segunda-feira, 26 de março de 2012

Quando o Jazz encontra o coração - por Dom Angelo


A música do século XX está marcada por diversos momentos de transformação e evolução de conhecimento intelectual, quer seja nas concepções de harmonia, melodia, ritmica, tessitura, quer seja no uso da tecnologia como veículo de abertura a exploração de novos timbres e possibilidades infinitas de composição e arranjo.
Da mesma forma que cientistas buscam abrir caminho a territórios inexplorados desta selva sem fim do conhecimento humano, no mundo das artes algumas figuras são responsáveis por caminhar no vale das sombras das incertezas lúdicas, dando metaforicamente a “cara a tapa” em defesa de suas análises da produção de conhecimento.
Ora, ora. Como em todo ramo de pesquisa, há experimentos que dão certo e os que dão errado. Não quer dizer que os que dão errado não sejam um dado científico. São sim. Porém ficam registrados com um aviso na porta: “não entre, por aqui você não chega a lugar nenhum”.
Eu poderia citar aqui centenas de artistas e grupos que se aventuraram apenas pelo caminhos frios da racionalidade teoricamente acumulada em seus cerebelos. Principalmente aqueles oriundos de correntes vanguardistas como os do Free Jazz, Avant Garde, Música Eletrônica¹, Pontilhismo, Serialismo, e muitos outros. E posso afirmar que 80% deles manifestaram-se com notas gratuitas, oriundas exclusivamente do consciente lógico.
Em contraponto a isso, é de extrema importância afirmar que já alguns artistas foram extremamente necessários para quebra de fronteiras dentre os rígidos padrões ditados como belos. Schoenberg, Webern, Stravinsky, Miles, Coltrane, Monk, Cage, Shostakovich, Prokofiev, Boulez, Villa-Lobos, Hermeto, dentre outros, são apenas alguns desses gênios transformadores.
Bom...na minha forma romântica e clássica de encarar a arte, parece me fisgar mais facilmente o artista que compartilha um pouco de sua sinceridade emotiva, mesmo que esta apareça sob a “roupagem” e a “maquiagem” da técnica científica.
Me surpreendo quando um dos maiores representantes do jazz contemporâneo, o pianista Brad Mehldau, diga-se de passagem extramamente técnico e virtuoso, oferece aos seus ouvintes uma bela versão instrumental da música “Teardrop” do grupo de Trip Hop Massive Attack, de sua versão de “Hey You” do Pink Floyd ou mesmo de todos seus arranjos para as músicas do Radiohead. Acho incrível quando a cantora Madeleine Peyroux grava sua versão jazzística para a música “Between the Bars” do falecido compositor folk-indie Elliott Smith. Acho maravilhoso quando um grupo de Jazz moderno, experimental e virtuoso como os The Bad Plus interpretam uma música como “Smells Like Teen Spirit” ou “Every Body Wants to Rule the World”. Acho belo quando o artista se rende a este dom que todos seres humanos carregam consigo em entrar em sintonia com as vibrações etéricas. Movimento, vibração, transformação. E quando nos abrimos aos nossos sentimentos (sem breguice!) de forma espontânea de encarar a vida, vimos beleza em mais coisas que imaginávamos e o mais perto de nós.
O problema é que fazemos idéias e projeções do que é bom, do que é belo. E esquecemos de observar o presente. O aqui e o agora. A única realidade do hoje.
Se sintonizarmos com o AGORA, a dança da vida fica com mais swing.

¹ Entende-se “música eletrônica” aquela ligada as escolas eruditas.

domingo, 25 de março de 2012

Análise financeira e não musical - Gilberto da Costa Carvalho



Muita polêmica foi criada em torno dos preços dos grandes shows que ocorrerão em Recife no mês de Abril. Não irei falar do show do Los Hermanos, por se tratar de um festival. Tentarei explicar o que resolvi fazer depois de tanta polêmica. No texto sobre Chico Buarque escrito por Bruno Vitorino aqui no blog, um dos questionamentos principais foi o lucro que o referido artista iria obter com suas apresentações em Recife e o valor de R$350,00 cobrado pelo mesmo.
Resolvi ir para as contas, e fazer um comparativo entre os shows de Chico Buarque e do seu pior pesadelo, que atende pelo nome de Paul McCartney.
Utilizando a internet, fui buscar os preços dos shows de Paul McCartney no Uruguai (dia 15/04), Recife e Florianópolis, consegui os valores envolvidos nas apresentações de Chico Buarque no Rio de Janeiro e Recife e fiz um comparativo.

