segunda-feira, 28 de maio de 2012

"O João sem medo" - por Fernando Lucchesi



 

Personagem pouco lembrado pela imensa maioria daqueles que acompanham  futebol hoje, João Saldanha foi um dos maiores comentaristas de futebol e um técnico vitorioso, artífice da genial seleção de 1970 (frequentemente eleita por jornalistas do mundo todo como a melhor de todos os tempos). Recentemente terminei “Vida que segue- João Saldanha e as copas de 1966 e 1970” livro que traz crônicas de Saldanha para diversos jornais, mas principalmente para “O globo”.  Alguns podem preferir o tom quase épico que Nelson Rodrigues emprestava aos seus textos ou o lirismo, por vezes exacerbado, de Armando Nogueira, como escritores de futebol. Prefiro a objetividade e o pragmatismo dos textos de Saldanha.
Muito antes de PVC, Saldanha já fazia análises táticas de times em suas colunas e era um profundo conhecedor do desenvolvimento da história dos esquemas táticos. Prova disso é um texto de Saldanha chamado “Leis do impedimento e história do futebol” em que ele demonstra que os esquemas táticos mudaram ao longo dos anos principalmente em virtude da lei do impedimento. (Uma coisa me chamou muita atenção com relação à lei do impedimento: Quando foi criada, em 1896, a lei previa que um jogador para receber a bola deveria ter pela frente pelo menos TRÊS adversário e não dois como funciona hoje).
Outra característica marcante de Saldanha era a franqueza aos ser confrontado sobre diversos temas, inclusive sua posição ideológica, o que lhe valeu o apelido de “João sem-medo”. Saldanha era declaradamente comunista (inclusive havia sido membro do partido comunista, que à época era proscrito) numa época em que ser comunista era equivalente a ser chamado de criminoso no Brasil. Isso torna compreensível sua saída do comando da seleção brasileira, justificado e explicado por ele no excelente artigo “ Por que eu saí”  escrito em 24/03/1970 que começa de forma bastante simples e objetiva: “ Por que eu saí é muito fácil de explicar. O que eu tenho dificuldade de explicar é porque eu entrei.” Não era possível ao governo militar tolerar um “subversivo” como Saldanha obtendo resultados animadores com a seleção brasileira. É bom frisar que antes de Saldanha comandar a seleção, a mesma passava por uma crise grave em razão dos resultados obtidos. A pífia campanha na Copa de 1966 aumentava ainda mais a pressão para um bom desempenho nas eliminatórias para a Copa de 1970. Após classificar a seleção para o mundial do México, os militares, receosos de que a seleção fosse campeã com um comunista no comando, utilizaram-se de uma declaração dada por Saldanha.  Ao ser interpelado por um repórter sobre a possibilidade de escalar Dario (o hoje folclórico Dadá Maravilha) para a seleção pois o presidente da época Emílio Garrastazu Médici “teria dito” que gostaria de vê-lo na seleção ( mas verdade seja dita, na entrevista dada a Armando Nogueira, ele revelou ser fã de Dario, entre diversas outras análises que fizera como fã de futebol) Segundo João Máximo, autor do também excelente “João Saldanha”, a declaração tomou outra dimensão a ponto de chegar a se afirmar que : ”O presidente quer Dario no lugar de Tostão”. Saldanha, ao receber essa informação de um repórter e sem saber da veracidade da mesma respondeu:  “O presidente escala o ministério dele que eu escalo meu time”. Era somente com um deslize desses que os militares estavam contando para pedir a cabeça de Saldanha, mesmo com os resultados obtidos nas eliminatórias. Após deixar o comando da seleção, Saldanha foi cobrir a Copa do México como comentarista de “O Globo” e foi crítico quando tinha que ser, mas também reconhecia os méritos de Zagallo como treinador do escrete.
Outra faceta bastante conhecida de Saldanha era a de grande frasista. Algumas das frases de Saldanha:
“ Quatro homens, um ao lado do outro,é linha burra de 4 zagueiros. Só dá certo em parada militar, no futebol é brejo certo”;
“Campo de futebol não é loteamento. Ninguém pode ter posição fixa”;
“Na verdade, o futebol é uma grande zona do agrião”;
“ Em 469 anos de história, matamos menos gente do que vocês em dez minutos de campo de concentração”. ( em resposta a uma pergunta de quantos índios foram mortos no Brasil desde o descobrimento, feita por um jornalista alemão) ;
“Quando alguém acerta a loteria três visitas são certas: a do corretor de ações, a do vendedor de enceradeira e a do padre da paróquia”.
“ É preciso desafrescalhar essa estória de canarinho. Meu time é formado por 11 feras. ( Ficou famosa a expressão “ as feras do Saldanha).
            Assim era o João sem medo: um homem de fortes convicções e que as externava independentemente das pessoas que fosse desagradar. Por uma grande coincidência, morreu em 12/07/1990 cobrindo a Copa do Mundo de 1990 pela extinta rede manchete onde era comentarista. Foi-se o homem; ficaram as ideias e as lições.

