domingo, 24 de novembro de 2013

O Labirinto Polimétrico do Meshuggah - Por Bruno Vitorino


Por definição, o labirinto é uma estrutura arquitetônica feita para desnortear. Seus emaranhados caminhos levam a pessoa que se aventurou por percorrê-los a investigações minuciosas sobre a probabilidade em sua jornada na busca por um sentido. Contudo, a exposição contínua a padrões sobrepostos, assimétricos e sem a menor indicação de lugar resulta na perda absoluta do senso de direção. O indivíduo é, então, privado da noção geométrica do Espaço e lançado num limbo onde só existe a reverberação mecânica do Tempo a se desdobrar em si. Transpondo para a música esse conceito labiríntico, a banda Meshuggah urde uma complexa trama sonora combinando o peso do thrash metal com o cerebral encadeamento de angulosas séries rítmicas e letras de forte crítica aos mecanismos de controle e discursos de poder do mundo pós-moderno que impõem rédeas ao homem contemporâneo, privando-o da pluralidade do Eu. O resultado é uma música lancinante, mas de uma audácia estética singular.

Formado em Umeå, Suécia, em 1987, o Meshuggah ganhou notoriedade na cena metaleira internacional com seu segundo disco: “Destroy, Erase, Improve” (1995). Impregnado de uma agressividade corrosiva, o disco registra o trabalho do quinteto com ciclos rítmicos irregulares, ostinatos acentuando a região grave (eles tocam guitarras de 8 cordas), padrões polimétricos intrincados que, executados com uma precisão técnica virtuosística, vão envolvendo o ouvinte a cada tema com o asfixiante abraço da não-referência. À primeira audição do disco, tem-se a sensação de ser subitamente jogado num mundo desconhecido, hostil e de ar rarefeito. Não tem alisado, é porrada sem concessões! Na sequência, veio o excelente álbum “Chaosphere” (1998) que aprofundou as concepções estéticas abertas por seu antecessor e consolidou a banda como uma das mais interessantes do cenário heavy metal da atualidade, e “ObZen” (2008), a obra-prima do grupo, levou a criptografia rítmica ao ápice do rebuscamento. “Amplis, amplius! Sempre mais longe”.

O mais interessante de tudo isso é que o Meshuggah sempre gerou controvérsias dentro do universo metal. Ao subverter a trilha comum das guitarras velozes, dos compassos em 4/4 e das melodias cantaroláveis estabelecida por grupos como Iron Maiden, Metallica e Megadeth, a banda criou um universo perturbador e inteiramente novo que não soa palatável aos ouvidos mais bitolados. Justamente por renegar a cartilha da tradição, o quinteto sueco sempre enfrentou muita resistência dos puristas do gênero que viam em sua música uma mecanização inumana, robótica. No entanto, o que os detratores parecem não enxergar é que sua produção advém de muito estudo, de exaustiva reflexão e – o mais importante – da busca por novos direcionamentos expressivos, mais adequados à liquidez da realidade que hoje se apresenta. É impossível não perceber na obra do grupo reminiscências de Igor Stravinsky, que inverteu a lógica clássica da estruturação musical ao pôr o ritmo, e não a melodia, no cerne do desenvolvimento composicional, bem como da vanguarda jazzística em suas experimentações com o pulso variável. Ao insuflar essas abordagens no metal, o Meshuggah revolucionou o gênero. E, no último sábado (16/11), eu pude testemunhar ao vivo toda essa grandiosidade.

Após de anos de espera, a banda sueca finalmente aterrissou no Brasil em sua primeira turnê latino-americana que passou pelo México, enveredou pelo Chile e Argentina até, enfim, chegar a São Paulo. O foco das apresentações era o seu último disco, “Koloss” (2012), que pode ser considerado o registro mais reflexivo, digamos assim, do Meshuggah. No lugar da agressividade vocal exacerbada e da bateria a enfatizar todas as arestas dos padrões desenhados pelas cordas, surgem uma fúria contida e ciclos polimétricos maiores e contemplativos que, apesar de bastante assimétricos, não chegam a apagar a noção de tempo, apontando os vetores mais para o chão do que ao éter. Ficou mais fácil bater cabeça.

A apresentação aconteceu na casa de show Carioca Club, um espaço conhecido na cidade por abrigar eventos do chamado de “pagode romântico”, que nada mais é senão um eufemismo para o chorume produzido no processo de decomposição mercadológica do samba. Porém, contrariando a lógica, o local escolhido não poderia ser mais adequado: mediano, refrigerado, limpo, com um excelente serviço e um primoroso equipamento de som e iluminação. Organização impecável! Imediatamente lembrei-me das agruras que enfrentei num passado não tão distante nos “sábados de rock pesado” do Abril pro Rock. Senti um calafrio e um imediato alívio ao constatar que era apenas um trauma mau curado de minha adolescência. Nesse ambiente acolhedor, eu conseguiria voltar toda a minha atenção para o palco.

Uma pequena figura em tercinas, que recebia aqui e acolá chapiscos de acentuação rítmica da bateria, ecoava. Sob ela, o bombo fincava um padrão quaternário que acrescentava textura ao esquema, preparando o terreno para mais a frente acomodar a monumental edificação polirrítmica que se modificava internamente com o seu desenvolvimento, intercambiando entre si suas camadas feito engrenagens: “Swarm” abria o concerto. Em seguida, o Meshuggah emendou com a alucinante “Combustion” e seu motivo quaternário picotado apresentado pela guitarra, transpassado pela contagem enviesada da bateria que descambava, após uma seção de hard core moderado, num caleidoscópio rítmico de binários, ternários e suas combinações.

