domingo, 28 de abril de 2013

Variações em 5/4: Get Up!


Na edição de abril da coluna “Variações em 5/4”, os nossos editores comentam “Get Up”, o mais novo disco de Ben Harper.


- Fernando Lucchesi:

Desde a grata surpresa que foi “The Will to live” de 1997 que não acompanhava a carreira de Ben Harper. A não ser por sucessos radiofônicos pontuais, realmente não sabia o que estava sendo produzido por ele.

Quando surgiu a sugestão de comentar esse recente disco “Get up!” feito em parceria com o bluesman Charles Musselwhite não sabia o que esperar. Sequer sabia quem era Charles Musselwhite. Eis que na audição da primeira música do disco (Don´t look twice) imaginei algo como uma homenagem conservadora/convencional ao gênero blues, ou seja, nada de novo. Só fui perceber que estava diante de um GRANDE disco (não apenas de blues, mas de música negra americana em geral) ao ouvi-lo em sua totalidade. Harper e Musselwhite propõem uma viagem através do século XX mostrando o quanto o blues se modificou e deu origem a novas formas de apreciá-lo sem perder sua essência.

Estão presentes no disco vertentes variadas do blues, como o do Mississippi (Don´t look twice, All that matters now) e o de Chicago (I´m in, I´m out and I´m gone). Mas, essas faixas, apesar da excelência, são homenagens reverentes ao estilo. O que torna o disco curioso, pra dizer o mínimo, é a amálgama de estilos criados a partir do blues. Temos o blues influenciando o gospel (We can´t end this way), o blues hendrixano (I don´t belive a word you say - a referência a Hendrix é tão explícita nessa faixa, que o vocal tenta imitá-lo sem pudores, o blues como pedra fundamental do rock n´roll (She got kick, com o riff calcado em Dizzy Miss Lizzy na versão do Beatles) e ainda o recentíssimo stoner rock (Blood side out, pra confirmar isso basta ouvir algumas músicas do Queens of the Stone Age do Songs for the Deaf).

As faixas de abertura e de encerramento não podiam ser mais apropriadas. Ambas exaltam o 
blues em sua origem nos informando que o blues é cíclico e inescapável em qualquer gênero musical oriundo da cultura negra americana. Certamente um dos grandes discos do ano!

- Giba Carvalho:      

Confesso estar longe de ser um conhecedor dos trabalhos de Ben Harper. Longe disso! No entanto, ao ouvir Get Up!, algo chamou minha atenção. O disco é uma viagem sonora por tudo de melhor que o blues pode vir a proporcionar. Lembrando passagens pelo Delta-Blues até sonoridades parecidas com as que Hendrix tirava em seus blues. Algo de muita relevância são os momentos violão – gaita. Memórias de John Lee Hooker são trazidas à tona na minha mente, com seu violão e a marcação de passos feita pelo pé direito. E nada deste trabalho teria o brilho que tem, sem a participação de Charles Musselwhite. A gaita do mestre sempre pontual nos arranjos nos remete a algo de semelhante ao que Little Walter fazia em suas composições.


O trabalho é totalmente diferente do “folk-rock-surfista” que consagrou Harper no meio musical. É um disco totalmente atemporal e isto é simplesmente maravilhoso nos dias atuais. É uma viagem histórica a toda base do rock n´roll. De fato, uma das melhores surpresas do ano até o momento.

- Dom Angelo:

Entre os artistas do mainstream da música norte-americana, talvez Ben Harper seja um dos poucos que ainda bebem na fonte da cultura afro-descendente. Constando 14 álbuns em sua discografia oficial¹, o músico sempre manteve boa qualidade em seus trabalhos que flertam com os estilos folk, blues, reggae, rock e pop.
 
Este novo trabalho em parceria com o bluesman Charlie Musselwhite (que fez fama a partir dos finais da década de 1960) acrescenta pontos positivos em sua carreira. Fortes traços do blues de raíz (originados pela influência das work song, shoutings, spirituals e da música gospel) tornam-se presentes em quase todas as 10 faixas deste álbum. Excelentes timbres de guitarra (elétricas e acústicas) juntamente com fraseados poderosos na harmónica do Musselwhite agregam neste disco a força e o requinte necessário para angariar prêmios ao longo do ano.

Recomendo a audição do mesmo em viagens de trem.