Obs: Além dos dois livros citados acima, indico também “ O trauma da bola”, uma coletânea das colunas assinadas por Saldanha que vão da preparação da seleção de 1982 até depois da Copa do Mundo daquele ano.

sábado, 26 de maio de 2012

Coisas que Aprendi nos Discos - Edição Luiz Gonzaga - Por André Maranhão





     Fui “convidado/intimado” por Maria Fachini para a exposição produzida por ela, intitulada “Coisas que Aprendi nos Discos” e lançada ontem (24/05) na Torre Malakoff. Embora o título possa nos remeter mais à canção de Belchior, a atual edição (lançada ontem) pretende estabelecer uma relação poética com os trabalhos de Luiz Gonzaga.
     Em “Coisas que Aprendi nos Discos”, as representações e inspirações gonzaguianas são apresentadas em várias mídias trabalhadas por doze artistas. E o que posso dizer sobre a exposição? Primeiro, que embora uma parte dos trabalhos e ou artistas já tenha caído na graça do povo, nada se compara ao contemplá-los ali, frente a frente, in loco, através de outras perspectivas. Assim podemos considerar as xilogravuras de J. Borges e os materiais de Abelardo da Hora, indispensáveis durante a visitação à Torre Malakoff.
     Nos vídeos da exposição, o Coletivo Caldo de Cana 1 Real expõe a história de um parto atrapalhado sob o luar do sertão em forma de animação, carregada de elementos da xilogravura. Já a dupla dos xarás Ricardo Brasileiro e Ricardo Ruiz se apoia na sequência de imagens em 3D para exprimir os seus ambientes poéticos, disponibilizando os óculos na própria sala para o visitante.
     Em se tratando de trabalhos poéticos, “Ciranda Luiz Gonzaga”, de Marcelo Mário de Melo alude o próprio feito dos doze artistas da exposição. Refletir sobre tais artistas é um desdobramento da metalinguagem rimada e metrificada por Marcelo, fundida pelo molde mais cordelista de sua proposta. Em “O Mundo de Seu Luiz”, Marcelo ressalta a arte de Luiz Gonzaga em várias sextilhas.
     No plano mais pictórico, Derlon mescla o grafitti com a xilogravura, enquanto André Soares pincela com traços fortes e cores diversas a sua noção de temática gonzaguiana. Na série de quadros menores, denominada “Noites Brasileiras”, André também utiliza a técnica dos esfuminhos coloridos ao simbolizar balões, árvores e matutos.
     E o que posso dizer ainda mais sobre a exposição? Segundo, que deixei para o fim deste texto os trabalhos artísticos mais comoventes para o meu julgo:
   Alcir Lacerda. Impregnado por fotografias de grande aspecto figurativo. Fotos comoventes por retalhar ângulos dos vaqueiros em preto e branco forte; vaqueiros de um sertão imponente em todos os arquétipos imagináveis.
     Elizângela das Palafitas. Conciliadora de elementos do artesanato e do colorido como representação de um cotidiano interiorano, não só vinculado aos símbolos antigos, mas a uma globalização vigente no dia-a-dia interiorano. A cerveja Skol, o boteco amarelo e vermelho, tocando Luiz Gonzaga, com luzes piscantes típicas dos inferninhos das cidades do interior são ladeadas com os artigos de barro à venda nos balcões da feira, mostrando a variedade das práticas socioculturais no perímetro urbano de uma zona rural! Elizângela também busca espaço para emergência do baixo IDH posta em seus quadros-palafitas, nas casas anfíbias uma arte de lembrete à nossa persistente desigualdade citadina.
     Leopoldo Nóbrega. A experiência do seu projeto poético-visual arruma os versos de Patativa do Assaré entre várias tramas, de tal maneira que os versos podem se combinar diversos, na forma de poesias cruzadas.
     João Lin. Pareceu-me o mais contemporâneo dentre todos, ao criar um “Ambiente Imersivo” em “Noite Junina em Ré Menor”: uma sala escura, apenas iluminada por luzes negras, contendo um teto pictórico, uma instalação no centro da sala e nas paredes dispostas com alguns versos de “Olha pro Céu”, ao mesmo tempo em que uma versão instrumental da mesma música interpretada por Márcio Soares e Guga Oliveira é reproduzida com grande influência da atonalidade.

