domingo, 3 de junho de 2012

Tim...1971 - por Gilberto da Costa Carvalho

         
     Uma celebração tijucana. É assim que defino o segundo disco de Tim Maia. Podemos notar isto logo na abertura do disco com "A festa de Santo Reis", uma das melhores músicas de sua carreira. Os reizados (conhecidos aqui no Nordeste como Papangus) eram constantes na Tijuca, bairro onde Tim cresceu e viveu. A miscelânea sonora vai crescendo com - "Não quero dinheiro", sucesso absoluto que se perpetuou através do tempo. E o mais engraçado é que esta música foi composta para uma ex-namorada de um amigo pessoal. Obviamente que a canção só saiu após a referida senhora ceder ao assédio emocional de Tim. Voltamos a vertente nordestina mesclada com o soul em - "Salve nossa senhora". Procissões, romarias, o céu da Bahia e a volta de Rosinha são o tema principal da canção. Uma oração em forma de festa.
     Poucas pessoas sabem que nesta época, existia uma rusga bastante intensa entre Tim e Roberto Carlos. "O gordinho" quando voltou deportado dos EUA, ficou revoltado com o tratamento ao qual "o Rei" o submeteu. É meus caros, para que vocês saibam, foi Tim Maia que ensinou Roberto Carlos e Erasmo Carlos a tocar violão. E se o assunto for cantar, aí não se tem nem o que comparar. Ambos eram engolidos por Tim.
     Daí surgiram duas canções - "Um dia chego lá" e "Não vou ficar". Esta segunda, foi mais um motivo dos problemas com Roberto Carlos. Depois de muita insistência e um apelo da namorada, "o Rei" gravou a mesma em seu disco. Resultado - o maior sucesso do LP foi a música de Tim. Temos que ressaltar e fazer justiça. A versão de Roberto Carlos é melhor do que a versão do autor. Embora, o balanço cadenceado da versão de Tim seja bastante interessante.
"Broken heart" é uma canção curta e empolgante. Um recado eficiente:

I did it for you, darling. I did for you, my darling. But you never know. That my heart beat a little louder. Every time that you're near. My heart beat a little louder. Even broken heart and soul. Broken heart, desire.

     O lado B do disco começa com uma pedra preciosa. Durante muito tempo, eu sempre lembrava de um trecho que Os Paralamas do Sucesso tocavam num disco ao vivo. Quando ouvi a versão de Tim alguns anos depois,  pude perceber a beleza e a intensidade de "Você". Na sequência, encontramos uma das mais belas e intimistas canções da carreira de Tim Maia. Defino a canção - "Preciso aprender a ser só", como um pedido de amor. Ao mesmo tempo que afirma que precisa aprender a ser só, ele confessa que se entregou sem pensar e que a saudade faz com que os olhos chorem a falta. E que mesmo a paz tendo sido levada pela ausência, é com ela que ele quer ficar. E que morre pensando neste amor. "I don´t know what to do with myself", é uma parceria de Tim com seu amigo Hyldon. Um funk nato!
     Outra bomba sonora chega a nossos ouvidos com - "É por você que eu vivo". Esta música começa de forma romântica, com um arranjo diferenciado onde percebemos a marcação de contrabaixo de soul, flertando com as cordas. No final, uma explosão de sentimentos! A junção do pedido dolorido de Tim - "deixe seu coração longe do meu, que ele ficará partido. É por você que eu vivo" e o que o os arranjadores conseguiram fazer, é uma das coisas mais bonitas da história de Tim Maia.
     O disco é encerrado com - "Meu país". Uma declaração de que aprendeu muito na época de EUA, mas que no Brasil ele aprendeu a ver as flores e a sentir. Além desta, temos a excelente - "I don´t care". Um dos melhores "souls" gravados em terras brasileiras. Na letra, Tim afirma - "I don´t need you. I don´t have to plead you. You know my name..."

Não é tão simples assim...

5 comentários:

  1. Importantíssimo guia pra nos aprofundarmos no cancioneiro do Tim!

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  2. Tim Maia tornou-se com o passar dos anos, por seu comportamento errático, um ícone dos "bad boys" da música brasileira. Não obstante, foi o portador de uma das mais renovadoras e salutares ondas musicais brasileiras de todos os tempos. Não me arrisco a tecer comentários mais profundos de uma carreira brilhante (e que seria perfeita, não fosse, como já disse, o poço de exemplos que Tim deu de "como não querer ser um queridinho no cenário musical". Mas uma verdade deve ser dita e acho que nisso Tim tem a unanimidade de quem gosta de música. O cara tinha um balanço, um vozeirão bem colocado e um carisma no palco de fazer inveja à quase totalidade dos cantores do século. Salve Tim Maia... você é eterno, gordo doido !!

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  3. Em tempo (ou P.S.- que eu sou antigo, viu Giba?)
    Esse Blog de vocês tá pra lá de arretado. Leio sempre que posso, porque a vida tá corrida demais pra tanta coisa que eu tenho que fazer. Só não comento sempre por falta de estatura musical pra tanto. Este adendo tornou-se necessário depois do pito que levei na frente do berçário, no dia em que Theo meu neto nasceu, hehehehe Abração, meu querido.. sou seu fã !

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  4. Pô Fred...assim você mexe com esse coração de aço. Um abraço.

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  5. Concordo, André! Um roteiro muito bem feito. Arretado!

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