- Bruno Vitorino:

Ben Harper é um paradoxo. Ele é um artista que se consagrou no mainstream da música pop, assumindo, contudo, uma postura, digamos, anti-pop. Desde The Three of Us, primeira faixa de seu primeiro disco, o interessantíssimo Welcome to the Cruel Word, o californiano evidencia seu conhecimento vasto da música de raiz negra estadunidense e sua ligação profunda com essa matriz, fugindo da conveniência mercadológica da “tendência” e não abrindo mão de um milímetro sequer de suas convicções artísticas. Gosto dessa postura, porque a integridade é algo em extinção no establishment cultural de nossos dias.

Utilizando a superestrutura da indústria cultural em seu favor, Ben Harper aproveita a fama angariada para lançar as luzes dos holofotes da mídia em nomes que jazem obscuras ao grande público. Ele fez isso no belíssimo There Will be a Light, o registro de seu encontro com The Blind Boys of Alabama focado no gospel e no spiritual e o faz novamente ao retirar das sombras a lenda branca da harmônica Charlie Musselwhite no recém-lançado Get Up!.

O blues com suas variações regionais é o núcleo de todo esse trabalho produzido pelo próprio Ben Harper num projeto que apresenta um abrangente panorama musicológico-emotivo de um dos pilares formatadores da música popular dos Estados Unidos. Do início ao fim, o álbum prima pelo esmero instrumental nas bases, nos solos - notadamente de steel guitar e gaita – e na interpretação vocal das letras que vão da súplica gospel de We can’t and This Way à rebeldia fora da lei de Get Up!.

Diria que é um disco à moda antiga não só pela abordagem musical em si, mas por se apresentar ao ouvinte como um todo coeso e interligado que requer um olhar atento à beleza das formas e à sutileza dos pormenores. Um disco para ouvir e reouvir. Altamente recomendado!

- André Maranhão:

A parceria entre Ben Harper e Charlie Musselwhite veio na medida certa para quem admira o cruzamento do Blues acústico com o elétrico. A junção do violão com a gaita – considerada uma das formas mais antigas entre os bluesmen da América do Norte – foi habilmente explorada no álbum Get Up!, a ponto da primeira faixa (Don’t Look Twice) empolgar logo de cara com este recurso. Daí em diante, o disco se mostra como um fértil revezamento entre as distorções dos drives, dobros e slides com madeiras e metais. Na sequência, I'm In I'm Out And I'm Gone, reporta àquelas trilhas sonoras de bares hollywoodianos, enquanto We Can't End This Way casa a espinha dorsal do Blues com os backing vocals dos cânticos gospel. O disco todo é um trabalho relevante para o Blues, mas além das canções supracitadas, recomendo especialmente You Found Another Lover e a homônima Get Up!
 

¹ Segundo site oficial do artista em http://www.benharper.com/music/albums

domingo, 21 de abril de 2013

Tempestade e Ímpeto: A Música de Charles Mingus – Por Bruno Vitorino


Charles Mingus

É muito fácil ser um gênio musical hoje em dia. Num mundo onde os artistas são celebridades, esse termo foi tão devassado a ponto de perder seu significado ligado à criação artística propriamente dita e se reduzir a uma espécie de selo de qualidade da indústria cultural. Sob essa ótica, ao músico não é mais imprescindível o domínio dos recursos técnicos, nem a ruptura das normas estéticas estabelecidas e muito menos uma profusão criativa inesgotável para se adentrar na galeria dos ungidos pela providência. Na verdade, o fundamental é que esse indivíduo concilie uma domesticada postura iconoclasta a uma boa rede de contatos (produção executiva, assessoria de imprensa e networking baseado na “rasgação de seda” gratuita) e que sua “arte” remeta o grande público a certa sofisticação intelectual de grife. Pronto! Em pouco tempo, esse empreendedor – não consigo visualizar de outra forma – se consagrará o mais novo gênio a promover a última grande revolução no mundo da arte. Lucro garantido!

No entanto, a concepção de gênio vem do século XVIII com o ideal romântico alemão do movimento “Tempestade e Ímpeto” (Sturm und Drang). Em contraponto ao apuro formal do Classicismo e ao desenfreado racionalismo iluminista, o Romantismo apontava para a criação espiritual que, nascida da imaginação humana, emprestava significação nova à Natureza, enaltecendo, com isso, o caráter insondável e mítico da arte. Assim, tendo como ponto de partida o material bruto da realidade, o autêntico gênio era aquele artista que, num vórtice criativo irrefreável, superava o esmero do talento e se consumia por inteiro na intensa tarefa de criar um mundo subjetivo repleto de expressão passional que falasse às múltiplas forças que constituem o todo do Homem. E é justamente nesse sentido do termo que repousa a genialidade de Charles Mingus.

