ares de relíquia sagrada a mais uma sacada mercadológica.

Por fim, aquele que morreu em 10 de abril de 1970 ao anunciar publicamente o fim da mais relevante (note que não uso o predicativo “melhor”) banda de rock da história... O mais bem sucedido morto-vivo da atualidade: Sir Paul McCartney! Com a passagem pelo Recife da turnê “On the Run” nos próximos sábado e domingo, o músico inglês proporcionará ao público pernambucano o maior flash mob zumbi já visto por estas terras. A estrutura é gigantesca: 800 toneladas de equipamento de última geração, 200 profissionais trabalhando na montagem e produção do evento, mais de 40 técnicos e um palco que terá 70 metros de largura e 26 metros de altura. Pirotecnia tecnológica feita para deslumbrar. Somam-se a isso duas qualidades de Sir Paul indispensáveis à sedução da platéia brasileira ávida por atenção: simpatia e interatividade. Fez até um teaser convocando o rebanho a ser devorado, quer dizer, o público, para ir ao estádio do Arruda assistir ao concerto garantindo-lhe vultosas descargas de adrenalina. Mas a pergunta que paira no ar é: e a música?! Bem... Será a mesma que McCartney vem tocando e vendendo em conserva ao redor do globo há 42 anos! Levando em consideração que sua produção musical pós-Beatles oscila entre o regular e o medíocre, o foco do show será obviamente os hits do Fab Four. “Sempre mais do mesmo. Não era isso que você queria ouvir?”

Não se espante, meu leitor! Ainda sou senhor de minhas faculdades mentais e tenho plena consciência de que “os homens não querem ser perturbados em suas lendas e não gostam que lhes mudem sua verdade”. A certeza alicia o indivíduo para depois aprisioná-lo numa zona de conforto. Por isso, ouso não me curvar de modo complacente em veneração à carniça de certas divindades artísticas sem antes me questionar do porquê de minha reverência. O passado está para ser lido e interpretado, não para nos amarrar ao saudosismo do hipotético Éden cultural. A música é viva, meu caro, e tem de seguir adiante!

terça-feira, 17 de abril de 2012

O dedilhado esquecido de Hélio Delmiro - por Dom Angelo




O Brasil tem uma das escolas de violão e guitarra mais respeitadas do mundo. Uma fusão de vários estilos, técnicas e timbres nos trouxeram um time de músicos onde a singularidade interpretativa dos mesmos colocou-nos nas décadas de 60, 70 e 80 entre um dos terrenos mais férteis da música contemporânea de qualidade.
Porém uma triste realidade aflora o nosso sistema de mecanismo cultural: o esquecimento do público e/ou a falta de “manutenção social” de grandes instituições públicas e privadas de cidadãos notáveis que contribuiram para o engradecimento de nossa arte.
Hélio Delmiro é guitarrista, violonista e um dos maiores nomes da música instrumental brasileira de todos os tempos. Sendo um dos artistas que mais alcançou respeito no cenário internacional musical, trabalhando em parceria com mitos de primeira grandeza do Jazz, e no cenário nacional da Bossa-nova e Mpb. No ano de 1978 foi considerado um dos 5 maiores guitarristas de jazz do mundo pela revista Downbeat¹ (talvez a mais respeitada revista periódica de jazz) e participou de álbuns memoráveis da música de qualidade de nosso país.
Alguns dizem que Delmiro perdeu sua credibilidade e escrúpulos ao se tornar pastor evangélico. Mas o fato é que por motivos pessoais ou não, este artista tem brilhado mais nos livros de história ou pesquisas acadêmicas do que nos rádios e "fones-de-ouvido" pelo Brasil afora.
Apenas alguns nomes que Delmiro trabalhou: Elis, Tom, Chico, Djavan, Milton, Ivan Lins, João Bosco, nos nacionais e Sarah Vaughan, Joe Pass, Larry Carlton, Gato Barbieri, Larry Couryel, John Patitucci, nos internacionais.
Delmiro tem 7 discos de carreira solo e também se destacou na área acadêmica fazendo parte do corpo docente do primeiro curso de bacharelado em violão do Brasil, fundado em 1972 pela Faculdade de Música Augusta Souza França. Também lecionou na Universidade Federal de Uberlândia, onde se aposentou em 1999².
Seu primeiro disco solo, intitulado Emotiva e datado de 1980, reúne peças dos estilos musicais de domíno do autor como jazz, bossa-nova e choro, influenciando uma gama de músicos profissionais e amadores a se manterem interpretando standards em suas discografias oficiais. No caso, Delmiro interpreta neste disco Epistrophy³ e Body and Soul.
Participou do primeiro Free Jazz Festival em 1985 e tocou com Elis Regina no Montreux Jazz Festival de 1979.