Eu estava pasmo! Era impressionante ver os cabras em ação, tão à vontade com essas estruturas extremamente complexas. A guitarra base de Mårten Hagström erguendo e mantendo os alicerces temáticos; a habilidade de Frederik Thordendal em improvisar tranquilamente nas situações rítmicas mais adversas e ainda acrescentar-lhes tensão e adornos melódicos; as inabaláveis linhas do baixo de Dick Lövgren; a segurança e a firmeza no canto gutural de Jens Kidman e, principalmente, a presença sobrenatural da bateria de Tomas Haake que tocava simultaneamente padrões independentes no bombo, caixa e pratos: tudo estava lá, acontecendo diante de meus olhos! A apresentação seguiu, e vieram outras pedradas não menos atordoantes como “The Hurt That Finds You First”, “Demiurge”, “Bleed”, “Dancers to a Discordant System”, “I Am Colossus”, “Do Not Look Down” e mais algumas outras músicas dos dois últimos trabalhos da banda. Ao final, atendendo ao pedido do público, os suecos fecharam a conta com a devastadora “Future Breed Machine” purificando a alma dos headbangers na roda de pogo, num momento de pura catarse digna de um ritual pagão de uma tribo bárbara.

Chovia. A música que acabara de ouvir reverberava em minha cabeça. Seus ciclos chocavam-se, fundiam-se, enraizavam-se em minha memória. Fitando o infinito pela janela do táxi, eu refletia sobre o cada vez mais raro fenômeno da criação artística. Pensava em como a repetição de fórmulas se mostra hoje tão lucrativa para o establishment da indústria cultural no seu sórdido negócio de vender o conformismo estético para uma massa amorfa, passiva, preocupada estritamente com o divertimento instantâneo e banal, reduzindo a arte a mero cosmético. Mas a experiência pelo qual eu acabava de passar me fez crer que há ainda os que investem contra essa lógica, atuando no subterrâneo do mercado onde habitam resquícios dos velhos ideais da construção artística: o caráter reflexivo da experiência estética, a integridade do artista ante as estruturas formais de comércio da arte, o domínio técnico dos meios de expressão simbólica, a procura pela expansão da linguagem. Nesse sentido, o Meshuggah atua como um desfibrilador que tenta reanimar um corpo em estado letárgico. Depois de pensar nisso tudo, só me restou dizer: louvados sejam os que ousam!

domingo, 3 de novembro de 2013

O Resto é Mise-en-scéne! - por Giba Carvalho

    


A música brasileira vem apresentando um fenômeno diferenciado nos últimos tempos: a capacidade de autocopiar-se. No início do ano passado, fiquei atônito ao saber que os "cultuados" rapazes do Mombojó iriam lançar um disco com releituras dos "maiores sucessos" da "grandiosa" carreira de três discos. Isto já me deixou com a famosa pulga atrás da orelha. O primeiro disco da banda, intitulado "Nadadenovo", é audível e proporcionou aos rapazes o perigoso (e agora comum) status de "inovadores da cena musical". Depois deste disco, eu questiono aos leitores deste blog - "O que virou o Mombojó?" Na minha opinião, um emaranhado de agonia ao tentar mostrar algo diferenciado, que sacramentou toda banalidade dos trabalhos pós-primeiro álbum, com este compilado de aniversário. Aquela velha história - "já que não temos Nadedenovo, vamos enganar os trouxas com Tudodovelho".

Passado algum tempo, eis que surge em 2013 "Mundo Livre S/A vs Nação Zumbi". Um duelo entre as duas bandas que foram pedra fundamental para o Movimento Mangue Beat. Esta é uma idéia utilizada nos EUA, no fim dos anos 90, por bandas de punk e hardcore. Como costumo ouvir bastante bandas do estilo, ressalto a famosa "BYO SPLIT SERIES", iniciada em 99 e dividida em 5 volumes. O formato era um disco de vinil, onde cada banda tocava 6 músicas da outra em cada lado (Álbum Split). Para aqueles que pensam que os caranguejos pernambucanos inovaram com este duelo enlameado de sucessos do passado, afirmo que já no ano passado foi lançado outro álbum intitulado "O embate do século - Ultraje a Rigor vs Raimundos". Confesso que gosto da idéia destes "álbuns split", desde que os mesmos sejam meio e não apenas mais uma tentativa de manter-se vivo no mercado. A Nação Zumbi, como única banda de primeira grandeza de Pernambuco desde que o  Movimento Mangue-Beat foi criado, não precisa disso. Ao procurar algo para ler sobre este trabalho encontro o seguinte - "O encontro no disco 'Mundo Livre S/A vs Nação Zumbi', em que um toca as músicas do outro, é mais do que uma celebração do movimento e das suas canções. É um exercício dos mais interessantes, feito por duas bandas bem diferentes, no topo de sua forma artística."

É este tipo de conveniência que não aceito. Afirmar que ambas estão no "topo da forma artística" é uma piada de pura "brodagem". A Nação Zumbi, mesmo conseguindo manter-se no primeiro escalão, jamais conseguirá chegar perto da grandeza do que foi com Chico Science. Até porque, desde o excelente álbum de 2002, alterna trabalhos irregulares e um monte de lançamentos no formato "ao vivo". Promessa de disco novo na praça em 2014, após 6 anos de ausência. Já o Mundo Livre S/A é um caso à parte. A banda vive completamente de passado e da postura "comuna-intelectual" do "ilustre caranguejo" Fred 04. (Apesar de ter lançado trabalho próprio há menos tempo que a Nação Zumbi.)

Para completar o time, eis que me deparo com a seguinte manchete nesta semana - "Mallu Magalhães é encantadora - diz jornal The New York Times". Fiquei curioso e fui ler as reportagens por inteiro. Concordo que uma crítica no jornal americano deixaria qualquer jovem com muito orgulho de seu trabalho. No entanto, percebi claramente que não passa de mais uma jogada de produtores. Estes lançaram um álbum por lá intitulado "Highly Sensitive". O álbum nada mais é do que outro compilado das músicas dos três primeiros discos da garota cantadas em inglês. Ouvi o último álbum da moça diversas vezes. "Pitanga" (2011) é um álbum muito bem produzido e extremamente bem gravado. Kassin e Marcelo Camelo acertam em cheio nos arranjos que a garota precisa para desfilar toda a infantilidade (ainda?) e sua voz extremamente semitonada. Por falar nisso, a matéria acerta em cheio quando afirma que a mocinha não se preocupa com "o tom" e erra terrivelmente quando vê isto como algo positivo. Afirmo isto, porque com os aparatos que existem hoje em dia nos estúdios, qualquer "Mané" canta e qualquer "Maria" vira fenômeno. Agora, na hora da febre do ao vivo, é que podemos perceber do que de fato um artista é capaz. Voltando a pauta principal do texto, percebemos que estas jogadas estão se tornando cada vez mais usuais dentro do mercado. Neste caso em específico, porque Mallu Magalhães tem 21 anos, três álbuns e a vida toda pela frente. Inclusive, para aprender a cantar. 

