quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O Amor Cáustico de Paolo Nutini - por Giba Carvalho

       


Nove anos após assinar seu primeiro contrato com a Atlantic Records, Paolo Nutini nos presenteia com seu terceiro álbum - “Caustic Love”. A cada passo dado, o garoto de apenas 27 anos, mostra que sabe aonde quer chegar e que toma conta de sua carreira de modo único. Primordialmente pela guinada quase total para o soul como linha de frente para sua música e, segundo, por não deixar que qualquer produtor ponha as mãos em seus trabalhos. Desta feita, Nutini pôs as mãos na massa e assinou a produção do seu terceiro álbum junto a Dani Castelar, com quem já havia trabalhado no antecessor – Sunny side Up.

Inspirando-se em clássicos de R & B e Soul, Paolo acerta seus ouvintes de modo muito mais eficaz do que com o pop-folk que predominara até então em sua carreira. A maturidade musical já demonstrada em “No other way” (melhor música do Sunny Side Up) toma formas impressionantes em Caustic Love em canções como – “Iron Sky”, “Let me Down Easy” (um tributo aos clássicos da Motown) e “Scream (Funk My Life Up). Nutini parece compreender uma frase que adoro utilizar em termos musicais – “Moderno é a tradição.” Destas supracitadas, eu destaco “Iron Sky”. De letra contundente e madura, esta balada nos remete a luta por direitos e ao confronto a nossa sociedade dividida por meio de tantos adventos tecnológicos. No meio desta canção, o trecho do discurso de Chaplin retirado de “O Grande Ditador”, faz com que tenhamos mais certeza ainda:

Para aqueles que podem me ouvir, eu digo, não se desesperem
A miséria que está sobre nós é apenas a passagem da ganância
A amargura de homens que temem o avanço do progresso humano
O ódio dos homens passará e ditadores morrem
E o poder que tomaram do povo retornará ao povo
E mesmo que os homens morram, a liberdade nunca perecerá
Não entreguem-se a estes homens artificiais
Homens-máquina, com mentes de máquina e corações de máquina
Vocês não são máquinas. Vocês não são gado, vocês são homens!
Vocês, pessoas, têm o poder de tornar esta vida livre e bela
E de fazer desta vida uma aventura maravilhosa
Vamos usar deste poder!
Vamos todos nos unir!

Apresentação espetacular no Studio Abbey Road:


Não pense você, que o peculiar lado romântico, foi esquecido por Paolo Nutini. Podemos perceber claramente desde o título do novo trabalho – “Caustic Love” (Amor Cáustico). No entanto, o modo que o artista exprime tais sentimentos nas novas canções é bem diferenciado dos trabalhos anteriores. As dolorosas desilusões amorosas adolescentes dão lugar a consolidação de um adulto que tem a capacidade de questionar e agir de outras maneiras. Sejam elas no amor que escorre em – "Diana" – Diana, she loves me, no innocence or compromise. Diana, she loves me, the only way she knows. Ou na bela "Better Man" (será que vamos ter outro hino com este mesmo nome?), onde mesmo de um modo ainda “meio garotão”, ele consegue passar grande parte do que qualquer homem deseja na sua companheira. E é impressionante como o garoto consegue fazer de uma baladinha (praticamente voz e violão) torne-se uma bela música.

Mas, neste lado específico - "One day" é a que mais se destaca pela musicalidade intensa, com uma linha de contrabaixo que permite que Nutini explore seus tons variadíssimos de voz e pelo existencialismo "platônico" contido na letra: From the corner of my eye. To the back of my mind. I recognize what you mean to me. And all the corners of our pictures. Are a long time afraid. They still symbolize what you mean to me. You ask me to remember. A kiss is but a kiss. Well I'd be a fool to want more from you. And I'm gone in a while. I'll be gone in a while. I'll be gone in a while. It's all that I do. I'll cry and you cry and we'll cry. Till the rain turns black. And the devil moves and clings to us. And for a moment there is beauty. It's not a simple yearning. Sometimes it feels like it's all I've gotten. It's all a dream.

Dentro do álbum, ainda encontramos outro diferencial. Há algum tempo atrás, ao ser questionado sobre como seria seu novo trabalho, Paolo Nutini afirmou que estava sendo meio que "punk-rock" o processo de produção. Com a elegância e talento que lhe é proveniente, o álbum não tem nada do estilo supracitado. Porém, "Cherry Blossom" e "Fashion" são  músicas onde as guitarras mais rock n´roll aparecem. Muito mais baseado pro lado de bandas de rock psicodélico e indie. Esta vertente não apareceu nos antecessores e é certo que será sucesso em suas apresentações. 

"Bus Talk" e "Supperfly" são os pontos fracos do álbum por tratarem-se apenas de duas "vinhetas" chatas entre as faixas.  

É notório que o caminho do jovem escocês vai tomando crescente e isto é extremamente importante para o mundo da música. Afinal, para uma geração muitas vezes julgada “perdida”, o Reino Unido vem provando por Paolo e outros como Amy Whinehouse (in memorian) , Adele, Joss Stone, Jake Bugg que um pouco de bom gosto e tradição, aliados a sofisticação, não fazem mal a ninguém.