Local: Torre Malakoff.
Período: De 25/05 a 05/08 - terça a sexta das 9h às 17h
domingos das 15h às 20h.
Entrada Franca.


terça-feira, 22 de maio de 2012

Tim...1972 - Por Gilberto da Costa Carvalho



     A angústia e a emoção que definem este disco de Tim Maia, são exatamente as mesmas que me acometem neste momento. Busco uma parte do meu passado que acho que não deveria mexer. Pelo menos em parte... Recordo que há quase 6 anos atrás eu estava na Rua do Riachuelo, Centro do Recife. Mais precisamente na casa do amigo Bruno Cezar. Era lá que ia tentar aliviar um pouco o sofrimento sem tamanho que tomava conta de mim. Estava vendo meu padrinho e herói terminando sua trajetória liquidado por um câncer de grandes proporções. Quando falo em alivio, tenham certeza que eram algumas horas dedicadas a músicas, cigarros e cervejas.

     Numa destas tardes, tocamos no assunto Tim Maia. Foi aí que Bruno me disse – “Vou colocar um negócio pra você ouvir.” Alguns segundos após estas palavras, uma bomba em forma de tristeza me atingiu. “Lamento”, oitava música do disco. Recordo até como e onde estava. Sentado num banco azul que ninguém gostava (só eu) e que o dono da casa disse – “bicho este trono é seu.” O olhar fixo e tentando achar algo no chão. O cigarro queimava incessantemente, a cerveja por alguns instantes parou de ser degustada e nem lágrimas conseguiam rolar. Sem sombra de dúvidas aquele era um lado, dos vários de Tim Maia, que eu não conhecia. Era uma mistura de doçura e tristeza que quase nenhuma vez conseguimos ouvir em composições. Este Lado B, requer luz baixa e um certo clima de romantismo, embora nada disso eu estivesse vivendo naqueles dias. Neste mesmo disco, reencontro uma grande música. A canção “O que me importa”, que exatamente 30 anos depois “estourou” na voz de Marisa Monte. A versão de Tim é altamente intimista e, justamente por isto, torna-se espetacular!

    Para completar a tríade-triste, encontramos uma raridade intitulada - “Sofre”. Não tenho receio de opinar que se trata do melhor blues gravado em português. Emotivo como nunca, Tim Maia solta toda sua potência para "sofrer" nas palavras deste “slow”.

     Analisando a carreira de Tim, este foi o prenúncio do fim de sua primeira fase (ainda foi lançado o excelente – Tim Maia 1973), que foi interrompida 3 anos depois quando o lançamento do Racional I. Encontramos várias vertentes musicais neste disco, principalmente no Lado A. “Idade” pede passagem tal qual um carro alegórico abrindo espaço no meio da multidão. O soul, que é a alma de Tim, está representado pela excelente “O que você quer apostar”. Ainda encontramos uma aula de canto em “Canário do Reino”. Nela, Tim passa toda emoção e, principalmente, o prazer que tinha em cantar. Posso afirmar que seriam “Os bailes da vida” de Milton do jeito alternativo. E o recado deveria ser muito mais escutado por tantos...

O que falar da histórica e imortal - "These are the the songs?"

     Ressalto ainda a importância deste álbum por um fato. É nele (e não nos medianos Racionais), que Tim Maia consegue marcar definitivamente a história da Soul Music Brasileira. Dançante e emocionante. Nada mais que a cara do dono. Além disto, a competência na mescla de ritmos é notória. Temos Baião, Soul, Rock e Blues num cenário inovador e de essencial importância para a história da MPB.