O que nós fazemos? Apostamos em talentos não tão talentosos? Perpetuamos semi-Deuses criados por nós mesmos? Regredimos a arroubos juvenis para achar qualidade e graça na música?

As respostas para estas peguntas não são nada fáceis. Ache as respostas dentro dos ouvidos, de preferência, dando a verdadeira relevância ao que merece ser ouvido. O resto é mise-en-scéne!

Versão do disco - Pitanga (2011):



Versão ao vivo no Rock in Rio (2013):


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Vivendo o Porto: A Tasca do Guedes - por Dom Angelo

 

Para quem realmente aprecia uma boa bebedeira entre amigos, não existe lugar melhor que um boteco. Se o local for antigo, modesto e barato, melhor ainda. Ao mesmo tempo em que o ambiente é envolvido pelos ares da energia instável do álcool, percebemos uma sensação relaxante e de aconchego, considerando o gole na cerveja, a comida rudimentar, a conversa afiada e a celebração da amizade como o verdadeiro e o único objetivo de ali estar.
Ok. Um fuga da realidade? Talvez sim, talvez não.
Em Portugal, esses locais levam o nome de Tasca. Segundo o dicionário Priberam (http://www.priberam.pt/dlpo/), a palavra significa “estabelecimento modesto que vende bebidas e refeições”. Por aqui encontramos tascas centenárias, muitas vezes subterrâneas, com paredes de pedra e azuleijos, mobília rústica e comida tradicional.
Às sextas ou sábados, o primeiro local que frequento antes de uma noite de diversão é a Tasca do Guedes. Ou simplesmente Casa Guedes. Localizada na praça dos Poveiros, essa tasca serve o melhor sanduíche de pernil do mundo. O estabelecimento tem apenas 4 mesas na parte de dentro, apesar de nas épocas mais “quentes” eles oferecerem mesas ao lado de fora do bar, mesmo em frente ao Jardim de São Lázaro.
Além da “sandes de pernil”, as especialidades do Guedes são as papas de sarrabulho, moelas, sopa de caldo verde e os queijos e frios regionais, tudo isso acompanhado de um bom frisante rosé, um vinho verde ou da velha cervejinha. Porém não se incomode de não arranjar uma mesa. Provavelmente vai acontecer. O Guedes vive cheio, muitas vezes com filas grandes para se fazer o pedido no balcão. Mas como a idéia é começar a farra de bucho forrado, o que vale mesmo é comer no balcão ou em pé, tomar a garrafa de vinho e sair pra noitada!
 

sábado, 26 de outubro de 2013

Black Sabbath: Tradição e Reverência - Por Fernando Lucchesi






Sempre que me lembro de algo relacionado com Heavy Metal, a primeira cena que me vem à cabeça é um diálogo que tive com um primo mais velho, fã do gênero. Tinha por volta de 7 anos quando comecei a prestar atenção nos seus discos de vinil, a grande maioria de bandas de metal com capas e mais capas de fotos de demônios e de cenas sombrias e assustadoras. Virei-me para ele e perguntei: “Como tu pode gostar dessa doideira toda?”. Ele pensou um pouco e me respondeu: “Daqui a alguns anos você é quem estará gostando e você saberá o porquê”. Fiquei com aquilo na cabeça achando que meu primo era mais doido do que imaginava.

Meu primo estava certo em parte. Não sou o maior entusiasta, mas sempre tive admiração pelas bandas responsáveis pelos alicerces do estilo. Das três bandas consideradas as mais influentes (junto com Led Zeppelin e Deep Purple), o Black Sabbath foi a última que capturou minha atenção. Hoje posso falar que, sem dúvida, ela é a que mais influenciou e moldou o Metal como o conhecemos hoje.
          
Exatamente no dia 13/10/2013 tive a oportunidade de confirmar a razão da veneração de muitos (inclusive a minha) pelo Sabbath. A apoteose, normalmente lembrada pelo desfile de escolas de samba, estava tomada por um mar de camisetas pretas. Gente de várias idades, cidades e sotaques diferentes. Todas ali para observar e reverenciar aqueles senhores, mas que quando jovens ousaram e criaram um som novo, sombrio e por vezes macabro. Em sua primeira passagem pelo Brasil com a formação 75% original (a única ausência foi o baterista Bill Ward) a banda despejou clássicos e músicas do seu mais recente disco “13” (um disco que possui muitos elementos dos primeiros discos da banda).

A banda abriu o show com a clássica “War Pigs” do álbum “Paranoid”. A música não podia ser mais atual, uma vez que os “senhores da guerra” continuam enviando jovens para um verdadeiro abatedouro chamado de “guerra” sempre com a desculpa da preservação da paz. Em seguida, Ozzy e companhia convidam os espectadores a imergir no seu som característico com a sinistra e pesada “Into the void”. Tentando entremear os clássicos do início da banda com músicas do mais recente disco, a banda provocou reações adversas no público. Os clássicos como “Snowblind” e a tríade do primeiro disco (“Black Sabbath”, “N.I.B”. e “Behind the wall of sleep”) causaram empolgação e reverência. Entre elas, uma deslocada “Age of reason” do disco novo causou mais letargia do que excitação e o público apenas “observou” a música. Analisando a reação do público às músicas novas, a única que a platéia contou em uníssono foi o primeiro single do álbum “13”, “Gos is dead”. A já citada “Age of reason” e “End of the beginning” (uma variação em cima da música “Black Sabbath”, do disco homônimo) serviram apenas para serem apresentadas ao público.

