Estou muito longe de ser um
fanático ou mesmo entendido de futebol. Admiro muito o jogo, tenho os meus
times, mas estou longe de entender de esquemas táticos, escalações de jogadores,
posicionamento dentro de campo, mas acompanho as notícias, as polêmicas do
cotidiano dos clubes e nos dias seguintes aos jogos com mais interesse. Uma das
perguntas mais recorrentes sobre futebol, feita a todo aquele que têm um mínimo
de interesse pelo jogo, é “qual seu ídolo no futebol?”. A resposta de cada um
leva os mais diversos fatores em consideração: as jogadas brilhantes produzidas
por determinado jogador, a quantidade de títulos, uma atuação decisiva num jogo
importante, a quantidade de gols marcada ou até mesmo o comportamento fora de
campo. A maioria dos meus contemporâneos aponta Zico ou algum jogador do seu
clube de coração.
O meu ídolo no futebol jamais o
vi jogar, a não ser por alguns poucos videotapes. Ele também não pertence a nenhum time pelo
qual torço. Tostão significa algo mais do que o jogador que venceu a Copa do
mundo de 70 e fez parte de um dos maiores times da história do futebol. Sua
carreira foi bruscamente interrompida em virtude de uma bolada que atingiu o seu olho e provocou o descolamento da retina. Assim, em Fevereiro
de 1973, Tostão, 26 anos, aconselhado pelos médicos, abandona o futebol.
Mas o “mineirinho de ouro”, como
era conhecido, fez algo pouco usual para um ex-jogador de futebol. Foi aprovado
na faculdade de medicina e em 1981 obtém graduação e passa a atuar como médico,
deixando o futebol de lado por um bom tempo. Em 1994, Tostão é convidado para
comentar a Copa dos Estados Unidos pela rede Bandeirantes e atuar como colunista
de vários veículos impressos pelo Brasil.
Lançado em 2011, “A perfeição não
existe” reúne algumas de suas crônicas escritas e publicadas em jornais entre
2000 e 2011. Tostão nos presenteia em cada uma dessas crônicas com seu olhar
voltado para o humano, no qual o futebol é apenas uma parte. Ele discorre com
desenvoltura desde esquemas táticos utilizados por treinadores ao prazer da
vida quase campestre que leva junto com a família. Não tente o leitor buscar
uma espécie de “padronização” nas crônicas, pois isso é algo com que Tostão não
se preocupa. Escreve sobre o que bem
entende e quando quer. Abaixo vão algumas análises contidas no livro que
considero pertinentes:
“Aprendo com as críticas, desde
que elas não sejam apenas de torcedores parciais. Interessante é que há um
grupo de torcedores que é excessivamente duro com os jogadores e com seu time,
mas que não aceita as mesmas críticas de comentaristas. Acha que queremos
menosprezar seu time de coração.”
“Parece que algumas pessoas acham
que o comentário técnico é uma coisa chata, pouco intelectual, menor. Estranho!
Como se fôssemos obrigados a escolher entre a beleza, o espetáculo e a técnica.
Com raras exceções, não existe arte sem técnica.”
“O perfil ideal de um atleta
seria o q associasse talento com garra, que fosse emotivo sem perder o controle
de suas emoções, guerreiro e tranquilo, disciplinado e ousado , ambicioso, sem
esquecer que o conjunto e a união são fundamentais no sucesso de um time.
Evidentemente, esse super-homem não existe.”
“Precisaria de dezenas de
crônicas para descrever tantos momentos inesquecíveis. Temos sempre de lembrar
que o futebol, antes de ser uma competição, um jogo de técnica e de tática, é
um esporte lúdico, belo e emocionante. Os lances espetaculares são os que ficam
na história.”
“O futebol e a vida continuam
prazerosos e bonitos porque mesmo em situações previsíveis, comuns e
repetitivas, haverá sempre o acaso e um artista, um craque para transgredir e
reinventar a história.”
Algumas chegam a surpreender como
a crônica que dá título ao livro:
“Compreendo as atuais críticas (a
crônica é de 2000) de que a seleção de 70 não era tão maravilhosa. Imaginaram
um time perfeito. Não foi perfeito, mas foi uma equipe espetacular e
irresistível para aquela época. A perfeição só existe na nossa imaginação. A
seleção de 70 teve um grande defeito: seus jogos são constantemente reprisados pela
TV. A imagem destrói a fantasia, que é sempre melhor que a realidade.”
Sem dúvida há ainda muitos
pensamento e reflexões que mereceriam citação, mas deixo os leitores com a
curiosidade conhecê-los.
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