quinta-feira, 16 de abril de 2015

Tostão: A Perfeição Não Existe - Por Fernando Lucchesi



Estou muito longe de ser um fanático ou mesmo entendido de futebol. Admiro muito o jogo, tenho os meus times, mas estou longe de entender de esquemas táticos, escalações de jogadores, posicionamento dentro de campo, mas acompanho as notícias, as polêmicas do cotidiano dos clubes e nos dias seguintes aos jogos com mais interesse. Uma das perguntas mais recorrentes sobre futebol, feita a todo aquele que têm um mínimo de interesse pelo jogo, é “qual seu ídolo no futebol?”. A resposta de cada um leva os mais diversos fatores em consideração: as jogadas brilhantes produzidas por determinado jogador, a quantidade de títulos, uma atuação decisiva num jogo importante, a quantidade de gols marcada ou até mesmo o comportamento fora de campo. A maioria dos meus contemporâneos aponta Zico ou algum jogador do seu clube de coração.

O meu ídolo no futebol jamais o vi jogar, a não ser por alguns poucos videotapes.  Ele também não pertence a nenhum time pelo qual torço. Tostão significa algo mais do que o jogador que venceu a Copa do mundo de 70 e fez parte de um dos maiores times da história do futebol. Sua carreira foi bruscamente interrompida em virtude de uma bolada que atingiu o seu olho e provocou o descolamento da retina. Assim, em Fevereiro de 1973, Tostão, 26 anos, aconselhado pelos médicos, abandona o futebol.

Mas o “mineirinho de ouro”, como era conhecido, fez algo pouco usual para um ex-jogador de futebol. Foi aprovado na faculdade de medicina e em 1981 obtém graduação e passa a atuar como médico, deixando o futebol de lado por um bom tempo. Em 1994, Tostão é convidado para comentar a Copa dos Estados Unidos pela rede Bandeirantes e atuar como colunista de vários veículos impressos pelo Brasil.

Lançado em 2011, “A perfeição não existe” reúne algumas de suas crônicas escritas e publicadas em jornais entre 2000 e 2011. Tostão nos presenteia em cada uma dessas crônicas com seu olhar voltado para o humano, no qual o futebol é apenas uma parte. Ele discorre com desenvoltura desde esquemas táticos utilizados por treinadores ao prazer da vida quase campestre que leva junto com a família. Não tente o leitor buscar uma espécie de “padronização” nas crônicas, pois isso é algo com que Tostão não se preocupa. Escreve sobre   o que bem entende e quando quer. Abaixo vão algumas análises contidas no livro que considero pertinentes:

“Aprendo com as críticas, desde que elas não sejam apenas de torcedores parciais. Interessante é que há um grupo de torcedores que é excessivamente duro com os jogadores e com seu time, mas que não aceita as mesmas críticas de comentaristas. Acha que queremos menosprezar seu time de coração.”

“Parece que algumas pessoas acham que o comentário técnico é uma coisa chata, pouco intelectual, menor. Estranho! Como se fôssemos obrigados a escolher entre a beleza, o espetáculo e a técnica. Com raras exceções, não existe arte sem técnica.”

“O perfil ideal de um atleta seria o q associasse talento com garra, que fosse emotivo sem perder o controle de suas emoções, guerreiro e tranquilo, disciplinado e ousado , ambicioso, sem esquecer que o conjunto e a união são fundamentais no sucesso de um time. Evidentemente, esse super-homem não existe.”

“Precisaria de dezenas de crônicas para descrever tantos momentos inesquecíveis. Temos sempre de lembrar que o futebol, antes de ser uma competição, um jogo de técnica e de tática, é um esporte lúdico, belo e emocionante. Os lances espetaculares são os que ficam na história.”

“O futebol e a vida continuam prazerosos e bonitos porque mesmo em situações previsíveis, comuns e repetitivas, haverá sempre o acaso e um artista, um craque para transgredir e reinventar a história.”

Algumas chegam a surpreender como a crônica que dá título ao livro:

“Compreendo as atuais críticas (a crônica é de 2000) de que a seleção de 70 não era tão maravilhosa. Imaginaram um time perfeito. Não foi perfeito, mas foi uma equipe espetacular e irresistível para aquela época. A perfeição só existe na nossa imaginação. A seleção de 70 teve um grande defeito: seus jogos são constantemente reprisados pela TV. A imagem destrói a fantasia, que é sempre melhor que a realidade.”

Sem dúvida há ainda muitos pensamento e reflexões que mereceriam citação, mas deixo os leitores com a curiosidade conhecê-los.

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