Uma das figuras mais controversas do jazz, Mingus teve uma carreira de mais de 40 anos marcada por uma imaginação criativa inesgotável, oscilações drásticas de temperamento e dificuldades financeiras desesperadoras. Nascido numa base militar em Nogales, Arizona, em 22 de abril de 1922, mudou-se para Watts, um bairro proletário negro ao sul de Los Angeles (LA), onde fincou suas bases. Iniciou seus estudos no trombone aos 6 anos, mas logo o trocou pelo violoncelo por conta de suas pretensões na música erudita. Esmagado pelo preconceito racial que pairava sobre o ambiente das orquestras, ouviu certa vez de seu amigo, o saxofonista Buddy Collete: “Você é negro. Nunca vai vencer na música clássica, por melhor que seja. Se quer tocar, tem de tocar um instrumento negro. Não pode dar socos num violoncelo, então tem de aprender a dar socos no baixo, Charlie” [i]. No outro dia, foi ao centro de LA e trocou seu cello por um contrabaixo alemão. Nascia o prodígio.

Como um autêntico gênio romântico, Mingus costumava dizer que seu virtuosismo instrumental era fruto de muito esforço, mas que sua facilidade para composição lhe havia sido concedida por Deus. Fundindo com um brilhantismo ímpar as mais profundas raízes folclóricas (gospel, blues e ragtime) ao radicalismo vanguardista (bebop, jazz avant-garde e música européia contemporânea), o compositor expunha em seus temas sua visão de mundo. Neles podem ser encontrados seu ativismo político em prol dos movimentos civis negros, reminiscências de sua juventude dura, sua necessidade de amar, e, principalmente, a fragilidade emotiva, velada sob o manto da rudeza, de um indivíduo que não conseguia se integrar a seu meio. Sob esse aspecto, a sua música, “ao mesmo tempo que denuncia a insatisfação com o real, passa a oferecer, contra ele, o abrigo do ideal decepcionado, que se constitui refúgio, e que transforma o refúgio em sucedâneo de aspirações insatisfeitas[ii]. O repouso, seja harmônico, melódico, rítmico ou psicológico; quando aparece, vem às custas de muita tensão.

No seu auge criativo (1956-65), Charles Mingus legou à humanidade uma discografia repleta de pérolas: Mingus At The Bohemia, Pithecanthropus Erectus, Blues and Roots, Mingus Ah Um (um excelente ponto de partida aos que desejam se iniciar em seu universo), Charles Mingus Presents Charles Mingus, “Mingus, Mingus, Mingus, Mingus, Mingus”, dentre outros. Em seus ensembles e combos, o compositor agregava a nata dos instrumentistas comprometidos com a ideia de expansão das barreiras estéticas no jazz: Max Roach, Bill Evans, Mal Waldron, Booker Ervin, Yusef Lateef, Eric Dolphy, Dannie Richmond (seu alter ego musical), foram alguns nomes que passaram por seus grupos. Contudo, foi com o The Black Saint and The Sinner Lady, de 1963, que o baixista revolucionou o jazz orquestral, levando-o a patamares que nem mesmo Duke Ellington havia conseguido e concebeu sua mais profunda e individual obra.

Erudito na forma e jazzístico na linguagem, The Black Saint and The Sinner Lady é um balé em seis partes que examina de maneira detalhada a psique sofrida de Mingus pondo em paralelo, basicamente, dois grandes elementos – o amor e o conflito – que podem ser claramente percebidos na alternância brusca entre os momentos de lirismo melancólico e de caos devastador. Sobre o alicerce de dissonâncias abrasivas nos graves (o diálogo entre o sax barítono e a tuba é simplesmente fantástico), o compositor constrói um verdadeiro coral com os sopros e metais os quais, juntos, dão suporte à voz tortuosa dos solistas – destaque para o sax alto de Charlie Mariano. Porém, aqui Mingus leva adiante a tradição orquestral das big bands ao libertar a seção rítmica da função de âncora rítmico-harmônica e ao promover uma maior interação entre as vozes dos naipes por meio da improvisação coletiva. Musicalmente, o resultado é um contraste de timbres e uma riqueza de tessitura que denunciam seu total controle das estruturas, sua plena capacidade expressiva e seu cuidado perfeccionista com cada compasso da obra. Psicologicamente, o disco é uma “caça às bruxas” interna; um livro escrito em primeira pessoa.