Analisando Paul McCartney


  • O primeiro ponto que devo ressaltar é a estrutura. Já estive presente ao show de Paul McCartney ano passado no Estádio do Engenhão - Rio de Janeiro. Tudo de primeira qualidade, organizado e com preocupação para o conforto do público. O palco é imenso, com equipamentos de última geração e 3 telões gigantestcos para que todos possam curtir o show. Informações extra-oficiais afirmam que R$7,5 milhões estão envolvidos entre cachês e gastos com estrutura.
  • O preço dos ingressos é condizente com o que irá ser apresentado ao público. A diferenciação dos preços em relação a Recife e Floripa, é a quantidade de público. Em Recife, 60.000 ingressos colocados à venda. Exatamente o dobro que será colocado para o público que irá ao show no Estádio da Ressacada.
  • Dentre os shows de Recife e Florianópolis, o que irá gerar mais lucro é o de Recife. Tendo como média de preços R$340,00, a apresentação de Paul no Recife, terá números em torno de R$20,4 milhões. (Reduzindo os 7,5 milhões entre cachês e estrutura, vejam quanto os empresários irão lucrar, depois de honrar seus compromissos).
  • O show de Montevidéu é o que irá gerar maiores números entre os três envolvidos na análise. Com os 60.000 ingressos já esgotados, este show terá números girando em torno de $U 248 milhões. Convertendo para a nossa moeda ( $U - 0,09292 ), chegamos a um valor que gira em torno de R$23,0 milhões.
  • O que mais me preocupa em relação ao show do Beatle, é o que as autoridades competentes irão fazer para facilitar a vida do público. No show do ano passado no Rio de Janeiro, a cidade inteira se preparou para recebê-lo. Saí da extrema zona sul do Rio (Baixo Gávea) e pagamos exatamente R$8,00 para o Ticket Paul McCartney, que envolvia todas as passagens de ônibus - metrô e trem que nos deixou na frente do local do show.  Com relação ao Estádio do Arruda não tenho preocupações. O que me deixa com a pulga atrás da orelha são duas coisas: acessibilidade e segurança do público (principalmente na saída do show). Ao trazer um show deste porte, espero que os governantes pensem e se planejem porque o caos pode ser absoluto, tenham certeza! Fica o alerta - "Não subestimem Paul McCartney".

Analisando Chico Buarque


  • A primeira coisa que critico em relação ao show de Chico Buarque é o aumento do valor do ingresso em relação ao público do sudeste. Os shows do Vivo Rio, terão média de preços de R$243,33, já os que ocorrerão no Teatro Guararapes tem média de preço de R$245,00. Muitos podem afirmar que a diferença é mínima e eu não aceitarei por um motivo real. A renda financeira do público do Sudeste é mais alta que no Nordeste. 
  • A justificativa de que o show não tem apoio de nenhum orgão governamental é ridícula! Que o material é todo trazido de avião para a estruturação do show é patética! Já estive em show de Chico Buarque e garanto que a estrutura é ínfima junto da que Paul McCartney traz para as suas apresentações. Desculpem, é inevitável não comparar.
  • Vamos aos números. Nos shows de Recife, o lucro médio do artista por apresentação será de R$580,5 mil reais. Como são 4 shows, seus lucros girarão em torno de R$2,3 milhões. No Rio de Janeiro, inicialmente serão 8 shows ( já se comenta a encomenda de mais 8 shows extras), com média de lucros de R$973,3 mil reais por apresentação e chegando nos R$7,8 milhões com 8 shows (não esqueçam a possibilidade de mais oito apresentações).
  • Insisto em falar em gastos irrisórios com estrutura, afinal, é num teatro que já tem palco, som, luzes e etc... Ainda vou mais além na questão do Pagamento dos músicos. Raros são os artistas que fogem da tabelinha da Ordem dos Músicos. Obviamente que um Wilson das Neves e outros grandes músicos que acompanham Chico Buarque não iriam aceitar valores vinculados à Ordem. Mas, será que ele pagaria deste montante de R$2,3 milhões, R$20.000,00 para um músico acompanhá-lo? Vocês sabem a resposta.
Esta foi uma tentativa de explicar os valores financeiros envolvidos nas apresentações. Não irei opinar sobre o talento dos envolvidos, musicalmente falando. Apóio a vinda de grandes nomes da música para o Estado. Espero que com este show de Paul McCartney, Pernambuco seja incluído no roteiro das grandes apresentações (fato aguardado e não realizado, desde a primeira apresentação dos britânicos do Iron Maiden). E, espero também, que o Governo do Estado e a Prefeitura, coloquem o show de Chico Buarque de graça no Marco Zero afinal, a este preço podemos dizer que a MPB virou MEB - Música Elitista Brasileira. Até lá - "Novinha vai, novinha vem."