Seguiram-se então mais três músicas de um mesmo disco (“Fairies wear boots”, “Rat salad” e “Iron man”) do clássico “Paranoid” (o maior sucesso comercial da banda). O ato final do show reservaria mais dois clássicos do Sabbath: “Children of the grave” e “Paranoid”. Essa última, talvez numa sutil ironia, inicia-se com o riff de outro grande sucesso do Sabbath, “Sabbath bloody Sabbath”, do álbum homônimo. A ironia deve-se ao fato da referida música não ser executada em sua totalidade, pois é evidente que Ozzy não tem mais condições de, sequer, cantar razoavelmente a música.       

Espero, sinceramente, que tenhamos mais uma oportunidade de vermos esses senhores aqui no Brasil, pois cada apresentação deles é uma verdadeira aula de Rock n´roll/ Heavy Metal.

Sobre os músicos:

Ozzy: Compensou perfeitamente a notória desafinação com um carisma/simpatia invejável. Concordo com muitos amigos, que entendem muito mais de Heavy metal do que eu, que Ronnie James Dio era melhor vocalista que Ozzy (pelo menos no aspecto técnico). Mas, para mim, o som do Sabbath está intrinsecamente ligado à voz de Ozzy.

Tony Iommi: A despeito do tratamento que vem fazendo contra um linfoma, estava seguro e aparentava tranquilidade enquanto desfilava sua inesgotável quantidade de riffs geniais. Definitivamente o maior responsável pela sonoridade do heavy metal.

Gezzer Buttler: Excelente na execução do seu instrumento. Teve seu grande momento, como não poderia deixar de ser, na execução da abertura de “N.I.B” com seu solo de baixo.

Tommy Clufetos: “Soltou a mão” sem pena. Substituiu com sobras Bill Ward.


Observações sobre o show:

  • Como pude assistir ao show atrás da área reservadas aos deficientes, pude constatar o respeito àqueles que realmente necessitam daquela área. A utilização do banheiro reservado a eles não era permitida nem mesmo à produção do show.
  • Apesar do preço extorsivo por uma lata de cerveja (R$ 8,00) a infra-estrutura estava muito boa.
  • O som estava literalmente “no talo”. Altíssimo e de excelente qualidade. Soube que em SP houve problemas para quem estava mais distante do palco, pois o local do show era um campo aberto.
  • Continuo sem entender muito bem porque alguns fãs continuam achando que o Black Sabbath faz uma ode ao capeta (a despeito de algumas poucas letras falarem abertamente em Lúcifer). Estava eu lá tranqüilo na minha, quando se aproximou um elemento tocando “air guitar” e nos intervalos do seu “show” particular, ele gritava “Viva Satanás”! Atribuí isso a três fatores: o nível etílico, o desconhecimento da língua inglesa ou a algum problema de audição. Ozzy passou a noite INTEIRA falando “God Bless you” (Deus os abençoe). Portanto, gritar “Viva Satanás” parece tão coerente quanto gritar “Viva Xuxa” durante o show.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A Religiosa - por André Maranhão Santos





A mais recente adaptação de A Religiosa, assinada pelo diretor e roteirista Gillaume Nicloux difere da versão Nouvelle Vague de Jacques Rivette – censurada pelo governo francês dos anos sessenta. E um dos pontos diferenciadores entre ambas as versões se dá em como os ideais de liberdade e luta pelos direitos humanos aparecem na versão de Nicloux, além dos seus paralelos com a filosofia iluminista, já que tal filme deriva do roman-mémoires La Religieuse de Denis Diderot, publicado no final do século XVIII e que se baseia no caso de Margueritte Delamarre, uma jovem francesa que lutou para sair da vida monástica num período contemporâneo à vida de Diderot.

Em A Religiosa, Suzanne Simonin é a personagem principal; uma garota que entra para um convento sem o desejar, passando por humilhações, assédios morais, sexuais, além de discriminações, somados ao seu desejo de abandonar o hábito de freira. Suzanne é interpretada de maneira notável pela atriz belga Pauline Étienne, que aparece escudada pela grande Isabelle Hupert e por Martina Gedeck (bastante famosa após A Vida dos Outros e que sendo alemã protagoniza o filme em francês, mantendo a forte tradição de atrizes europeias poliglotas).

Especialmente, há uma importante contribuição para mim em A Religiosa: tal qual Ligações Perigosas – filme de 1988, adaptado do livro de Chordelos de Laclos, estrelado por Glenn Close, Michelle Pfeiffer e John Malkovich – os ambientes mais recônditos da vida privada apontam para os jogos de poder, a sedução, a manipulação em pleno cotidiano e mentalidades do mundo francês do século XVIII. A Religiosa também se articula com outros filmes tais como O Nome da Rosa (adaptado do romance de Umberto Eco, dirigido por Jean-Jacques Annaud, estrelado por Sean Connery e tendo Jacques LeGoff como consultor histórico) e Dúvida (de John Patrick Shanley) com Meryl Streep, Phillip Seymour Hoffman e Amy Adams no elenco, por se tratarem produções que explicitam os abusos recorrentes ao longo da instituição religiosa no Ocidente e apontam para a emergência das leis como instrumentos fiscais contra as arbitrariedades empreendidas em lugares sagrados e mais restritos.

Num pensamento iluminista consonante, outro filósofo como Voltaire via nas benesses que alguns governos concediam à estrutura política da Igreja uma série de perigos e violações à Humanidade. O filósofo defendia a oração não como dominação ou despotismo, mas como algo em profundo diálogo com o papel fiscalizador do Direito Civil. “O magistrado deve apoiar e conter o sacerdote, da mesma forma que o pai de família deve mostrar consideração para com o preceptor de seus filhos e impedir que abuse deles”, assim o enfatizou em seu Dicionário Filosófico.

