domingo, 8 de novembro de 2015

Playlist de Editores: Novembro/2015


Estreamos a coluna “Playlist de Editores” com o intuito de compartilhar com os nossos leitores discos, novos e “das antigas”, que estamos escutando no momento. Assim, cada um dos editores do Variações para 4 apresentará um álbum acompanhado de um breve comentário trazendo o porquê de sua escuta.

Boa audição!



- Bruno Vitorino:




A Música Popular Brasileira tem uma série de pérolas que só vim descobrir há pouco. “Orós”, quarto disco de Raimundo Fagner, é uma destas preciosidades. Lançado em 1977 pelo solo estadunidense “CBS” (Columbia Broadcast System), o disco é o momento mais sublime da carreira de Fagner, tanto no quesito poesia quanto no viés interpretativo. Além disso, a direção musical fica por conta de ninguém menos do que Hermeto Pascoal, e seu grupo é a banda de apoio. O resultado é um disco que consegue, passando a anos-luz do clichê, criar um sertão idílico, de poesia rara e profunda alicerçada por uma música que extrapola os limites regionalistas da tradição para lançar-se aos terrenos da vanguarda. Destaque para o fantástico de Cinza, o lirismo sertanejo de Flor da Paisagem e a construção primorosa de Cebola Cortada. Um disco absolutamente obrigatório.



- Rógeres Bessoni:



Neste momento, estou voltando a ouvir um obra que me marcou profundamente nos últimos 10 anos. Trata-se do álbum “Flamenco Árabe”, parceria realizada em 2003 entre dois “monstros”: o músico egípcio Hossam Ramzy e o guitarrista de flamenco nascido em Berlin Rafa el Tachuela. A obra é uma fusão intensa e bela da poderosa música árabe do norte da África com o cortante e melódico flamenco (parentes próximos, diga-se de passagem). Aí estão registrados de forma primorosa momentos de profunda introspecção, como que esperando o chamado para a oração do fim da tarde na mesquita, trechos intensos que remontam às cavalgadas no deserto, dança do ventre e andanças pela Rota da Seda. Chamo a atenção para Al Quantara, Ahlam Ghernatah e Kebreiaa Samet, sonoridades encantadoras e profundas que me remetem até aos voos místicos sufis.



- André Maranhão:



Não só “estou ouvindo”, como “ouço sempre”, o disco “Modo Livre”, de Ivan Lins. Lançado em 1974, esse trabalho me agrada bastante porque além de canções bem construídas e com letras assinadas por grandes mestres (Vítor Martins, Paulo César Pinheiro, Caetano Veloso, dentre outros), o percurso de harmonia desenvolvido pela musicalidade de Ivan é algo que me atrai e, diga-se de passagem, recurso fundamental que o tornou um dos emepebistas mais férteis para diálogar com uma estética jazzística.

Se pensarmos que o disco é contemporâneo à transição dos governos Médici-Geisel, veremos que em canções como O Rei do Carnaval (cujo “povo é o rei primeiro” – a despeito da triste época ditada pelo “rei guerreiro”); ou no verso por demais carregado de força “Encosta essa porta que a nossa conversa não pode vazar”, há uma clara dimensão de protesto. Além disso, destaco a importância de um Ivan Lins capaz de combinar as cadências de seus sambas existenciais / vitalistas com sua bela assinatura ao piano, brindadas com a famosíssima Deixa Eu Dizer (mais tarde regravada por Cláudya e Marcelo D2); Avarandado, Chega e o pot-pourri General da Banda / A Fonte Secou / Recordar é Viver.



- Giba Carvalho:



O disco que estou ouvindo no momento é “Mano a Mano”. Trata-se de uma apresentação ocorrida na Plaza de Toros de Madrid em 1993. O trabalho é um compilado de 24 sucessos destes dois ícones da música latino-americana. Aute é nascido nas Filipinas e Rodriguez em Cuba. Mesmo sendo um álbum no formato “ao vivo”, indico a audição principalmente pela riqueza das melodias e pela importância histórica destes compositores para a cultura de seus países. Verdadeiras aulas de canções e letras bem escritas.

Indico – Anda, De Alguna Manera, La Maza, El Necio e Ojala.



- Fernando Lucchesi:         



Se você, caro leitor, assim como eu, conheceu o som do Faith No More no início dos anos 1990, quando a MTV rodava incessantemente os clips de Epic e Falling to Pieces (duas excelentes músicas pop, diga-se de passagem), certamente irá se surpreender com “Sol Invictus”. Primeiramente, esqueça aquela mistura de funk, rap e metal que tornou a banda mundialmente famosa. É bem verdade que a banda continua soando muito pesada, mas dessa vez está mais encorpada, com acompanhamento de piano e vocais bem trabalhados.

Mike Patton, em diversas das músicas soa como um verdadeiro profeta do apocalipse, como em Separation Anxiety, Cone of Shame e Superhero. Mike Bordin continua castigando impiedosamente a bateria e a guitarra intensa e sombria Jon Hudson dá o tom da maior parte das faixas do disco. Isso não significa que a banda esteja preocupada somente em soar pesado o tempo todo. Há espaço no disco para músicas de sonoridade mais pop e ainda assim muito bem sucedidas como The Rise of the Fall (com uma sutil levada de reggae no início da música), Sunny Side Up” e Black Friday.

Mas o que realmente chama atenção são as músicas com acompanhamento de piano. A faixa-título do álbum é uma amostra disso. Uma breve introdução sem guitarras, apenas com bateria, piano e baixo progredindo harmonicamente. Além dela, a belíssima Matador mostra o piano contrabalançando com o peso das guitarras. Um disco extremamente bem feito e uma banda em perfeita sintonia. Certamente um dos melhores discos de 2015.