Comentário - É engraçado ver como as pessoas mudam. O maior esforço da internet agora, é vender os ingressos do show de Chico Buarque. "Um pesadelo chamado Paul McCartney" veio assombrar os cifrões e o prestígio dos olhos azuis.  

Observação - Quem tiver curiosidade, clica em cima da tabela que ela aumenta. 


 

 






segunda-feira, 19 de março de 2012

Aos Trancos e Barrancos: John Zorn em São Paulo - Bruno Vitorino

John Zorn

    Em sua essência, a música requer movimento constante! Uma busca perene por novos caminhos expressivos que melhor representem as paisagens sonoras imaginadas por um compositor. Às vezes, ele encontra o que procura, e outras vezes não. Contudo, cabe a esse indivíduo que manipula e estrutura os sons (desde que sério e íntegro) ao menos tentar. Sábio é o artista que imerge no mundo que o cerca e se alimenta de toda e qualquer manifestação humana que encontre a fim de criar algo novo. John Zorn é definitivamente um desses artistas que se lançam numa investigação infindável do mundo material (realidade). Fugindo do perigo da zona de conforto, o saxofonista se coloca em xeque a todo instante para sempre se reinventar e descobrir novas possibilidades na música.

     Nascido em Nova Iorque em 2 de setembro de 1953, começou a estudar piano, guitarra e flauta ainda na infância assimilando do jazz e folk music ouvido por seus pais aos compositores eruditos do século XX que descobriu em seus estudos. Seu contato com o Free Jazz se deu na Webster College em Saint Louis e sua vida mudou radicalmente quando, em 1969, ouviu o disco “For Alto” do saxofonista Anthony Braxton. Decidiu que deveria adquirir um sax alto e se dedicar ao instrumento. Retornou a Nova Iorque em 1975 e desde então se estabeleceu como uma das figuras-chave da cena free da cidade aglutinando vários instrumentistas interessados na perspectiva aberta de seus escritos.

    Prolífico compositor, Zorn expõe sua pluralidade em vários projetos com as mais variadas formações e enfoques: Pool, Lacrosse e Cobra (esquemas improvisativos ditados por cartas, como num jogo); News for Lulu (um trio de jazz com o guitarrista Bill Frisell e o trombonista George Lewis); Naked City e The Painkiller (uma mistura de thrash metal, folk, japanoise, jazz); Film Works (trilhas sonoras para filmes); dentre outros inúmeros. Além de sua produção autoral, ele também se dedicou a reinterpretar outros ícones: Spy vs Spy (a música de Ornette Coleman); The Big Gundown (um épico dedicado à obra de Ennio Morricone); Sonny Clark Memorial Quartet (tocando apenas composições do pianista Sonny Clark).

     No início dos anos 1990, após a morte de seu pai, John Zorn teve uma epifania e se voltou para suas raízes judaicas, fundando assim um de seus projetos mais aclamados: Masada. Originalmente um quarteto[1] formado por Zorn (sax alto), Dave Douglas (trompete), Greg Cohen (contrabaixo acústico) e Joey Baron (bateria); o Masada traz uma nova abordagem da música tradicional judaica, enxertando nela elementos jazzísticos e de improvisação livre.
Masada: Dave Douglas, John Zorn, Joey Baron e Greg Cohen (esq. p/ dir).
     Assim, quando Dave Douglas postou no Facebook em janeiro que a formação clássica do Masada entraria em turnê na América Latina, tratei logo de me informar sobre os concertos no Brasil. A oportunidade de ver um dos combos mais importantes do jazz contemporâneo (e que muito me influencia) me deixou bastante animado! Descobri que estavam previstas duas gigs por estas terras: dia 16 de março no Teatro Tom Jobim no Rio de Janeiro e dia 17 de março no Cine Joia em São Paulo. Por gostar muito da cidade, optei por São Paulo e paguei os R$ 100,00 pelo ingresso.