Também é sabido do papel estratégico que a vida feminina dos conventos proporcionou à economia dos bens masculinos e às relações de poder entre os gêneros. Evitar o casamento de certas filhas para não repartir o latifúndio na forma de herança, ou se valer dos espaços clericais para efetuar um processo civilizador sobre a figura feminina – naquela que sabe os seus lugares e limites e não contraria a autoridade da figura masculina – eis aqui exemplos cruciais do interesse patriarcal por via da domesticação religiosa. Embora a Coroa de Portugal nem sempre mostrasse favorecimentos à criação de novos espaços de reclusão para a entrada de mulheres na vida monástica (já que via no aumento do número de mulheres celibatárias um risco para o crescimento populacional de uma colônia como o Brasil) a monarquia lusitana quase sempre encorajou as casas de recolhimento em solo brasileiro. No século XVII, já havia conventos na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, tendo este número se multiplicado em outras localidades como Pernambuco, Maranhão, Minas Gerais e na Região Sul, tanto na forma de conventos quanto nas casas de recolhimento. Em Trópico dos Pecados, Ronaldo Vainfas argumenta que essas casas também estipulavam diversas restrições às mulheres, preferindo, inclusive, moças brancas e de famílias abastadas. As casas de recolhimento também atuavam enquanto recebedoras de mulheres casadas durante a ausência dos seus respectivos maridos, retiros espirituais de viúvas e correção de condutas femininas “indevidas”.

O que pretendo aqui não é desqualificar ou negar a existência da vocação na vida monástica e na reclusão, mas atentar para a importância do exercício histórico / democrático que o filme A Religiosa pode estimular em conjunto ao significativo valor que o pensamento iluminista pode elucubrar num contexto como o de Diderot. Por outro lado, a Razão não precisa atuar como a legítima redenção do Ser, já que na própria época de La Religieuse, alguém como Kant foi capaz de frisar que vivia na “era do Iluminismo” no lugar de viver numa época de pleno esclarecimento. Mas o filme que inspirou esta postagem pode reavivar o debate sobre o direito à fé, o lugar, a filiação e as formas da vida religiosa, e analogamente à personagem Suzanne - que desejou abandonar a vida monástica para professar sua fé sob outros modos - no mundo contemporâneo, a Democracia deve garantir o direito de uma islâmica usar um hijab, como também de ampará-la caso não queira usá-lo ou deseje parar de usá-lo.

Devo finalizar com uma lição sobre a fé que aprendi num livro de Walter Benjamin, intitulado A Origem do Drama Trágico Alemão, onde aquele filósofo, judeu, esotérico e fugitivo do Holocausto cita a seguinte alegoria: “Santa Teresa vê, numa alucinação, a Virgem esparzindo rosas sobre a sua cama, e conta a visão ao seu confessor ‘Eu não vejo nenhumas’, responde este. ‘Claro, a Virgem trouxe-as para mim’, é a resposta da santa”. Cada vez que eu releio, me conforto com este depoimento, pois semelhante a Benjamin, consigo acreditar que há um gesto radicalmente sensorial quando Cristo é deslocado para o plano do provisório, do cotidiano e do precário. No filme A Religiosa, a personagem Suzanne Simonin parece alimentar esta linha de raciocínio, ao ver que Deus se faz através de um prisma ético que antecede as instituições e que na fé religiosa pode residir uma via de contestação, de luta e de renovação da liberdade humana.

domingo, 29 de setembro de 2013

Revolver: A Fugacidade do Sublime - Por Bruno Vitorino


Antes de se materializar em um blog, o Variações para 4 era o encontro semanal que Ângelo, Giba, André, Fernando e eu promovíamos lá em casa. Na verdade, tratava-se de um pretexto solene que encontramos para tomar Heinekens geladas, escutar bons sons e compartilhar nossa sincera (e idealista, diria) preocupação com os rumos da Arte num mundo onde Cinquenta Tons de Cinza é o símbolo da transgressão da mulher contemporânea, Kelvis Duran é ícone cult para jovens intelectualizados de classe média e certos poetinhas cianóticos tecem loas egolombráticas ao poder do amplexo. Como de praxe em qualquer reunião de amigos, à medida que as garrafas do néctar dos deuses se acumulavam, nossas idiossincrasias pessoais se projetavam. Nos momentos de consonância, uníssonos de conformidade e aprovação. Mas, diante das discordâncias mais acirradas – que não eram poucas, ouvia-se a defesa mais acalorada de posicionamentos controversos. No que diz respeito a mim, isso sempre recaia em minha repulsa à obra de Chico Buarque e minha ojeriza à produção dos Beatles.

Não gostar desses artistas já me colocou em sérios apuros. Imagine você um estudante de História em pleno CFCH abrir a boca para dizer que “Chico Buarque é um compositor superestimado e um romancista de merda”. Ou também, em qualquer mesa de bar num papo descontraído com entendedores de rock, que “Os Beatles foram uma praga. A Grande Peste da música do século XX”. O mundo vinha abaixo, meu amigo! Na faculdade, não só minha integridade intelectual, como também a psíquica, logo eram questionadas. “Isso é coisa de alienado, de pelego. Tu tá é doido!”. Já lá na mesa de bar, as reações variavam da fúria extremista à perplexidade retumbante. Faça um teste. Experimente o senhor, como exercício sociológico, dizer quando estiver tomando uma com seus amigos: “Os Beatles foram os maiores vagabundos da história da música”. Em um segundo, meu caro, você será um herege jogado na fogueira do fanatismo dessa inquisição cultural. Reflexo condicionado, não refletido ou problematizado.

Obviamente que por trás dessas afirmações tão categóricas reside uma morbidez galhofeira que zomba da submissão plena aos cânones. E não há como ser de outro jeito, meu querido. Goste ou não, uma coisa é certa: se for para mexer em casa de marimbondo, não adianta ir alisando. Tem que descer o braço, senão você se lasca! Só dinamitando o totem (e o tabu), pode-se vislumbrar que as verdades na esfera artística são, mais do que certezas estéticas, construções sociais sedimentadas pelo tempo e pelo discurso. A memória costuma ser generosa com a pieguice, daí a tendência de visões romantizadas de um passado idealizado povoado por artistas divinos. O erro crasso das legiões de devotos mundo afora que separam o homem de sua produção simbólica, e, mais ainda, que dissociam o artista das conjunturas de seu tempo. Entenda o seguinte: o artista não existe no vácuo.