Dedicado a Armando da Costa Carvalho e ao amigo Bruno Cézar Guimarães.


sábado, 12 de maio de 2012

Vulgar Display of Power - 20 anos - por Gilberto da Costa Carvalho

     


     Vasculhando um passado cada vez mais distante, retorno Rua Sete de Setembro – 105 – Centro do Recife.  Aos sábados pela manhã, eu e os “dois Gustavos” (Papita e Guga Mocó) costumávamos nos encontrar para olhar as novidades sonoras que eram lançadas no mundo obscuro do rock n´roll. Numa destas idas, nos deparamos com um “soco na cara” de grandes proporções. Estou falando de Vulgar Display of Power, disco do Pantera (banda que na época já estava estourada pelo antecessor – Cowboys from hell).  Um fato muito interessante, é que o dinheiro da “mesada” era todo revertido em discos. (E Miranda não dava um desconto pra moçada).  Desta feita, os poucos reais logo viraram 3 discos iguais, para cada um dos adolescentes que se aventuravam no mundo da violência sonora.
     O referido disco foi composto quase que totalmente em condições sub-humanas. Rex Brown e Phil Anselmo alugaram um apartamento bastante vagabundo ao lado do estúdio de gravação. O dinheiro era curto, e os caras compraram uma bicicleta para ter como se deslocarem até um posto para conseguir sanduíches e cervejas para o pós-gravação. Era o que tinham para comer.
     Musicalmente falando, Vinnie Paul afirmava que a idéia do disco era “ter uma guitarra semelhante a uma motoserra e que a bateria tivesse pegada!”. As músicas eram compostas pelo trio guitarra-baixo-bateria e só depois os mesmos passavam para Phil Anselmo compor as letras. A primeira audição era em conjunto e como afirma Paul – “Phil ouvia e dizia – Porra cara, isso é muito do caralho!” O grande segredo do Pantera era o trabalho em equipe.
     O nome Vulgar Display of Power, é oriundo do filme - O Exorcista! E foi idéia de Phil Anselmo colocar o mesmo como nome do album. Segundo ele: “este nome grudou na cabeça e não saiu mais.”
O Pantera ainda passou para a gravadora, que gostariam de algo bastante vulgar na capa. Um murro na cara de um sujeito. Daqueles bem dados. A tentativa inicial foi muito mal sucedida. Colocaram um cara levando um murro com uma luva de boxe. A banda vetou! Disseram que tinha que ser algo mais real mesmo. “Algo da rua!” – segundo Phil. Hoje sabemos que um maluco ganhava 10 dólares por soco, até acharem a capa ideal. Detalhe – foram 30 tentativas.
     Outro fato bastante interessante, é que ainda hoje, encontramos garotos novos e totalmente fanáticos pelo Pantera. O Vulgar Display of Power já vai transcendendo a segunda geração de vida e mantendo acesa chama de uma das maiores bandas de Trash-Metal que já ouvi. E este fato torna-se mais relevante quando analisamos o que já saiu e nasceu na música. Inclusive, há alguns anos atrás, surgiu uma vertente nova dentro dessas bandas de peso. O “conhecido” NU Metal.  Algumas bandas alcançaram até um estágio de qualidade maior, no entanto, ao ouvir toda e qualquer banda destas, é inegável a influência quase que total das grandes bandas que já existiam. O pior, é que na época os fãs deste tal Movimento NU metal,  afirmavam suas asneiras aos quatro ventos: “Eu detesto Pantera e Sepultura!” E eu rebato! “Korn é uma banda de adolescente americano problemático e traumatizado. Limp Bizkit é apenas o baixista (o melhor de todas estas bandas). Slipknot é a melhor delas, mas, ainda assim, não bate com meu gosto pessoal (essa historinha de máscara definitivamente não é comigo). O que falar dos “Papa Roaches”, “Coal Chambers”, “Deftones” e até mesmo do System of a Down (que fez um show no Rock in Rio do ano passado que mais parecia um baile de debutantes)?”
     Voltando a falar do que interessa, sugiro aos amigos que escutem este disco com bastante atenção. As pessoas não podem deixar de ouvir duas pedradas – “Mouth for war” e “Fucking Hostile”, o hino chamado – “Walk” e as baladas – “This Love” e “Hollow”.
Rendo todas as homenagens a este álbum que comemora 20 anos e ao Pantera, uma das melhores bandas que já escutei.



 

sábado, 5 de maio de 2012

O lado negro do coração - por Gilberto da Costa Carvalho


 
Caros leitores do Blog Variações para 4, eu prometo que no ano que vem não peço absolutamente nada que seja contra o bom senso. Na virada de 2011 para 2012, muitos testemunharam o meu pedido (além dos normais – saúde e etc e tal):

“Gostaria que em 2012, as pessoas levantassem menos a bola pro meu lado! Que não deixassem a pelota quicando lindamente esperando aquele chute (que pega na vêia) ou aquela cortada que proporcionará uma grande medalha ao adversário”.