     Antes de discorrer sobre a apresentação, gostaria de tecer alguns comentários tanto ao lugar escolhido para o concerto quanto ao público presente.

    O Cine Joia é um espaço charmoso! Localizado no bairro da Liberdade, funcionou originalmente como cinema, depois como igreja pentecostal e finalmente como casa de espetáculos. Nos dizeres da produção, o Joia abre “as portas com toda a infraestrutura necessária para receber bandas de médio porte dos mais variados estilos musicais”. De fato, a estrutura é notável, mas para a música pop. Deixo claro que não se trata aqui de preconceito, e sim de reconhecer as nuanças das diversas manifestações da música e suas implicações.

    Seria coerente um show de um grupo como o Atari Teenage Riot sendo realizado num teatro com o público calmamente sentado a ouvir contemplativamente?! Obviamente que não! É necessário se mexer, interagir aos gritos, tomar umas cervejas, cantar junto e tudo mais. Por outro lado, alguém consegue imaginar um concerto de jazz com pessoas em pé a se mover, falando alto o tempo todo, fumando e bebendo cervejas? Não! A razão: essa música é frágil, fugaz e requer concentração tanto dos instrumentistas quanto da audiência para ser plenamente concebida/captada. E foi exatamente esse ambiente (hostil) que o Masada e aqueles poucos que foram efetivamente ouvir o quarteto encontraram.

     A insatisfação de John Zorn era clara e em alguns momentos, palpável! Até onde pude contar, vi-o repreendendo por três vezes um rapaz que insistia em lhe tirar fotos com flash. Uma mulher berrava: “Vai, Corinthians!”, outro gritava: “Gostoso!”; durante os improvisos... Ao meu lado, uma senhorita que não fazia a menor idéia do que se passava diante de seus olhos tagarelava e pavoneava sua vã sofisticação para todos que pudessem ver. Um breve arrependimento me veio à cabeça de modo que pensei quase sem querer: “Deveria ter escolhido o Rio!”. Foi preciso certo esforço para focar na música...

    Apesar das adversidades, ver o Masada em ação foi uma experiência magnífica! O entrosamento construído pelo grupo ao longo de 19 anos de estrada é impressionante. A comunicação é telepática! Bastava um simples gesto de Zorn para que os demais dissolvessem o tema e outro aceno para que o recompusessem e o levassem adiante. Intensidade e movimento, elementos bastante caros ao saxofonista!

     Em “Mibi”, o quarteto mostrou o quão alto pode voar alternando melodias angulosas com ruídos e efeitos, estruturas definidas com momentos de puro caos. Tudo sempre conduzido por Zorn. Já em “Beeroth”, imperou o solo avassalador de Joey Baron. No delicado tema “Tharsis”, Greg Cohen despejou sobre todos sua plenitude melódica e sua beleza de timbres com um improviso extremamente sentido em sol menor. Com “Piram”, o Masada tirou o fôlego de todos com o trompete alucinado de Dave Douglas e com Zorn em sua respiração cíclica lancinante. A última composição apresentada na noite (o segundo bis) foi “Hath Arob”. Parecia uma brincadeira o que os quatro faziam. O tema principal se decompunha com tanta rapidez à medida que se sucediam os esquetes sonoros que era difícil de acreditar. Uma aula de dinâmica e controle!

     Falando do Masada, Joey Baron disse à revista Rolling Stone Brasil que “muito da música com a qual as pessoas têm sido golpeadas hoje em dia é produto, são negócios. Somos artistas, amamos música. Nossa razão para fazer música é o amor. Somos curiosos e interessados por ela, queremos pintar uma imagem do mundo através dela.” Após o concerto, demorei algum tempo a voltar a mim. Saí do Cine Joia maravilhado com o que presenciei: o jazz sendo tratado como matéria viva, em desenvolvimento. E a julgar pela folia que fazia o meu filho na barriga da mãe depois dessa experiência, acredito que mais um indivíduo fora convencido de que a música é algo que vale a pena amar.