Pondo de lado toda essa cabecisse, o fato é que eu já tentei gostar dos Beatles. Sério mesmo! De todo o coração e inúmeras vezes. Como a descoberta da música se deu para mim através do rock clássico, não havia como me esquivar da obrigatória visita ao quarteto de Liverpool. Portanto, não pense o senhor que falo aqui sem conhecimento de causa. Deixo para os jornalistas dos cadernos de cultura falar daquilo que não sabem ou sequer compreendem. Ouvi minuciosamente toda a discografia dos ingleses esperando o inevitável deslumbramento que me haviam prometido. Do “Please Please Me” ao “Let It Be”. Disco a disco e nada! Absolutamente nada, para meu desespero. Seria eu um portador de alguma patologia lombrosiana? Não! Era apenas a combinação de uma pitada de senso crítico com um pouco de perspectiva histórica.

Por mais que tentasse, não conseguia entender o porquê de tanto estardalhaço. Incomodava-me a gritante tabacudice boy band – chame de Iê Iê Iê se preferir – da primeira fase da banda em músicas fofinhas sobre paixões adolescentes e corações partidos. Corri para o período de transição do grupo da euforia teen para o experimentalismo mais adulto. Legal. Encontrei músicas interessantes e extremamente bem construídas como Norwegian Wood, mas morguei totalmente com canções bestas como Drive My Car. “Baby, you can drive my car / Yes, I’m gonna be a star / Baby, you can drive my car / And maybe I’ll love you” era leseira demais para meu frágil testículo esquerdo. Por fim, procurei na última fase da banda achar a tão sonhada redenção, contudo me iludi novamente. Ao que parece, depois de ter ouvido o poder incendiário do Led Zeppelin, ficava difícil gostar do bom mocismo inofensivo dos Beatles. A verdade é de quem chega primeiro. E, no meu caso, quem chegou primeiro foi o Led Zepellin. “Melhor assim”, dizia a mim mesmo. Até que veio a verdadeira revolução em minha vida: Theo!

O advento do filho ocasionou em mim rupturas silenciosas, cuja dimensão não podia medir ao certo, em toda a constituição do meu ser. De repente, o mundo ficou de ponta cabeça, a realidade virou pelo avesso. As ilusões que guardava, os horizontes que mirava e as convicções que até então me caracterizavam o Bruno que sempre lembrei ser, já não faziam mais sentido. Eu havia mudado. Comecei então a ressignificar tudo: o valor da família, o caráter formador do trabalho, a relação com a cidade e inclusive a importância da música. E aqui eu chego aonde queria. “Se tudo mudou, não seria agora que eu finalmente iria gostar dos Beatles?”, pensei. Mais uma vez (a 4ª pelas minhas contas), revisitei a discografia do Fab Four. Não senti qualquer emoção diferente a cada disco que ouvia no Youtube, até que finalmente eu vi a luz! Algo inexplicável e totalmente inesperado aconteceu em mim quando pus no buscador “revolver full album”. Foi uma revelação!

Revolver: a obra-prima dos Beatles.
“Revolver” marca o momento mais sublime e único que os Beatles puderam alcançar. “E o Sgt. Pepper’s?”, o senhor pode estar se perguntando. Bem, o “Sgt Pepper’s” é um disco ousado, sem sombra de dúvidas, mas em contrapartida é um amontoado de referências e ideias mal resolvidas, embrulhadas num discurso musical excessivo. Em resumo: um disco gorduroso. “E o White Album?”, o senhor insiste. Esse daí é tediosamente longo e altamente irregular. Como um disco pode ter uma composição tão brilhante como “Martha, My Dear” e outra tão retardada como “Ob-La-Di, Ob-La-Da”? Nem mesmo Bhaskara pode resolver essa equação, permita-me dizer. Por isso, defendo que “Revolver” registra o equilíbrio perfeito da verve intuitiva de John Lennon com a perspectiva cerebral de Paul McCartney e, de quebra, traz o desabrochar criacional do até então sufocado George Harrison. Com esse álbum, os Beatles desbravaram um território completamente novo, tanto no que diz respeito aos métodos de composição e técnicas de arranjo quanto aos temas e enfoques poéticos. Um salto artístico estratosférico num período curtíssimo de tempo, já que apenas três anos separam o pueril “Please Plese Me” desta obra-prima.

A contagem inicial que abre o disco parece avisar ao ouvinte que uma viagem caleidoscópica em direção ao desconhecido está para começar. “Taxman”, de George, escancara uma pegada roqueira mais agressiva, cheia de balanço e uma letra de humor corrosivo sobre a voracidade inflexível da política tributária do Estado Pós-Industrial. Na sequência, em “Eleanor Rigby”, Paul derrama todo seu lirismo sobre uma trama contrapontística das cordas (destaque para o cello) e harmonizações vocais precisas. Um dos pontos mais altos de toda sua carreira, diga-se de passagem. Depois vem Lennon com a onírica “I Only Sleeping”. Seu jeito preguiçoso de delinear as melodias, a simples, e por isso mesmo, deslumbrante harmonia em Mi menor e o solo de guitarra em “loop” e “reverse” de Harrison (algo nunca antes ouvido no rock) constroem uma ambiência surrealista que remete às fronteiras do inconsciente. Até Ringo tem seu momento. Esteja certo de que “Yellow Submarine” povoa o imaginário de muitas crianças por todo o planeta com sua fanfarra marcial psicoldélica. Mais à frente, encontramos “For No One” uma das mais belas descrições narrativas sobre a indiferença (e seus danos) que já ouvi. Preste atenção na linha de fundo cromática que vai costurando o encadeamento dos acordes, representando o afastamento paulatino da pessoa amada e no lamento resignado do solo de trompa ao se deparar com o inevitável ocaso. Já em “I Want to Tell You”, minha favorita, deparamo-nos com a habilidade de George em transformar melodias flutuantes e progressões harmônicas ambíguas em algo extraordinário. Repare no piano que insistentemente toca a nota Fá “errada” (não diatônica em Lá maior) justamente nos momentos da letra em que o autor se vê aturdido pela presença invasiva da musa a quem tenta se declarar. Nada menos que genial! Para concluir essa materialização da excelência, os Beatles atacam com a enigmática “Tomorrow Never Knows” onde John recita trechos do livro tibetano da morte sobre a bateria agitada de Ringo e os efeitos eletrônicos dos ecos de rolos de fita. Reminiscências dos cursos de verão de Darmstadt e da música oriental. Uma advertência clara de que nada seria como antes e que o porvir era uma névoa de incertezas!