     Eu explico! O culpado disso é o Sr. Gustavo Paes! Precisamente às 05:13 da manhã de hoje, vi um post do mesmo no facebook. No referido, a música “Time is running out” do Power Trio britânico Muse.  O grande problema da questão foi que a bola começou a quicar lentamente na minha frente afinal, o “Cauby Peixoto do rock nacional” é que entoava a canção. De quem estou falando?  Deixem para o final... Por favor.

     Confesso que às vezes eu sou cruel comigo mesmo. Fui buscar na internet este “lançamento” intitulado Black Heart e ouvi o mesmo de cabo a rabo. Em termos de repertório o disco está longe de ser fraco. Muito pelo contrário! Trata-se de uma compilação do idealizador do projeto para homenagear bandas as quais ele admira bastante. Muito justo! Já em termos de arranjos, instrumentação, vocais, backround vocals e todo resto é uma verdadeira hecatombe sem proporções.

     Analisando comentários gerais sobre o disco, a palavra que mais encontramos é: KARAOKÊ. E eu afirmo que é isto mesmo! Os arranjos são uma piada de péssimo gosto com qualquer pessoa que um dia tenha ouvido os clássicos em questão.  A versão de “Love will tear us apart now”, tem um arranjo muitíssimo parecido com o famigerado joguinho de Master System -  Alex Kidd in The Miracle World. E olhe que pelo tempo que foi feito, o arranjo do jogo ainda é melhor. “Suspicious Minds” certamente fez Elvis revirar na tumba achando um crime esta versão “sonhei que era o The Police”. “Steady as she goes” dos medianos Racounters (hoje Sabouteurs) virou uma cópia descarada do melhor estilo surffer do Midnight Oil (isso é a cara do vovô garoto em questão). “Dancing Barefoot” de Patti Smith faz vergonha a qualquer rockeiro nato! Inclusive, acho que a mesma renegaria o gosto pessoal do “cantor” em afirmar que ela é um ícone para o mesmo. Ainda falando desta versão, imaginem um violino estilo “western saloon” tão desafinado e sofrível como o que fizeram com o refrão. Agora vamos falar sobre formas geométricas. Sendo mais específico, vamos falar sobre a linhas retas e círculos. O que este elemento fez com “There´s a light that never goes out” do Smiths é um crime musicalmente geométrico! Principalmente se falarmos em Morrisey, que possui um balanço vocal diferenciado e de um gênio da guitarra chamado Johnny Marr. Na versão “Black heart” o começo é o fim. Similar a um cachorro correndo atrás do próprio rabo. O restante do disco é aquela mesmice, salvo “le grand finalle”. 

     Existem músicas, que por mais que o tempo passe, ficam imortalizadas em apenas uma versão. O primeiro “single” de trabalho do disco é uma composição de Prince (eu gosto desta música), que ficou mundialmente conhecida e imortalizada por Sinnead O´Connor em 1990. No entanto, assim como afirmou o Altamente Ácido, esta versão me faz crer que existe subsolo no inferno! Deixo este “presente” para vocês, como o grande final do “Black Heart”. Quiçá fosse do “Peidinho” Ouro Preto.


E fica meu apelo: “Sr. Dinho Ouro Preto: por favor, não tente acabar com o rock internacional como você insiste em fazer com o rock nacional. Ou então, abandone a carreira de "cantor" e assuma a pose de "modelo vovô tatuado", que adora tirar a camisa nos shows para que as menininhas molhem as calcinhas sonhando em namorar um rapaz de tatuagens, mas não fazem com medo dos pais."

Sem mais...











quinta-feira, 3 de maio de 2012

A TV Aberta e Os Ditames da Canção Brasileira - por André Maranhão


     Acabei de ler um texto que o meu amigo Bruno Vitorino me enviou. O teor desse texto se mostrava bem crítico quanto ao suposto “sucesso” de alguns artistas vistos como uma saída da Nova MPB. Seriam nomes como Romulo Fróes, Márcia Castro, Naná Rizinni, Marcelo Jeneci e Emicida, cujo autor dizia que apenas “jornalistas, publicitários e similares” conheciam esse pessoal. E isso faz sentido mesmo!