[1] Os desdobramentos desse projeto levaram Zorn a escrever mais de 600 temas que foram executados pelo quarteto e outras formações: trio de cordas, piano solo, cello solo, quarteto de vozes, piano trio. Existe uma vasta discografia para esse projeto editada pelo selo Tzadik do próprio John Zorn.

quinta-feira, 15 de março de 2012

A última febre - Gilberto da Costa Carvalho



Há alguns anos atrás, escrevi um texto intitulado - "Por onde andam os revolucionários?". Nele, tentei explanar como seriam as reações de Renato Russo e Cazuza hoje em dia em termos de política. No entanto, a situação teve um agravamento violento, principalmente em termos de rock n´roll. Puxando pela memória, pude constatar que a última grande febre do estilo, foi nada mais, nada menos do que Anna Julia. Sucesso absoluto em todas as esquinas e buracos deste país. Assaz preocupante! 
A referida música era do primeiro, e inegavelmente mais simplório disco do Los Hermanos. Segundo, não era a melhor música do disco. Terceiro, e mais agravante - Os quatro barbudos, são inegavelmente, a última banda de destaque do rock nacional. E olhe que já se passam quatorze anos, desde aquele Abrilprorock de 1998. E, venhamos e convenhamos, depois deste primeiro disco o Los Hermanos nem foi tão "rock" assim.
Durante todo este tempo, tentei procurar algo de interessante e que viesse a chegar perto da essência do imortal rock n´roll. Me deparo atualmente, com três realidades distintas:

1 - "As viúvas do Los Hermanos" - Aquelas bandinhas que acham lindo cultivar o amor, os passarinhos, uma formiga carregando uma folha, um sorvete e que adoram colocar metaleiras nas suas músicas. (Ah, não posso esquecer o circo como regra vital). Exemplos básicos - Móveis Coloniais de Acajú, Malu Magalhães, Orquestra Imperial, Gram (que não era tão ruim assim), o tenebroso Teatro Mágico e, mais recentemente, A Banda mais bonita da cidade, que não passa de cópia de uma turminha estrangeira. Mas, "o amor é lindo", a carência das pessoas me parece ter proporções gigantescas e ficam todos no aguardo do mais novo "mantra fofinho".

2 - "Os sertanejos de guitarra" - O que falar destes seres, que dizem um dia na vida ter ouvidos as clássicas bandas de punk rock, e jogam no ouvido da pessoa uma sorte de baboseiras, pieguices e refrões sofríveis,  com cheirinho de chiclete e lágrimas? Honestamente, o "hardcore melódico" nacional é um lixo de primeira grandeza! Os "criativos punk rockers" nacionais, preferiram se tatuar, pegar a estrutura musical e jogar letras destes cantores sertanejos que acabam com o bom humor de qualquer elemento. Exemplos - Fresno, NX Zero, Banda Cine, a terrível CW7 e o que falar do Restart?

3 - A cena independente, esquecida e sem apoio do rock nacional. Não irei me alongar no que tenho a falar pois, prefiro que as bandas toquem.

Black Drawing Chalks - Goiania (berço do Sertanejo)



Velhas Virgens - São Paulo (Com cara de Rock n´Roll)



Estes são apenas dois exemplos. A primeira banda, é da nova geração e, ironicamente, da terra maternal deste sertanejo fajuto que toma conta das rádios e da cabeça de milhões de alucinados. A segunda banda, tem 25 anos de história e se intitula como - "A maior banda independente do Brasil". Afinal, todos os trabalhos até hoje foram gravados por recursos próprios e com a ajuda dos fãs, o que é louvável!

Honestamente, espero que a cena independente tenha cada vez mais vida. Não podemos viver apenas de músicas de rock n´roll para trilhas de novelas. É uma falta de respeito com as bandas e principalmente com os ouvintes. Precisamos ter uma visão mais atenta a estes talentos. Só assim, o rock nacional poderá sair do coma que se encontra há quase duas décadas.