Lembro-me como se fosse ontem de, no calor do debate, Fernando me amaldiçoar: “Bruno, teu menino vai adorar Chico Buarque e amar os Beatles”. Bato na madeira e sinto um calafrio só de imaginar Theo ouvindo “Construção”, acreditando estar diante mais alta representação da cultura brasileira. Mas, depois de sentir o efeito “Revolver” e de ver meu filho dançando ao som de “Love You To” enquanto escrevo a conclusão dessas breves (?) linhas, devo confessar que me parece muito auspiciosa a possibilidade dele curtir os Beatles. Melhor assim.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Vivendo o Porto: Café Candelabro - Por Dom Angelo


Dando sequência as dicas de lugares para se visitar na cidade do Porto, venho desta vez falar de algo que interessa a grande maioria das pessoas: bares.
A cidade do Porto hoje tem uma das noites mais bacanas da europa, onde podemos encontrar na área que abrange o centro histórico (mais conhecido como “baixa”) centenas de bares, pubs e restaurantes com diversas temáticas gastronômicas e culturais, tudo isso num perímetro que se faz todo a pé.
Considerada Patrimônio Cultural da Humanidade em 1996, todo o centro da cidade é marcado por edifícios de diferentes estilos arquitetônicos, abrangendo construções do estilo gótico, romântico, medieval, barroco, neoclássico, dentre outros. Esse ar “cool” da cidade atrai turistas do mundo todo, favorecendo o ambiente artístico e reflectivo.
Pra quem gosta de desfrutar a noite, uma das coisas legais é sair alternando de bar em bar e curtindo os diferentes climas que estes estabelecimentos oferecem. Pessoalmente, algumas vezes gosto de começar a noitada relativamente cedo, por volta das 20h e um dos meus locais preferidos nesse aspecto é o Café Candelabro.
Ambiente descontraido, de meia-luz, com decoração de livros, revistas, cartazes antigos, máquinas fotográficas e outras coisinhas. Tem excelente cerveja de pressão e preços convidativos. Na parte da tarde a música ambiente vai de Roberto Carlos (anos 60) à Belle and Sebastian, de Tom Waits à Bjork, e à noite a coisa fica um pouco mais enérgica com a presença de DJs, onde o set vai dos Pixies, Radiohead, Pulp a cenas mais alternativas da nova música eletrônica européia.
Em época de temperaturas mais amenas, é legal sentar na esplanada e observar o movimento da cidade. Em dias mais frios, sentar dentro numa mesinha para ler um jornal ou conversar com amigos, degustando uma tábua de queijos nacionais e um bom tinto maduro.
Ah claro...isto quando a noite está só começando. Depois é “outros quinhentos”...
Abraço a todos e até a próxima!
 