Vale a pena conferir os discos de sua carreira solo!

Para fazer download deles, acesse o site: www.umquetenha.org

Abraço a todos!


¹ Segundo auto-biografia do músico cedida a Bruno Rosas Mangueira.

² Mangueira, Bruno Rosas. Concepções estilísticas de Hélio Delmiro : violão e guitarra na música instrumental brasileira / Bruno Rosas Mangueira. -- Campinas, SP : [s.n.], 2006.

³ Música de Thelonious Monk e Kenny Clarke.

domingo, 15 de abril de 2012

Lollapalooza – "Um festival de contradições" - Gilberto da Costa Carvalho




No último final de semana, estive no Festival Lollapalooza em São Paulo. Foi a primeira vez que o renomado festival norte-americano aportou por terras tupiniquins. Nossa grande expectativa, sem sombra de dúvidas, era presenciar a performance avassaladora da maior banda de rock n´roll da atualidade. Obviamente que estou falando do Foo Fighters, banda liderada por Dave Grohl.
Entretatanto, o que roubou a cena, foram outras coisas bastante desagradáveis. Antes de citá-las, tenho que confessar uma coisa. Eu só fui para o festival para assistir ao show do Foo Fighters. Nenhuma outra banda do set do primeiro dia me interessava. Passo então a citar o que ocorreu no primeiro dia:

1 - Relatos de várias pessoas que estiveram presentes, confirmam as filas astronômicas para acesso a Chácara do Jockey Club de SP. Mesmo com 6 entradas ao redor do local escolhido (que é imenso diga-se de passagem). Tanto que, muitos chamaram carinhosamente o evento de "Filapalooza"!

2 - Apesar do espaço ser muito grande, não havia proteção alguma contra o sol. E o "astro-rei" reinou muito forte em SP neste final de semana. Resultado, pessoas passando mal e, um pouco mais tarde, quando aportei no festival, percebi vários indivíduos com o "lombo torrado".

3 - O maior absurdo do festival vivenciamos na parte interna. Começaram as contradições por lá. Primeiro você tinha que passar cerca de 40 minutos (baseado por mim) numa fila para colocar uma pulseirinha para provar que era maior de 18 anos para poder consumir cerveja. Mas, o festival era para maiores de 18 anos, e os tais "menores de idade" só podiam entrar acompanhados de maiores de idade. Após a pulseirinha no braço, o purgatório aumentava de proporções na "fila" das fichinhas de cerveja. Você pagar R$360,00 num ingresso para passar mais 1 hora noutra fila para pegar o "acesso-cerva". Eu falei - "acesso-cerva", porque ainda tinha mais uma fila para pegar a cerveja. Nesta, a bagunça reinava. Pessoas se amontoando e derrubando cerveja em cima das outras que estavam no aguardo atrás, uma zorra! Para resumir, meu saldo foi de 1 cerveja tomada no festival.