terça-feira, 13 de março de 2012

Os 100 guitarristas - Fernando Lucchesi


Quem me conhece sabe que sou fã de listas. Inclusive temos uma comunidade no facebook somente para listas (de filmes, músicas, shows, livros, etc). Meu primeiro texto desse blog não seria sobre listas (talvez mais tarde o publique). Mas veio muito a calhar a edição de fevereiro da Rolling Stone Brasil, que apesar de ser por demais engessada pelo formato da filial americana (inclusive com reportagens chatíssimas sobre aquecimento global e moda) é a única publicação musical de relevância na mídia nacional (Não, não considero a Billboard relevante, a não ser que você seja fanático por números, numa época em que a indústria fonográfica apresenta números cada vez menores de vendagem).
A capa dessa nova edição traz como chamada “Os 100 maiores guitarristas de todos os tempos”. Listas como essas são sempre complicadas de fazer, seja pela subjetividade do que é bom e do que é ruim, seja pela falta de critérios específicos para julgar. Exemplo disso é a lista da mesma publicação que trazia “As 500 maiores músicas de todos os tempos”. A prova maior de quão difícil é agradar a quem irá ler a referida lista é que o nosso colaborador Gilberto Carvalho, publica diariamente( ou quase diariamente) cada uma das 500 músicas escolhidas( que agora está no número 184, com Please, Please Me dos Beatles) no seu perfil do facebook e raramente há unanimidade nos comentários de cada música.
A lista dos guitarristas(como qualquer outra) apresenta muita coisa óbvia, muita coisa absurda e muitas ausências sentidas (obviamente essa classificação é minha). Vamos começar pelo óbvio (na verdade, MUITO óbvio) TOP 10. Hendrix, Clapton, Page, Richards, Jeff Beck, B.B King, Chuck Berry, Van Halen e Pete Townshend( The Who). Se vocês observaram bem, citei apenas 9 porque o nono da lista realmente me surpreendeu: Duane Allman da Allman Brothers Band. Confesso que conheço pouco do Alman Brothers (se não me engano, ouvi apenas um ao vivo no Filmore East). Não duvido de sua capacidade como guitarrista, nem contesto que ele esteja entre os 100, mas nono lugar? Esse é um típico “mistério de lista”!
Agora aos absurdos, que dividirei em absurdos de estarem na lista e absurdos de posição na lista. Os absurdos de estarem na lista: Prince (honestamente esse não é um mistério de lista, é um mistério da humanidade: Por que se dá tanto valor a esse cara até hoje não consigo entender), Jerry Garcia do Grateful Dead (até gosto da banda, mas os solos dele sempre me pareceram desnecessários e “viajados” demais até pra quem gosta de música psicodélica, como eu), Ron Asheton dos Stooges (sou fã confesso da banda, mas Ron Asheton é um guitarrista apenas mediano, apesar de ter produzidos “hinos” do Punk como “Search and Destroy” e “I wanna be your dog”), Kurt Cobain (impossível questionar sua importância pro rock, mas classificá-lo como um dos cem maiores guitarristas me parece exagero),,James Hetfield do Metallica (é bom guitarrista, mas milhas distantes de Kirk Hammet, ausente da lista), Steve Jones do Sex Pistols( esse, quando eu vi na lista, quase me fez ter um treco. Pequeno detalhe: ele está uma posição à frente de Alex Lifeson do Rush), Thurston Moore do Sonic Youth (tem quem goste daquele excesso de distorção e microfonia, mas definitivamente, não é o meu caso).
Enfim, há vários outro na lista que eu não posso nem questionar por total desconhecimento, mas há um na lista dos absurdos que gostaria de comentar por último: John Lennon.Quem me conhece sabe que sempre fui um grande fã dos Beatles. Sei que haverá uma grita violenta por ter colocado ele nos absurdos, mas realmente não consigo vê-lo como um grande guitarrista (não contesto de forma alguma ele como compositor, mas como guitarrista, nunca foi exímio, muito menos genial quando a tocava).
Já os absurdos da posição (aqueles que merecem estar na lista, mas foram super valorizados ou subestimados) são os seguintes. O primeiro é sem dúvida Robert Johnson. Colocar um guitarrista da importância dele em 71º é por demais injusto. Só para dar um exemplo Jack White (que até gosto como guitarrista) do White Stripes está na frente dele. Outro que discordei muito foi Jonny Greenwood do Radiohead. Excelente guitarrista, brilhante na mistura de texturas entre guitarra e som eletrônico, mas está à frente de Ritchie Blackmore do Deep Purple, que considero mais guitarrista que Greenwood. Outra Injustiça gigante: Joe Perry do Aerosmith em 84º? Atrás de Kurt Cobain, John Frusciante (bom guitarrista), Jack White e The Edge? Essa é daquelas que deixa o cara sem entender nada! Obviamente que há muito mais dessas escolhas que acho injustas, mas meu objetivo é apenas citar algumas e não promover um análise completa do que achei da lista.
Por último, ausências muito sentidas. A primeira de todas, para mim, é Steve Vai. Grande guitarrista, autor de grandes solos e ótimo riff maker. Outro, já citado anteriormente foi Kirk Hammet do Metallica. Algo que percebi nessa lista foi a ausência de guitarristas de heavy metal e de guitarristas solo (como Joe Satriani e Eric Johnson). Sou daqueles que não tem nenhum apreço pelo estilo Heavy Metal, mas me pareceu injusto ignorar alguns expoentes do gênero (salvo raras exceções, como Dimebag Darrell do Pantera)
Algo que sempre discuti com meus amigos foi a eterna dicotomia do que torna um guitarrista grande: a emoção da sua música ou a virtuose, o domínio da técnica? A verdade é que não há um consenso sobre isso. Dou como exemplo uma discussão eterna entre eu e Gilberto: ele consegue enxergar virtudes em Yngwie Malmsteen tocando blues, por exemplo. Pra mim, Malmsteen é a personificação do que há de mais chato, atrasado e petulante na música. A melhor definição que ouvi dele, foi na saudosa Bizz: “...uma máquina de reproduzir notas na velocidade de um fórmula 1.” Enfim, essa é uma discussão para outro post. Em breve postarei um texto sobre o número um da lista.