Por todas as razões apresentadas, considero Charles Mingus um compositor indispensável àqueles que veem na música uma experiência transcendental. Um gênio por não apenas comunicar, mas impor seu mundo interior. Ele é um daqueles artistas que, como diria Manuel Bandeira, ”em vez da estrada real da fama fácil, preferiu nobremente a picada solitária dos batedores de terras virgens”[iii]. Assolados que estamos por falsos virtuoses, gênios forjados e músicas descartáveis, parece-me que conhecer a sua obra é, mais do que nunca, imprescindível.




[i] MINGUS, Charles; “Saindo da Sarjeta: A Autobiografia de Charles Mingus”, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, pág. 52.
[ii] NUNES, Benedito; “A Visão Romântica” in; GUINSBURG, J. (organizador); “O Romantismo”, Editora Perspectiva, 4ª edição, 2ª reimpressão, São Paulo, pág. 55.
[iii] BANDEIRA, Manuel; “Crônicas Inéditas I”, Editora Cosac Naify, São Paulo, 2008, pág. 47.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Paulo Leminski e Toda Poesia - por André Maranhão Santos




Mal acabou de sair pela Companhia das Letras, e Toda Poesia – uma reunião dos poemas em vida e póstumos de Paulo Leminski – já aparece nas listas dos livros mais vendidos em algumas livrarias nacionais.

Leminski é ao mesmo tempo apontado como alguém curitibano provinciano e como alguém de grande internacionalidade, ao trazer em sua estética Caetano, Glauber, Décio, Pound, Oswald, Dylan, Wordsworth, que se imbricam ao frevo e aos haicais, ao parnasiano e ao concreto, ao coloquial e ao clássico. 

Poeta de mãe negra e pai polonês, Leminski agregou à sua escolaridade católica várias astrologias; a ginga à sua faixa preta de judô. Tudo isso calhou num Mallarmé Bashô, num Kamiquase, num beatnik latino, enfim, num samurai-malandro, como bem o definiu Leyla Perrone-Moisés.

A quem se presta à concisão, Leminski é um bem possível; e parte dos seus feitos apela não só à norma culta como também à norma curta, à economia de versos, de tal modo que nem sempre o breve pode ser apenas pouco.

Por outro lado, alguns comentadores acusam os versos de Leminski de significarem trocadilhos espúrios e óbvios, jogos de palavras previsíveis e caóticos, somados ao desinteresse daquele poeta em buscar uma forma mais sólida e consistente em sua escrita. 

Se Datada ou contemporânea, menor ou monumental, acredito que a poesia de Leminski simboliza uma empreitada fértil em um momento de profunda transformação na Literatura Brasileira. Boa parte dos seus trabalhos mais celebrados (caprichos & relaxos; distraídos venceremos) foi publicada entre as décadas de 1970 e 1980, um contexto em que a poesia de mimeógrafo e a escrita marginal aconteciam, além de certos ingredientes da Tropicália receberem novas leituras. 

Leminski é também um caso emblemático do cancionista – sendo este termo utilizado por Charles Perrone, José Miguel Wisnik, Luiz Tatit e companhia limitada para designar as pessoas que fazem canções, dado que canção é algo bem diferente de poema ou de música. É de modo semelhante ao Leminski cancionista, que dialoga com Caetano Veloso em Verdura e Arnaldo Antunes em Luzes, que outros poetas-cronistas / cancionistas amadurecerão suas literalidades. A dita Música Popular Brasileira também apontará para novas veredas e possibilidades formais: Paulo César Pinheiro, Torquato Neto, Cacaso, Waly Salomão, Xico Chaves, Fernando Brandt, Aldir Blanc, Antonio Cícero, Hilda Hilst e Alice Ruiz (esta última, companheira do próprio Leminski por mais de vinte anos), são alguns dos nomes marcantes que simbolizam o diálogo entre escritor e cancionista na MPB. 

Acionar a poética de Leminski não se resume a um simples diálogo com a Literatura Brasileira; é também um gesto profícuo para a nossa compreensão sobre o desdobramento da tradição cancionística no Brasil. Enfim, a indicação de Toda Poesia serve como um desafio para apreciarmos ou não um dos caminhos tomados pela literatura e, sob algum grau, pela canção, onde o realizador da vez é Paulo Leminski. 

terça-feira, 2 de abril de 2013

O Que Eu Vi no Lollapalooza 2013 - Por Giba Carvalho


São Paulo, 02 de Abril de 2013. Segue compilado dos shows que escolhi assistir na minha primeira noite do festival:

Tomahawk – assistir a qualquer coisa que Mike Patton esteja envolvido é garantia de no mínimo ter a curiosidade aguçada. Já conhecia Oddfelows, último disco do Tomahawk. Achei a apresentação muito boa em todos os sentidos. Claro, pouco conhecida do público e, principalmente da grande maioria dos presentes, que aguardavam ansiosamente o Franz Ferdinand. Patton e sua trupe não fizeram feio. Soltaram o peso da tríade guitarra, baixo e bateria, acompanhados da voz ainda incrível do cara. Certamente um dos 3 melhores “frontmans” ainda em atividade no rock mundial. Simpático como poucos e com um repertório vasto de português (principalmente palavrões), o cara soube comandar o público. E saiu com a impagável – “Sou cachaceiro”.