4 - Por outro lado, fiquei até satisfeito em só ter tomado esta única cerveja. Tal fato, me livrou da peregrinação de achar um banheiro no espaço do festival. Em noções de distância, digamos que você teria que andar quase 1 km, para ter acesso ao "complexo dos banheiros". O que mais me impressinou foi a não separação dos banheiros químicos femininos e masculinos. Todos se amontoavam uns aos lados os outros, com travas de portas quebradas e, principalmente, a falta de educação que acham "tão normal" e "tão legal" do brasileiro. Homens entrando nos banheiros das mulheres, gritos das moças porque as portas eram abertas e elas não podiam efetuar a "troca de óleo" em paz. Lamentável mesmo!

5 - O salto será maior agora. O relógio apontava 23:00 quando a primeira noite do festival teve fim. Eu e o os amigos que me acompanhavam, resolvemos sair pela mesma entrada que acessamos a Chácara do Jockey, afinal, estávamos em outra cidade e é melhor voltar por onde ao menos já passamos. O primeiro "aperto" ocorreu porque o acesso pela lateral do casarão foi fechado e tivemos que subir uma escada grande e de degraus pequenos, acompanhados de uma multidão de 75.000 pessoas loucas para ir para casa. Nada complicado perto do que ainda iríamos passar nesta noite. Ao conseguirmos acessar a rua, bateu aquela sensação de tranquilidade. Fomos andando até a Estação do Butantã para pegarmos o metrô e irmos para o hotel. Meus caros, foi aí que o bicho pegou! A administração dos metrôs de SP são diferentes por cada estação. Afirmo com veemência que não tivemos sorte e que os envolvidos na operação não sabem absolutamente nada de administração de público. A porta central da Estação foi fechada. Isto mesmo! Fechada! Sobrou para a multidão dois acessos e mais 1 hora e 40 minutos se amontoando e espremendo para tentar acessar a estação. As pessoas que não haviam comprado o ticket com antecedência devem ter voltado a pés para casa. Outro fato lamentável que tenho que ressaltar, é mais voltado para a educação. Imagine você tendo acesso a uma estação completamente lotada, com pessoas se amontoando e espremendo, e uma pessoa começa a gritar que está passando mal só para perturbar o ambiente, ou para tentar lograr os outros que também sofriam no meio da multidão. A resposta veio por intermédio de um amigo que me acompanhava e depois por mim. Começamos a rebater e a xingar a "mocinha". Até a mesma perceber que a atitude que ela estava tomando era ridícula e poderia gerar o caos súbito no meio de uma multidão. Embora, a multidão de São Paulo seja passiva demais. Afirmo isto, porque tal atitude deveria ter sido vaiada pelas pessoas, em forma de um "se ligue". Mas, em SP, é cada um na sua. 

Informo que consegui chegar vivo ao Hotel, depois de quase 3 horas de agonia e quase sem conseguir pisar no chão. Mais um relato lamentável sobre shows em SP aqui no blog.

Enfim...a música.

Ainda no hotel, assisti ao show do Cage the Elephant. Esta banda era citada como uma das possíveis surpresas do festival. Simplesmente medíocre! 

Durante toda esta peregrinação citada pude observar ao show da banda TV on The Radio. Também bastante elogiada por críticos musicais. Honestamente, me pareceu, uma tentativa muito mal sucedida de reinvenção do Living Colour com toques alternativos. Sem falar na falta de carisma extrema destas bandas. Não só as do festival, mas do cenário musical atual em geral.

É daí que surgem as explicações para o "fenômeno" Foo Fighters. Num cenário musical tomado por chatos, emos, seres estranhos e chorões, aparece Dave Grohl. Um cara gente boa, disposto, com a postura "rocker"  e mais uns amigos que gostam de tocar. Juntar amigos que gostam de tocar é a cara do rock n´roll. Analisando friamente, o Foo Fighters é uma banda que mistura elementos punks, rock de arena e algumas pitadas de heavy-metal. Em comparação com bandas clássicas, não passaria de uma banda mediana. E porque afirmo isto? Os caras tem 18 anos de formação e dois discos clássicos - The colour and the shape (1997) e o excelente Wasting Light, lançado em 2011 e pedra fundamental desta turnê. É pouco, se compararmos, mas, no cenário atual eles sobram! E sobram justamente no que pude presenciar no Lollapalooza. Uma performance avassaladora e destruidora ao vivo!  Isto ganha público, é fato. E, se formos analisar o cenário musical atual, eu afirmo com veemência:

"AINDA BEM QUE EXISTE O FOO FIGHTERS!"