sexta-feira, 9 de março de 2012

"Ah, Se Já Perdemos a Noção..." - Bruno Vitorino


Chico Buarque irá se apresentar em minha cidade e isso me deixou bastante incomodado! “Absurdo”, bradariam esbaforidos os detentores da verdade e do conhecimento! No entanto, convido os dois ou três leitores que se aventuram a passar a vista por estas linhas a dizer: talvez... Existem causas e desdobramentos muito palpáveis em meu mal estar e é sobre eles que me debruçarei.
Não gosto de dogmas por uma razão simples: eles se baseiam na submissão irrevogável à certeza. E quais certezas temos nesta vida, senhores? Até onde sei, o mundo é constituído senão de dúvidas e são elas que movem a humanidade. Portanto, se nas questões mais materiais não encontramos a tão falada verdade universal, o que se dirá a respeito dela na arte? Logo na arte que se baseia no subjetivo!
Atiro então a primeira pedra: o senhor Chico Buarque sempre me pareceu superestimado enquanto poeta e músico! De fato, ele tem um cancioneiro com mais de 350 músicas, mas ataco novamente: dessas, quiçá 10 sejam geniais. E vou mais além, meus caros: a grandeza de boa parte dessas 10 canções deve muito aos parceiros do sr. Buarque. Se me permitem, far-me-ei mais claro. O que seria de “Eu te Amo” sem a harmonia cromática de Tom Jobim? Ou de “Samba de Orly” sem os acordes de Toquinho e as palavras também ditas por Vinícius de Moraes? E de “Cio da Terra” sem o tino de Milton Nascimento? E ainda de “Cálice” sem as idéias melódicas de Gilberto Gil?
Sigamos, contudo, meus leitores! Se é que ainda há algum a essa altura... E se eu estiver completamente equivocado – como eu gostaria – nessa minha assertiva? E se Chico Buarque de Holanda for um gênio vivo? Tudo bem, aceitarei essa premissa. Entretanto pergunto: isso justifica cobrar ingressos que custam em média (aritmética simples) R$ 265,00 num país onde o salário mínimo é de R$ 622,00!? Façamos as contas: multiplicando os 9.200 ingressos disponibilizados para as quatro apresentações que o artista fará em Recife pelo valor médio da entrada, chegamos ao montante de R$ 2.438.000,00. Escreverei por extenso para os devotos do poeta: dois milhões, quatrocentos e trinta e oito mil reais é o que renderá a vinda deste senhor ao Recife.
“Qual o problema, meu caro? Trata-se aqui de um verdadeiro gênio!”, pode estar pensando o meu leitor. Para este, eu replicarei que em termos de gênio, em novembro de 2010, tive a oportunidade de assistir ao concerto de um dos maiores nomes da história da música: Ornette Coleman. E paguei módicos R$ 40,00 (quarenta reais) para ver e ouvir uma lenda viva que continua a se reinventar aos 80 anos de idade! Por que então haveria eu de pagar um valor tão exorbitante para assistir a um compositor que há 20 anos (ou mais) parou no tempo e nada mais é do que cópia de si mesmo? Se o intuito for cantar junto, mais me apetece o videokê. Sai mais em conta...
Grita então o provinciano convicto: “E qual a importância de Ornette Coleman para o Brasil, meu camarada?!”. Retruco com firmeza: E qual a importância de Chico Buarque para o mundo, meu senhor?!
A você, meu querido leitor que comprou um ingresso a R$ 350,00 e acha que por um instante relembrará as delícias do paraíso perdido, digo: encontrará o que tanto procura. Nada verá de novo e de artisticamente relevante. Isso não importa! Porém, sairá do teatro crendo que andou vários passos em direção ao horizonte da intelectualidade por ter experimentado a ímpar sensação de ter visto um gênio incontestável no palco, mesmo sabendo que se trata de um embuste. E o preço dos ingressos nada mais representará que um aditivo a esse sentimento de triunfo acadêmico, obviamente, de modo que dirá a todos “Fui ao concerto de Chico Buarque!” e esperará que os que o ouvem, olhem-no com admiração e pensem “Nossa! Quanto requinte!”.
Porém, rogo ao senhor com toda humildade que não censure o comum brasileiro que não tem condições de pagar por tal liturgia intelectual e prefira se refestelar na efemeridade do inútil ao escutar “Ai, Se Eu te Pego”, “Eu quero Tchu, Eu quero Tcha” ou o “Melô das Novinha” comendo espetinhos de procedência duvidosa e tomando cerveja barata. É um fato que esses pobres mortais passam a anos luz da nossa Música Popular Brasileira, mas diria sem hesitar que a MPB não faz a menor questão de se aproximar desses bestializados mesmo cantando que “vai passar nessa avenida o samba popular”.
Contraditório? Sim, deveras. Mas, quem se importa?

