segunda-feira, 4 de junho de 2012

Para Theo Vitorino - por Bruno Vitorino



A vida é de fato misteriosa! Para os céticos, é um emaranhado de vicissitudes aleatórias que se desdobram em inúmeros fenômenos que colidem entre si, criando, ao final, a densa trama chamada realidade. Para os religiosos, trata-se de um projeto divino de autoconhecimento com começo, meio e fim onde o indivíduo busca o aprimoramento moral através de suas ações. Já os niilistas defendem que a existência por si mesma não tem sentido algum e que toda a tentativa humana de significá-la não passa de uma ilusão. Dos filósofos pré-socráticos a Ana Maria Braga; todos tentaram decifrar seus enigmas.
Para mim, a vida é a imensidão oceânica do desconhecido que, resplandecendo em toda sua magnitude, ora nos repreende com suas adversidades e ora nos afaga com suas bênçãos. Assim, um olhar mais atento aos pequenos gestos do cotidiano revelará essas confidências nos atos mais corriqueiros. Um café quente num domingo chuvoso, o aperto de mão entre dois camaradas, o último parágrafo de um bom livro, um almoço em família, um acorde Maj7(#11) no primeiro grau; tudo isso soa a meus ouvidos como um murmúrio confidente e nesses breves instantes eu me sinto visceralmente conectado à vida!
Bruno e Theo
 Na quinta-feira passada, fui agraciado com a maior dádiva que poderia receber: a chegada de meu filho Theo. Até então, eu imaginava que a música me provia a experiência transcendental suficiente para transpor as contingências da matéria e tocar o abstrato através de melodias e improvisações. Quão ingênuo eu era... Ver meu filho nascendo foi o mais intenso e significativo acontecimento que vivenciei ao longo de meus 29 anos de existência. As lágrimas me vieram em torrentes e naquele exato instante eu senti na carne que o amor é o que há de mais esplendoroso. E eu me deixei consumir por inteiro!
Ao sair da maternidade, optei por mostrar a Theo o belíssimo álbum “Plays Duke Ellington” do pianista Thelonious Monk. Um disco muito especial para mim, porque expõe um Thelonious estranhamente delicado, quase minimalista sem suas idiossincrasias e as suas preciosas segundas menores, evidenciando uma robustez técnica de calar aqueles que enxergam nele um instrumentista limitado. Gravado nos dias 21 e 27 de julho de 1955, o álbum de estreia do Monk no selo Riverside virou um marco. Uma reverência de um mestre a outro.
Thelonious Monk - Plays Duke Ellington
“It Don’t Mean a Thing” tocava, olhei furtivamente pelo retrovisor e encontrei Theo no bebê-conforto com um semblante sereno e com o pezinho a balançar quase marcando o andamento do tema. Sorri! Contemplando o céu azul do sábado pela manhã, senti-me cheio de uma encorajadora esperança por compartilhar com meu rebento esse minuto. Foi como se o tempo tivesse parado por um momento para nos olhar e nos saudar. Uma oferenda gritante da bonança a dois indivíduos que acabavam de se conhecer e que se ligavam de modo indissociável. Que maneira fantástica de dizer “Seja bem-vindo, meu filho”!

13 comentários:

  1. Bruno, maravilhoso o texto! Que esses momentos se repitam frequentemente na vida de vocês. Um abraço grande e muitas felicidades.

    ResponderExcluir
  2. Belíssimo texto, Bruno. Bonança, meu caro, bonança! Abraço.

    ResponderExcluir
  3. A vida é tão frágil, tão fugaz...e, no entanto, há uma permanencia ritmada em seus intricáveis ciclos...Você foi saudado durante grande parte de sua primeira infancia com Blue Monk, do mesmo que agora embala a primeira trilha sonora de Théo.

    O fundamental é que este músico genial e a atmosfera de suas músicas, continuará por toda nossas vidas, a nos alimentar na decifração do enigma último que a torna o que é, "emaranhado de vicissitudes aleatórias que se desdobram em inúmeros fenômenos que colidem entre si, criando, ao final, a densa trama chamada realidade".

    Como já disse nosso poeta maior, em um de seus mais inspirados poemas, "Repara:
    ermas de melodia e conceito
    elas se refugiaram na noite, as palavras.
    Ainda úmidas e impregnadas de sono,
    rolam num rio difícil e se transformam em desprezo", pois todas as nossa respostas ao misterioso enigma da vida, serão por fim superadas pelo insaciável movimento que está no cerne das coisas. Mas isso, ao invés de nos intimidar, nos força a ir adiante, construíndo caminhos onde não há...

