quinta-feira, 12 de julho de 2012

Meu Encontro com o Bip-Bip - Por André Maranhão



Estou em Botafogo num clima de férias. Férias, aliás, devidamente boêmias. Minha tese é a de que o morador do Rio de Janeiro deveria receber um auxílio boemia. Com tantas opções, paisagens e possibilidades, a cidade pulsa vida noturna em seus botequins e o morador do Rio não pode ficar desassistido! O carioca que paga o Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) deveria gozar de alguns descontos e benefícios nos bares, afinal, a boemia carioca é um patrimônio e deve ser exercida com afinco.

Resolvi escrever às 3h30 da matina, pois o tempo é corrido até para os farristas. Aí preciso partilhar uma série de fatos boêmios e indissociavelmente musicais que ocorreram comigo ontem em Copacabana, mas antes de entrarmos na noite carioca, voltemos para o Recife. Na Manguetown, meu amigo Giba C. Carvalho recomendou inúmeras vezes que eu lesse um livro do grande Moacyr Luz – Botequim de Bêbado Tem Dono - um compêndio de causos, biritas e afins sobre os botecos cariocas. De tanto ouvir Giba enfatizar o livro do Moa, a minha curiosidade por ele só fez aumentar em meio às nossas farras.

Não deu outra: quando a minha viagem para o Rio se aproximou, Giba me emprestou o livro do Moa, o que foi crucial para a minha estadia em terras cariocas. Comecei logo a lê-lo no avião e graças ao estilo leve e com um pequeno número de páginas, a conexão que fiz entre Recife-Campinas-Rio de Janeiro, passou rapidinho. Zerei o livro durante a própria viagem de ida. No caminho, fui debulhando a narrativa de Moacyr Luz, cujos personagens são conhecidos por muita gente, enquanto outra parte é íntima apenas para uma pequena leva de biriteiros.

Antes mesmo de eu ler ou até conhecer o livro de Moacyr Luz, Giba frisava bastante pra mim: “Bicho, se você for ao Rio não deixe de ir ao Bip-Bip”. Vejam vocês como é a vida. Após tantas recomendações, fui bater no Bip ontem!

Natália Biserra, minha amiga de infância que mora no Rio há cerca de cinco anos, sugeriu um passeio legal pra eu fazer ontem. O roteiro envolvia pontos dos mais variados. Quando pus as sugestões de Natália em prática, meu passeio ficou mais ou menos nesta sequência: Botafogo, Humaitá, Jardim Botânico, Gávea, Ipanema, Leblon, Ipanema (de novo!), Arpoador, enfim, Copacabana! Ufa! Bem, num dia daqueles que a gente acorda com sangue no olho, banquei o Fidípides de Esparta e cruzei uns 25 quilômetros a pé (fazendo um cálculo por baixo pelo Google Maps). Um soldado na Batalha de Maratona!

Após caminhar sobre uma parte considerável da Zona Sul carioca, eu já tinha em mente a decisão de voltar para Botafogo, pois estava meio fatigado do dia andarilho. Porém, eis que surge uma daquelas grandes surpresas. Voltando pela Avenida Atlântica, avistei um botequim chamado Aboim e na mesma hora lembrei que ele estava registrado numa das passagens do livro de Moacyr Luz. Pensei imediatamente: “É a minha chance. Tenho que parar aqui!”. Não deu outra. Parei!

O Aboim é de uma descontração incrível. Fui tomar a minha saideira tranquilo e comedido. Peguei uma latinha de cerveja geladíssima e logo na sequência, conheci um boêmio de carteirinha chamado Mário, um grande Botafoguense, perto dos seus sessenta anos. Mário perguntou o meu time e eu disse que torcia pro Náutico. “Ah, o Náutico quebrou a gente” – Recordou o jogo mais recente entre ambos os clubes, cuja vitória foi do Náutico por 3 a 2 nos Aflitos. Tendo em vista os novos ventos de contratações que o Botafogo recebeu, os amigos de Mário não perderam tempo e foram mais rápidos que o Adobe Flash Player: já batizaram o cara de Seedorf! Só pelo apelido dá pra imaginar a fixação dele pela Estrela Solitária.

O grande Mário foi de uma imensa gentileza comigo. De cara, me informou que embora o nome do boteco na placa tivesse escrito Aboim, ele era popularmente conhecido como Bunda-de-Fora. Depois, Mário me perguntou se eu já conhecia o Bip-Bip. Tal indagação me remeteu de bate-pronto às recomendações feitas por Giba ainda no Recife. Mário ressaltou a importância do Bip-Bip e ainda por cima se dispôs a me levar lá. Não antes de me apresentar a Paulo César Pinheiro, que tomava uma por lá. Eu meio sem jeito topei a apresentação. Paulo César tirou uma foto comigo, aliás, duas. Na primeira tentativa perguntou se a foto tinha ficado boa. Como a foto não tinha vingado bem, ele fez questão de tirar outra. Feita a sessão de fotos, me despedi de Paulo César ainda meio sem jeito, porém ao mesmo tempo fascinado por ser apresentado àquele monstro da canção brasileira; ao cara que escreveu a espinha dorsal de Leão do Norte e juntou tantos símbolos ligados a Pernambuco numa canção, sendo ele incrivelmente um carioca imortalizado por construir letras de grandes sambas.  