Segue a abertura do show - All my life






quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Lirismo Abstrato de Masabumi Kikuchi - por Bruno Vitorino



Masabumi Kikuchi
No início do século XX, Arnold Schoenberg proclamava a alunos fascinados com sua complexidade que a composição nada mais era do que improvisação escrita e estruturada. Cinquenta anos depois, os vanguardistas do jazz ligados a Association for the Advancement of Creative Musicians – Roscoe Mitchell, Anthony Braxton, Muhal Richard Abrams – tentavam refutar acusações de leviandade estética e gratuidade sonora assegurando que improvisação era composição instantânea, ou seja, defendiam que sua música era devidamente organizada e cognoscível. Os extremos se tocam! Atento a essas perspectivas opostas e atreladas de modo indissociável, o pianista Masabumi Kikuchi se lança em direção ao desconhecido no seu recém-lançado álbum “Sunrise”.
Nascido em Quioto em outubro de 1939, Poo, como também é conhecido, iniciou seus estudos musicais na Escola de Arte de Tóquio, passou brevemente pela Berklee College of Music – dois semestres – e entre idas e vindas ao Japão nos anos 1960 e 70, experimentou do hard bop à novidade elétrica chamada jazz fusion com influências que abarcavam de Duke Ellington a Toru Takemitsu, passando por Paul Bley. Atuou como líder e sideman: montou um sexteto no Japão com o qual gravou sete aclamados discos (todos fora de catálogo atualmente); tocou com Sonny Rollins, Joe Henderson, Mal Waldron, Elvin Jones e estabeleceu sólidas parcerias com Gary Peacock e Paul Motian no trio Tethered Moon, Gil Evans, Steve Grossman e até Miles Davis com quem gravou dois álbuns em 1978 até hoje não lançados. Virou lenda em seu país, mas preferiu se estabelecer em Nova Iorque, para se “libertar de tudo”, segundo ele mesmo costuma dizer.
Gravado em 2009, “Sunrise” preenche uma lacuna de quase dez anos sem um trabalho em seu nome e é também seu debute na companhia alemã ECM Records. Para tal projeto, Kikuchi convidou o veterano baterista Paul Motian (sua penúltima sessão em vida) e jovem baixista Thomas Morgan. Unindo as extremidades das premissas “composição enquanto improvisação” e “improvisação enquanto composição”, o pianista e seu trio entram num novo território que perpassa paisagens estranhas e incomuns, porém impregnadas de uma beleza imprecisa. São dez composições coletivas que emergem da livre improvisação/composição tocadas além da necessidade exibicionista da técnica e que buscam explorar as mais recônditas nuances do fazer música. Em certos momentos, o trio beira o abismo do vazio, como um pintor que realça a tela em branco ou um orador que aposta no silêncio, para depois despejar sobre o ouvinte uma torrente de cores e uma profusão de sensibilidade.

Um frágil acorde é ouvido – um F6 – seguido por um leve ataque no prato e por um singelo mi agudo no contrabaixo. A composição vai se desenvolvendo em “molto rubato”, flutuando calmamente pela progressão harmônica que vai sendo desenhada no ato: “Ballad 1”. De chofre, o ouvinte percebe a comunicação telepática entre os instrumentistas. Nada foi previamente escrito, assim a música ganha uma força tremenda, pois não é fácil partir do zero em direção ao éter. É necessária muita cumplicidade entre os envolvidos no processo. Morgan pontua reticente, escutando a sucessão de acordes enquanto Motian pincela o ritmo e Kikuchi determina o rumo a ser seguido pelo combo.