     Creio que no cenário atual da canção brasileira, há um ponto cada vez mais crucial: a relação entre os artistas e os programas de auditório. O texto que eu li tocava inteligentemente nesse ponto. Por mais recursos multimidiáticos que tenhamos, penso que o artista ainda necessita da boa e velha TV aberta, caso almeje cair na graça de um público mais amplo. E se ele não conquistar grandes emissoras e programas como Faustão, Gugu, Raul Gil não terá lá tanta chance de sucesso massivo. Mesmo que alguém procure uma fresta ou um filão num youtube da vida, ainda não podemos comparar, absolutamente, com o poder de fogo que tem a TV aberta. Confrontemos, por exemplo, Mallu Magalhães (youtubesca par excellence) com Paula Fernandes. Quem emplacou mais? Não tem nem graça, né? Ligue a TV ou até acesse o Youtube qualquer dia desses e você saberá...

     Por mais TV por assinatura que haja atualmente (cuja adesão realmente tem crescido) muita gente ainda passa o dia pendurada nas grandes emissoras. E é lógico que o sucesso convertido a partir da TV aberta é canalizado para outras mídias. Vide Padre Marcelo Rossi. Cantor catapultado pela Rede Globo e Escritor publicado pela Editora... Globo!

     Enquanto isso, a turma nova de uma MPB mais alterna, quando participa da TV, figura mais na rede fechada - em canais como GNT, Multishow ou Canal Brasil... Quando vai dar o ar da graça numa Rede Globo, aparece no Altas Horas ou no Som Brasil (ou seja, programas veiculados bem tarde). Mas aí, não vamos pensar que a "culpa" é necessariamente dessa turma (Romulo Fróes, Márcia Castro, Naná Rizinni, Marcelo Jeneci e Emicida), que faz uma arte com determinada estética e que uma parcela dos críticos julga como uma forma bem acomodada, quiçá confortável desses trabalhos. Lembremos também que há um monte de produtores dessas TV's pensando basicamente em dinheiro no bolso. E aí, não há muito rodeio pra eleger o que vende mais. Em todo esse encaixe, responsabilizar unicamente o artista por certa impopularidade, desconhecimento e ostracismo é de uma cegueira crassa, daquelas dos personagens de Henrik Ibsen, que vertem quaisquer fatos goela abaixo pra eleger um inimigo do povo - nesse caso, injustamente o artista. Vou citar um exemplo. Só não darei nome aos bois... Um cara que trabalha numa grande emissora foi escrever uma matéria com a palavra "Odisseia". Por causa disso, o “diretorzão” mandou trocar a palavra porque falou: "Como é que Dona Maria, lá na casa dela, vai entender a palavra Odisseia?" - Bom, isso até faz sentido, mas continuo a crer que é uma forma de subestimar a cognição do espectador e achar que todo mundo que assiste a TV aberta não tem acesso a um google ou a um dicionário pra buscar a palavra “Odisseia” e até pra perguntar ao parente, amante, vizinho, etc. No frigir dos ovos, um exemplo pontual e interacionista como esse nos mostra uma das formas mais simplistas de conservadorismo em uma cultura. E por decisão do Alto-Comando de uma emissora hein?

     Pra mim, a questão se torna mais complexa do que pensar se é o OVO (a culpa do artista, confortável na sua forma) ou A GALINHA (os grandes blocos midiáticos que optam pelo pastiche - em produtos como o verso: "Eu quero ser pra você a lua iluminando o sol" - cantado por Paula Fernandes. Um verso mais clichê do que esse não há, até porque o Sol, a Lua, o Verde e o Mar já me parecem meio esgotados após a Bossa Nova, O Clube da Esquina e Wando).
  
     Vamos fechar aqui com outra pergunta-resposta: Vocês sabem quem disputava o Globo de Ouro em 1976 na própria Rede Globo? Cito aqui alguns nomes: João Bosco e Aldir Blanc (Incompatibilidade de Gênios); Belchior (Apenas Um Rapaz Latinoamericano); Raul Seixas (Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás); Paulinho da Viola (Pecado Capital), etc. Detalhe, esse programa era exibido nas quartas-feiras, sextas-feiras e no domingo. Por falar em domingo: vocês sabem qual foi a “Música do Ano” em 2011 no Domingão do Faustão? Ai, Se Eu te Pego (de Michel Teló). Tem alguma coisa diferente aí, não acha?