Saindo do Aboim, com Mário, percebi sua popularidade nos botecos da redondeza. Mário era um conselheiro tutelar da cachaça! Falou com Deus e o Mundo em Copacabana, e enquanto parava para interagir com os amigos, dizia: “Este aqui é um rapaz do Recife, que veio pesquisar sobre os botecos cariocas. Eu tô levando ele pro Bip-Bip!”. Antes do Bip, ainda paramos no Ellas, outro boteco na mesma rua. Tomei mais duas ampolas de cerva com Mário e ainda por cima sentei à mesa com seus amigos.

No Bip-Bip, Mário me apresentou ao Alfredinho, o “proprietário” do estabelecimento, uma figura antológica da boemia carioca. Quando entrei no bar percebi que se tratava de um recinto inigualável. Um dos locais mais anárquicos onde bebi, de tal modo que Alfredinho não cobra a conta a ninguém! Pelo contrário, é o bebum que vai até Alfredinho e paga a sua parte no boca-a-boca. A maior coisa que o Alfredinho preza no Bip não é a grana, é a música. E da forma que ele preza parece não ter preço mesmo! Num espaço curtíssimo, encontrei fotos de figuras como João Bosco, Aldir Blanc, Moacyr Luz, Sérgio Nogueira. Todos eles deram diversas vezes o ar da graça no Bip-Bip.

Alfredinho logo me convidou para a apresentação de Renato Braz que começaria cerca de vinte minutos. Embevecido com todo aquele ambiente, topei na hora e ainda por cima convidei minha amiga Natália pra lá. Ela assistiu comigo ao show de Renato Braz ao violão e cantando à capella. Foi encantador. Enquanto Renato cantava, ninguém dava um pio e público só se manifestava após o final de cada número tocado. Basicamente, as manifestações eram ou alguma mudança de posições (para ver melhor a apresentação) ou pegar mais uma cervejinha no freezer (pra acertar tudo com Alfredinho no final do show, no boca-a-boca).

Pra fechar com chave-de-ouro, eu e Natália demos um jeito e ligamos pra Giba, que tanto frisou a importância do Bip-Bip em diversos momentos pra mim. E o mais incrível é que Giba comemorava o dia do seu aniversário no Bar Frontal em Recife enquanto eu tomava uns porres no Bip-Bip. Não tive dúvidas: Fazendo uma conexão-boemia, passei o telefone para Alfredinho que por sua vez mandou aquele beijo e abraço para Giba. É, meus amigos, a boemia não é escrava da distância!

domingo, 1 de julho de 2012

Lock, Step e Gone - Os 20 anos do Rancid - por Gilberto da Costa Carvalho


 
Falar do Rancid é complicado. São 20 anos de história que se confudem com uma parte essencial deste que vos escreve. Todos sabem que meu fascínio por bandas punks não é de hoje, no entanto, algumas ganharam meu respeito por não se dobrar a nada. Por remar contra a corrente e seguir seu caminho com muita dignidade.

A importância do Rancid, vem das palavras de Joey Ramone num dos Lolapalloza iniciais - "O Rancid é o futuro do punk rock. Eles são os Ramones melhorados!"

Em comemoração as duas décadas a banda começou a soltar alguns presentes para os fãs do mundo todo. Um deles é o que posto aqui. Uma apresentação antológica no Japão em 2004. Ainda com a formação clássica e histórica:

Tim Armstrong - Vocais e Guitarra
Lars Frederiksen - Vocais e Guitarra
Matt Freeman - Vocais e Contrabaixo
Bret Reed - Bateria

Honestamente, é uma das maiores porradas já vista na minha vida. Um show só de clássicos! Principalmente daqueles que para mim são os maiores discos dos anos 90 do estilo: And out come the wolves - 1994 e Life won´t wait - 1996. Quando falo sobre estes dois discaços, falo de tradição. O Rancid é uma das poucas bandas que não puxaram pro lado extremamente melódico que o estilo tomou com o dito "punk californiano". Curioso é que os caras são californianos, mas foram beber da fonte: Nova Iorque! No subúrbio de Manhattan é que o estilo se mantém vivo.

Para aqueles que ainda falam da simplicidade musical das bandas punks eu afirmo que o Rancid tem dois diferenciais. Lars Frederiksen que é um excelente guitarrista e, principalmente, Matt Freeman que é um dos melhores contrabaixistas do mundo.  O que ele faz em Maxwell Murder, sexta música da apresentação, é digno de uma estátua em praça pública.

Quer uma prova? Clica aí embaixo e anima teu domingo.





Para Angelo, Vareta, Romero, Cagão, Chorão e Ravi. Viva ao Lixo Tóxico.