Franz Ferdinand – por incrível que pareça, este foi o melhor show para o público presente em sua maioria. A banda soube aproveitar cada espaço do palco e cada acorde proferido a seu favor.  Com uma mescla muito bem feita dos seus trabalhos o Franz Ferdinand animou até pessoas que são longe de ser fã da banda (eu sou um destes). Outro fator bastante relevante é a qualidade dos seus guitarristas. A dupla formada por Alex Kapranos e Nick McCarthy  (este um grande guitarra-base) completa-se de forma impressionante. Lembro de comentar com um amigo no meio do show, que tal completude me fez recordar dos bons tempos dos Los Hermanos e a junção Camelo – Amarante (dois bons guitarras-base numa mesma banda).  Um show para ficar na memória de quem é fã.


Queens of The Stone Age – se pudesse resumir a apresentação da banda no festival em uma palavra, a mesma seria – DEMOLIDORA. Com o QOSA não tem essa conversinha de rock n´roll bonitinho e cheio de notas doces e melódicas. Como afirmou Fernando Lucchesi  - “O QOSA é uma banda que não abre concessão alguma em seu estilo de fazer o rock n´roll acontecer.”
 In-loco o público parecia bastante assustado com o que estava acontecendo. A banda não tem vergonha de tocar alto e de ser suja no que faz. Este é um ponto de extrema relevância para mim. Creio que faltam mais grupos deste estilo na música atual. Muitos buscam a fórmula do “bonitinho” e poucos chutam o pau da barraca e metem o pé na porta como o QOTSA. Obviamente, a banda precisa pegar ritmo novamente por conta de todo este hiato que ocorreu entre os discos Era Vulgaris e o recente Like Clockwork. E pelo que vi e ouvi do disco novo, este ritmo virá com muito pouco tempo.

Observação – o QOTSA estreou neste show o baterista John Theodore, ex- The Mars Volta. E o rapaz correspondeu muito bem às expectativas.


The Black Keys – minha consciência está muito tranquila sobre o que irei dizer. Se existe  personificação de banda superestimada esta é o The Black Keys. Muito antes do festival uma  dúvida pairava sobre meus pensamentos. “Respeito o The Black Keys, mas ainda não é banda para encerrar festival do porte do Lollapalooza.” E este pensamento foi confirmado com o que pude assistir na noite do sábado passado. Ressalto que a banda foi muito prejudicada com a qualidade do som do seu show. A parte do meio para trás da plateia só teve acesso ao som que saía do palco. E, novamente, a organização do festival pecou neste ponto. Mas, não posso esquecer que a banda só possui um trabalho relevante na sua história. O último disco El Camino, que no meu conceito é um disco nota 6.0, e que para a grande maioria que acha tudo “genial” é a revolução do rock n´roll. Este disco foi o único grande responsável pela escolha dos caras para ser red line do Lollapalooza.  Não sei onde li a frase, mas concordei com tudo que nela consta – “The Black Keys não passa de um White Stripes com um baterista melhor e um guitarrista menos talentoso.”

Puro modismo para uma banda que pode ainda fazer muito mais do que apenas um disco que chame atenção do público. E nenhum modismo dura mais do que uma hora para um público que entende de alguma coisa de música e apresentações ao vivo. Pelo menos 30% do público já tinha ido embora após a primeira hora do show dos caras.  Show apático, sem graça e identificação.


Resumo da noite

Considero que minha primeira noite no Lollapalooza foi legal, mas aquém das minhas expectativas. Formada por bandas que no máximo chegam ao segundo escalão de bandas de rock n´roll e por várias outras que tive que fazer escolha de não assistir por opção. É, meus caros, festival tem que ser assim mesmo. Arrependimento? Gostaria de ter assistido ao Alabama Shakes que tem a boa vocalista Brittany Howard e guitarras bastante interessantes. De resto, dou graças a Deus não ter chegado perto de coisas como Vanguart e só de ter ouvido o som de outra personificação ridícula de música chamada Criolo.