segunda-feira, 1 de julho de 2013

Renato Russo Sinfônico: Um Espetáculo Para Ser Esquecido - Por Giba Carvalho


Tenho certeza de que a noite do dia 29/06/2013 deve ser esquecida. Tive a coragem de assistir à homenagem que resolveram prestar ao maior poeta do rock brasileiro. O concerto intitulado – “Renato Russo Sinfônico” foi um fiasco. Com certeza, Renato Russo revirou centenas de vezes no caixão para tentar tapar os ouvidos. Seguem comentários, música a música do que foi feito pelos “grandes nomes da música nacional”:
  • Banda de apoio  - “Fábrica” – Horrível! Certamente a banda do Faustão faz melhor;
  • Sandra de Sá – “Mais do Mesmo” –– Se alguém abriu a boca para dizer algum dia que Sandra de Sá cantava muito, irá se arrepender profundamente! Errando a letra, gritando o tempo todo e desafinado ao extremo;
  • André Gonzales – “Ainda é cedo” - Abaixo do tom. Terrível! Tentativa de cópia fajuta! Fez no palco o mesmo que faz na medíocre Móveis Coloniais de Acaju;
  • Zélia Duncan – “Eu sei” – Não inventou. Cantou com sua voz naturalmente grave. Ainda assim, com pequenos erro de execução que incomodariam qualquer pessoa que conhece a música em questão;
  • Jorge Du Peixe – “Soldados” – a execução do arranjo foi a melhor da noite. Já a execução vocal da música, eu resumo do seguinte modo: “Jorge Du Peixe, você só serve pra Nação Zumbi”;
  • Luiza Possi e Zizi Possi – “Pais e filhos” – já começou piegas. A escolha de chamar a mamãe Zizi e a filhota Luiza é mais óbvio do que água ferver no fogo. Pra variar, mais uma vez, a versão começou trágica com a “filhota” tentando chegar ao tom que Renato cantava. Depois disso, aconteceu uma das maiores tragédias já ouvidas na música nacional. Zizi Possi, você conseguiu superar aquele comercial insuportável de um disco seu em italiano! (Per amoreeeeeeeeeeeeee).  Parecia que estava cantando a música pela primeira vez.  É verdade que durante a execução, a “filhota” foi melhorando a interpretação (talvez por ver os apuros que “mamãe” estava passando), mas longe de ser algo no mínimo audível. A primeira vez que fiquei decepcionado mesmo, afinal, a letra de Pais e Filhos, tem aquela que considero a frase mais bonita do rock n´ roll nacional até hoje: “É preciso amar, as pessoas como se não houvesse amanhã.”;
  • Ann Marie Calhoun – “Por Enquanto / Quando o sol bater na janela do teu quarto” – execução normal e até o momento a interpretação mais refinada do show. O público cantou como nenhum outro. Achei estranho chamarem uma violinista americana para tocar a obra de Renato Russo. Tenho certeza de que ela jamais ouviu algo dele antes deste convite;
  • Ivete Sangalo – “Monte Castelo” – ao perceber que Ivete Sangalo seria a próxima a cantar no show, pensei: “E agora?” Claro que é complicado falar de uma artista que você simplesmente detesta tudo que ela faz. No entanto, procuro sempre ter o mínimo de bom senso com as coisas. “Ivete Sangalo sabe tudo de canto.” Quem nunca me ouviu dizer isto, atire a primeira pedra! Ela não fez nada de excepcional, não é a praia dela. Mas cantou. E cantou bem. Apenas um pequeno erro de tempo e uma coisa que acho terrível e que vários artistas fazem (principalmente nestas homenagens). Fingir que está cantando de “olhinhos fechados...sentindo aqueeeeeeeela emoção” e na verdade estar  olhando pra telinha pra saber a letra da música;
  • Lobão – “Perfeição” – sem sombra de dúvidas, a música mais atual pra realidade brasileira desde que foi composta. Um arranjo simplesmente tenebroso da Orquestra de Brasília. Uma interpretação de Lobão não pode ser algo de espetacular, mas no mínimo atina a curiosidade. O “reaça” (valeu Gustavo Paes), com seu jeitão peculiar escolheu a música certa e cantou como quis. No final, ainda tentou tirar uma “onda” de Renato Russo. Mas aí já é demais;
  • Ellen Oléria – “O Teatro dos Vampiros” - recordo que estava num barzinho chamado Espetinho Parnamirim quando na TV passava a final no famigerado programa - “The Voice Brasil”. Lembro que apenas uma única cantora chamou a minha atenção. Era uma menina da Bahia que cantava a brasilidade. No mais, todos os outros candidatos, sempre levavam consigo a influência insuportável do pior da música americana. Aquele jeitinho meio “Whitney Houston Forever”, cheio de vibratos desnecessários e tudo mais. A interpretação desta moça pra um dos maiores clássicos da Legião Urbana foi sofrível! Ah...ela que ganhou o programa?
  • Fernanda Takai – “Giz” – é verdade meus caros! Não há nada que abomine mais do que esta moça cantando. E vestida de Fred Flinstone ainda por cima... Na verdade, quem disse um dia que ela cantava alguma coisa? São estas perguntas que costumeiramente faço quando escuto suas “interpretações”.  Escolheram logo a música que Renato Russo mais gostava e deram para que um crime hediondo fosse cometido. Aqui pra nós, uma moça que precisa ser acompanhada em 90% da música pelo cantor de apoio da banda pra mim já diz tudo. “Te aposenta e vai cuidar dos teus filhos ou cantar em japonês minha filha!” 
  • Hamilton de Holanda – “Índios” – assim como os músicos da Legião tiveram o mérito de compor a canção original, o espetacular bandolinista Hamilton de Holanda teve o cuidado necessário para não desvirtuar a original e fazer o momento mais especial do show. Excelente interpretação;
  • Jerry Adriani – “Tempo Perdido” – foi o músico educado da noite. Solicitou palmas para os músicos de acompanhamento e para a “maravilhosa” Orquestra que acompanhava o “espetáculo”. No mais, foi o mesmo cantor “meia-boca” que sempre foi, desde a época da Jovem Guarda. Aquela mistura de rocker com tenor. Só pode dar numa merda de imensas proporções;
  • Alexandre Carlo – “Faroeste Caboclo” – para quem não sabe, o escolhido para cantar o maior clássico da Legião Urbana foi o vocalista da “pop-reggae” – Natiruts. Não houve mistério ou algo de especial no arranjo. Nada de muita dificuldade para a execução do rapaz, muito embora, algumas vezes parece que faltou fôlego para cantar a música. E ainda na primeira parte da canção. Meus amigos, quando entrou a parte “rock n´roll” da música o rapaz se borrou! Tenho certeza! “Fralda geriátrica nele, galera!” Como diria um amigo – “mais fraco do que choque de lanterna!”;
  • Renato Russo (em imagem) – “Há tempos” – “Disciplina é liberdade. Compaixão é fortaleza. Ter bondade é ter coragem.”
  • Medley – “Será” (com participação de Renato Rocha, ex-baixista da Legião Urbana que estava vivendo nas ruas). Um show de horrores. Sem mais!

É complicado e ao mesmo tempo fácil opinar quando se é fã. Cresci ouvindo as músicas de Renato Russo e tenho certeza de que ele merecia muito mais. No entanto, alguns fatos devem ser citados. Vivemos num país totalmente “idiotizado” em vários sentidos. No ramo musical, nem se fala. A pobreza cultural do que é vendido e divulgado é simplesmente a cara do povo. Não é à toa, que um “espetáculo” fraquíssimo como o assistido ontem, tenha lotação esgotada. Isto é carência! Daquilo que foi feito e que passou alguma coisa de importante para uma geração. Infelizmente os nomes que estiveram em cima do palco (sem generalizar) não condizem com a grandiosidade do artista. Mas, para a mídia, é o que é “vendável”. Já, já; outro CD - DVD – Blue-Ray deste show estará nas lojas. E assim segue a vida musical do Brasil. Um misto de saudade, putaria e péssimo gosto!

Observação - costumo citar que 90% dos críticos musicais do país são meros leitores de releases. Um dos maiores crimes contra a música nacional foi o idiota que afirmou: "Fernanda Takai é a nova Nara Leão".