Kikuchi, Morgan e Motian
Em “So What Variations”, o trio leva o conceito de variação às últimas consequências explodindo num arroubo de fúria aquilo que seria o ré dórico característico do tema So What de Miles Davis. Já em “Sunrise”, a maneira com Motian cria as mais diversas ambiências rítmicas é de tirar o fôlego. Provavelmente nenhum baterista conseguiu ser tão independente em relação ao pulso sem, contudo, perdê-lo de vista. Talvez “Uptempo” seja a faixa mais tradicional de todo o set com sua ideia sublimada de swing em 4/4. Para finalizar o disco, Kikuchi novamente expõe sua delicadeza melódica e sua densidade harmônica na instável “Last Ballad”.

No mini-documentário “Out of Bounds” (segue logo após esse parágrafo) de Thomas Haley, Poo declara que sua música não é aleatória. “Eu sempre sigo meus instintos, sabe? Sinto o que está acontecendo enquanto toco e antevejo o próximo passo.” E que ela é mais significativa agora do jamais fora, porque lhe é possível a liberdade da escolha. “Eu posso ir a qualquer lugar, porque eu comecei a confiar em mim mesmo”. Para Kikuchi, o desprendimento em relação a objetivos e metas preconcebidas lhe proporciona o impulso necessário para que se lance na busca por caminhos mais seus. “Eu tenho que me estabelecer. Eu não quero fazer parte da história dos outros. Eu quero fazer uma música que eu possa chamar de minha.”


Numa carta endereçada a Kandinski, Schoenberg escreveu que “a arte pertence ao inconsciente! O artista deve expressar a si mesmo! Expressar a si mesmo diretamente! Não seu gosto, sua educação, inteligência, conhecimento ou habilidade”. Com “Sunrise”, Masabumi Kikuchi se expõe por inteiro. Negando a banalidade do falso virtuosismo, o pianista encontra seu modo de se afirmar no mundo. Sem dúvida, uma pedra preciosa que irradia seu brilho em meio ao entulho da futilidade contemporânea!

domingo, 1 de abril de 2012

Pérola do Esquecimento - Gilberto da Costa Carvalho



Foi com imensa tristeza que recebi a notícia do falecimento do sambista baiano Ederaldo Gentil. Havia alguns anos que o mesmo estava afastado por conta de uma depressão. Recordo, como se fosse hoje, quando Ernesto Favela do Trio Pouca Chinfra me apresentou a esta jóia da música nacional. A primeira impressão que tive, ao ouvir "O ouro e a madeira", foi de uma composição existencialista como poucas.
Ederaldo era um compositor de riqueza poética como poucos na Bahia. Seus primeiros passos foram no Largo Dois de Julho nos antigos carnavais de avenida. Depois ficou interligado aos grandes blocos como Os Apaches do Tororó e a Escola de Samba Filhos do Tororó.
Um fato histórico de sua carreira, ocorreu no ano de 1970, quando nove das dez escolas de samba de Salvador, desfilaram com sambas de sua autoria. Ederaldo já mostrava a que vinha.
O que mais impressiona,é que o referido sambista, teve seu último disco oficial gravado em 1983.  Apenas em 1999, Companhia Petroquímica do Nordeste - COPENE, apoiou seu amigo Edil Pacheco a lançar o disco intitulado "Pérolas Finas", com nomes da MPB cantando canções de Ederaldo.
Fico triste pela perda e muito mais triste com aqueles que esquecem de compositores do quilate de Ederaldo Gentil. Sem sombra de dúvidas, ele foi mais uma vítima da doença chamada Axé.


Aproveito a oportunidade para agradecer ao amigo Júlio Rangel por ter me comunicado.