quarta-feira, 7 de março de 2012

Um sonho medonho - Gilberto da Costa Carvalho



Minha memória foi buscar exatos cinco anos atrás. Estávamos eu, Dom Angelo e tantos outros na mesma fila, para tentar comprar ingressos para o genial Chico Buarque depois de dez anos longe de Recife. E essa distância maltratava muita gente. Falando em "dez", recordo que o número de horas até adquirirmos o tão sonhado ingresso foi exatamente este. Uma luta hercúlea para assistir ao velho mestre.
O show foi simplesmente fantástico! Chico não tem empatia com o público por timidez extrema. Isto é uma grande verdade. No entanto, para mim, ninguém canta Chico como Chico. Mesmo criticado por tantos por "não ter voz". Aí me pergunto: "Já imaginaram o tamanho do estrago "se", apenas por um mero acaso, ele a tivesse?
Estamos falando de um artista único, não é de qualquer "pé rapado". Recordo uma frase do pai de um amigo: "Se você procurar no mundo inteiro, em termos de composições populares, vai ser muito difícil de encontrar que compôs para tantas variáveis como Chico."
E ele tem total razão. Chico tem valsas, sambas, forrós, partidos altos, marchinhas, bossas e tantas outras vertentes que chega dá orgulho.
O grande e maior problema da vinda do mestre ao Recife, foi o preço e as exigências para compra de ingressos. Concordo que R$350,00 é um preço extremamente salgado até para classe média. Muitas famílias dependem de apenas um pouquinho mais do que isto para viver. E outra, só aceitar pagamento em dinheiro é uma afronta ao consumidor e ao público. Coisa de terceiro mundo mesmo! Um sonho medonho!

Mas, eu prefiro falar para aqueles que lá estarão. Vai valer a pena demais. A banda que acompanha o artista é fantástica, a produção do show é excelente e Chico é Chico meus caros.

Coloco agora o vídeo da turnê - "Carioca", que puder assistir in loco. "As vitrines" me levou as lágrimas.




Só um conselho - "Foi-se o tempo em que música e política caminharam juntas."

Foto - Lia Costa Carvalho