domingo, 23 de setembro de 2012

"Chorare meu povo...chorare" - por Gilberto da Costa Carvalho

     Primeiramente, gostaria de parabenizar os organizadores do Festival - No ar - Coquetel Molotov. Debutei este ano no mesmo, é verdade, e achei a estrutura muito legal e diversificada. Isto é extremamente importante para qualquer festival. Atrai e fideliza o público, fato.
Obviamente, que o que me levou ao festival foi a possibilidade de assistir na íntegra o "Acabou Chorare", disco clássico dos Novos Baianos que seria tocado por Moraes Moreira. Este, dispensa comentários.
     O show era saudoso por natureza, mas, quando me deparo com o público recifense sempre acho que é muito mais uma questão de moda (que já está tão fora de moda) do que de música em si. Moraes Moreira trouxe o que podia para agradar. Simpático, comunicativo e acompanhado de uma banda muito competente. E é exatamente neste ponto que meus problemas começam. Os técnicos de som do festival, erraram completamente na equalização do show do Moraes.
Essencialmente, o Acabou Chorare é um disco de samba. E triste daquele técnico de som que acha que samba é só contrabaixo e marcação de bateria. Perdeu a riqueza, o encanto que envolve a sonoridade do album e a audição ficou chata, marcada e sem detalhes.
     Outro ponto que gostaria de tocar, é a educação do público em geral. Num certo momento do show, resolvi fumar um cigarro fora do teatro. Fiquei encostado na parede e fui abordado por um segurança que falou: "Amigo, não pode fumar aqui por conta do ar-condicionado." Respondi calmamente - "Opa amigo, desculpe." Fui para área externa e continuei tranquilamente. O que há de anormal nisso? Tudo! O "correto" eram as pessoas fumando dentro do Teatro, bebendo cerveja dentro do Teatro, quem sabe até dando um "bolero" nas entrelinhas e os seguranças nem aí. Começo a achar que eu sou o anormal da história, até porque saí pra fumar este cigarro propositadamente depois de enxergar os absurdos supra-citados.
     Estes problemas educacionais e comportamentais têem se tornado constantes em relação ao público de Recife. Semana passada, um dos "ouvidos" que mais confio, esteve presente no show de Marcelo Camelo e falou a mesma coisa. Inclusive, me mostrou alguns vídeos que o próprio artista em questão teve que reclamar por conta dos flashes insistentes e da "colocação" do papo em dia no momento que executava suas canções. Principalmente, se tratando de um show no formato voz e violão.
     O público da noite de ontem, quis reencarnar o tempo do Campo Grande. É esta certeza que tenho. Vivenciar sua falsa liberdade e curtir suas agonias de modo extravasador dentro de um teatro.
Infelizmente, os quarenta mangos que gastei no ingresso não valeram a pena. E quando falo infelizmente, é algo totalmente verídico. Para mim, o Acabou Chorare é o melhor disco da história da Música Popular Brasileira. Riquíssimo em variações, ritmos, melodias e, de importância vital para várias gerações de músicos. E é muito triste quando você vai de coração e ouvidos abertos para escutar algo que você ama e as próprias pessoas que pagaram para estar lá, estragam. Estas mesmas pessoas não percebem que esta é a maior falta de respeito com o artista que ela se diz "fã". Isto realmente me irrita! E muito! E olhe que o som não estava nada bom.
     Certa vez ouvi isto - "As pessoas fazem barulho quando estão doentes". Não sei se é, qual é e a origem mas, tem certos tipos de comportamentos que só me levam a crer nisto. Não se trata um músico desta forma, não se trata a história assim e, principalmente, não se trata A MÚSICA deste modo.

Enquanto isto, coloquemos nossos discos, cd´s e mp3 e...

..."Chorare meu povo...chorare..."





Segue o Album na íntegra.


5 comentários:

  1. Meu amigo, faz tempo que percebo isso no público em geral. Aqui em Fortaleza não é diferente. As pessoas querem fazer checkin no Foursquare, postar fotos no Instagram, falar que está de ressaca porque foi pro show do artista tal... Não existem mais fãs, daqueles que vão pra ficar babando pelo seu artista favorito. As pessoas querem ser vistas como "cult" nas mídias sociais. Neste mundo, cada vez mais midiático, onde as pessoas consomem as coisas sem ter mais um visão crítica (faço isso, principalmente, de quem tem menos de 25 anos, e salvo raras exceções), cenas como essa que você presenciou continuarão acontecendo, sendo em um show do NX zero a Paul McCartney. Pena que Moraes Moreira tenha que se afogar no meio deste mar de superficialidade que nossa sociedade se encontra. Um bando de "hispter-classe média-conectados".

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  2. Poxa, Giba, que situação mais chata, né? Quando a gente revisita um artista que tanto gosta acontece um coisa dessas. Teu texto é bem atraente. Um abração!

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  3. Pois é, meu caro, esse comportamento insano é bastante comum. Já tive o desprazer de passar por situações semelhantes em vários concertos bastante distintos. Do Virtuosi à apresentação de Robben Ford, deparei-me com uma persistente massa sonora de tagarelice babaca! E o pior: quando você pede silêncio, as pessoas acham ruim. Música que nada! O que vale é a pose no Bar Central após a apresentação. Pura superficialidade... Ou "verniz" como dizem alguns.

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  4. Feio mesmo foi o Coquetel Molotv com o show de Beirut. As pessoas assistiram ao show em pé nas cadeiras. O público de Recife parece não admirar os artistas e pretendem chamar mais atenção que eles.

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  5. Rapaz, esse festival (não sei se por razões financeiras ou de conveniência) já deveria ter saído do Teatro da UFPE há muito tempo. É evidente que o público que frequenta o festival não vai fazer silêncio dentro de um teatro. Outra: Isso é, pelo menos teoricamente, um festival de música POP, que, definitivamente, não se encaixa em um local como teatro, mais adequado à apresentações intimistas e individuais. É verdade que há uma notória má-educação por parte do público que frequenta o festival, mas também o local não é o mais apropriado.

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