    O fundamental nessa Procura de Poesia é não temer ou assombrar-se com o vultoda empreitada, pois feitos de carne e sangue, nos exprimimos por meio de símbolos e/ou gestos. Qualquer que seja tenha em si, o calor e luminosidade da verdade que um olhar pode, em silencio, expressar.

    Contemple seu filho, como se contempla as palavras, "Cada uma
    tem mil faces secretas sob a face neutra
    e te pergunta, sem interesse pela resposta,
    pobre ou terrível, que lhe deres:
    Trouxeste a chave?"

    Ave Théo, os que vão viver te saúdam!!

    ResponderExcluir
  4. Bruno, da próxima vez que você escrever um texto como esses, por favor me avise.
    Estou chorando em cima do teclado e tenho certeza de que isso não é uma coisa boa prum aparelho eletrônico.
    Um texto divino, mas estou com ódio de você...
    Humpf!
    Espero um dia ter essa sensação que você teve, Bruno.

    ResponderExcluir
  5. Texto belo e poético, meu querido.. Cheio de indagações, mais que respostas, deixa-nos uma certeza: a Vida é Bela e nos chama a aproveitá-la plenamente. Curta muito nosso Theo e que a vida flua serena para este novo Ser, que hoje conhece também a sua Força.

    ResponderExcluir
  6. Parabéns, belo texto...e na experiência de ser pai há quase 4 anos, te aviso: inúmeros momentos iguais a esse virão pela frente...prepare-se para desfrutá-los ao máximo!

    ResponderExcluir
  7. Parabéns pelo belo texto... Emoção pura! Mas parabéns principalmente pela linda familia... Beijos pros três

    ResponderExcluir
  8. Cabeça,

    A vida a partir deste marco se mostrará diferente, você vai sentir a plenitude de ser pai, em muitos momentos servindo de apoio para o desenvolvimento do filho; noutros apenas observando o seu crescimento como pessoa, suas frases engraçadas, os seus gestos; depois compartilhando uma amizade intensa e finalmente vendo o filho alçar voo, construir sua própria vida. Desejo que você saiba aproveitar todos esses momentos. Eu estou nessa mesma experiência, difícil, intensa e gratificante. Felicidades para vocês.

    ResponderExcluir
  9. É isso aí velho!

    Abraço. Giba.

    PS - quero falar mais não, senão eu choro.

    ResponderExcluir
  10. Filho, lindo texto esse que você escreveu sobre meu neto...se você como pai, está sentindo tudo isso, imagina eu como avó! É um momento maravilhoso, e espero, não seja único (quero ter mais netinhos/netinhas). Que Theo seja bem vindo, que sua luz brilhe nesse mundo tão carente de pessoas iluminadas, que vocês sejam felizes, que fundamentem suas vidas no amor, na harmonia e no respeito mútuo.
    Filho, vocês me deram o maior presente que uma pessoa poder desejar: A VIDA!!!
    Felicidades,
    Cristina Monteiro (a avó mais feliz do mundo!!)

    ResponderExcluir
  11. Janaina Evangelista5 de junho de 2012 às 09:42

    só me veio uma palavra a cabeça ao ler teu texto Bruno:
    Transcedental!

    ResponderExcluir
  12. Não há mistério. A vida é dádiva de Deus e Theo é uma benção que me foi revelada em sonho. Menino que nasceu cercado de amor e crescerá sabendo que o amor é a maior dádiva da vida.

    ResponderExcluir
  13. Ana Letícia Vitorino5 de junho de 2012 às 22:23

    Nossa quantas palavras complexas, rebuscadas, nem sei dizer quem é o mais prolíxo, o pai ou o avô.
    Mas eu na minha humilde simplicidade, venho dar minhas boas vindas ao príncipe.
    Que antes mesmo dos seus pais pensarem em lhe gerar, você já era muito esperado, e a sua vinda a ser anunciada foi muito festeja por todos os que já amam os seus pais e que por osmose passaram a lhe amar, e muito.
    A ansiedade por sua chegada era grande, parecia não ter fim.
    Mas numa noite de quinta-feira, como tantas outras,você chegou e transformou o que poderia ser apenas mais uma noite numa verdadeira festa.
    Festa essa de lagrimas e sorriso,de abraços,ligações para comunicar a quem está longe a sua tão esperada chegada.
    Sim ele chegou, grande, forte,lindo e já muito amado por todos. A festa era tão grande que vez por outra alguém falava:" gente vamos falar mais baixo que estamos num hospital". Pois a euforia era e é grande pela sua chegada.
    Bem vindo Theo Monteiro Cruz Vitorino de Aguiar, bem vindo príncipe!!!

    ResponderExcluir