Estávamos
eu e meu amigo Yuri Bruscky no Bar Frontal, Centro do Recife, durante os fins
de julho. Após uma apresentação dos nossos amigos do Ram Trio – uma turma do
Chile que faz um som pra lá de eletroacústico, lembro-me que conversávamos sobre
os trabalhos de Caetano Veloso e um dos pontos em questão era a relevância dos
produtores e músicos que compuseram os discos de Caetano. Ora, num ponto como
este seria inevitável que eu não pensasse nas guitarras de Lanny Gordin.
Lanny
foi e ainda é, um músico excepcional. Recebeu a alcunha de Hendrix Brasileiro
no glossário guitarrístico e, de fato, em algumas gravações seu estilo se
aproximou muito como o de Hendrix. Porém, eu diria que há certo limite em
estabelecer um paralelismo entre Lanny Gordin e Jimi Hendrix. Não por Lanny ser
um guitarrista maior ou menor do que Hendrix, mas pelo fato dele dominar a
Bossa Nova, o Jazz e o Samba além do Rock n’ Roll, como também tocar o violão
de Náilon além das guitarras stratocaster, acústica, semiacústica e dos efeitos
wah-wah.
Lanny
é o apelido de Alexander Gordin que nasceu em Xangai, na China, no seio de uma
família judaica russa e polonesa. Depois da China, Lanny mudou-se para Israel,
onde viveu até os seis anos de idade. Só veio para o Brasil com seus pais: primeiro
para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo. E foi na capital paulistana onde
o seu pai abriu uma boate conhecida como Stardust (localizada na Praça Roosevelt no centro da cidade). Na Stardust, o
jovem Lanny teve o privilégio de conviver ao lado de grandes monstros da
música, dentre eles Hermeto Pascoal e Heraldo do Monte, e na mesma época iniciou
o seu primeiro trabalho profissional com a cantora Wanderléa, leia-se em pleno auge da
Jovem Guarda. Neste mesmo período, Tony Osanah (guitarrista dos Beat Boys) foi
até a Stardust ouvir a guitarra de Lanny e tentar uma conversa com ele. Ele
propôs que Lanny conhecesse Gilberto Gil. Lanny topou. Ele e Gil se conheceram,
tocaram juntos durante quinze minutos. Resultado: Lanny foi convidado para integrar a onda da Tropicália e ainda por cima foi apresentado a Gal Costa para contribuir em seu
futuro disco!
Lanny
tornou-se uma figura mais conhecida por atuar como sideman
de vários artistas fundamentais. Se pensarmos em termos de álbum, encontraremos
suas participações em Caetano (1969); Araçá Azul (1973); Jards Macalé (1972);
Gal A Todo Vapor (1971); Expresso 2222 (1972), Cuscuz Clã (1996) – enfim, apenas
alguns exemplos mais emblemáticos... Lanny também assinou alguns títulos, sendo o mais
recente o álbum Duos (2007) cujo repertório partilha com Caetano Veloso,
Gilberto Gil, Gal Costa, Vanessa da Mata, Zeca Baleiro, Rodrigo Amarante, Edgar
Scandurra, Jards Macalé, Chico César e Max de Castro. Outros encontros
marcantes em sua carreira aconteceram com o projeto psicodélico do
Brazilian Octopus, Roberto Carlos, Erasmo
Carlos, Tim Maia, Jair Rodrigues, Itamar Assumpção, Sarah Vaughan e Ravi
Shankar. Quando tocou com Elis Regina, Lanny foi apelidado por ela de “Lanny
Rayovac”, dada a intensidade da sua guitarra. Hoje o seu instrumento de
apresentações é uma Gibson Es 135, presenteada por Adriana Calcanhotto. Além de
músico profissional, Lanny também deu aulas particulares de violão e guitarra
em São Paulo. Apenas combinava o preço ao telefone e recebia os estudantes em
sua casa.
Guitarristas de admiração? Larry Coryell, John
McLaughlin, Jimi Hendrix, Jeff Beck, Eric Clapton, Wes Montgomery, Joe Pass,
Jim Hall, Al Caiola, Tony Mottola são alguns citados. Uma
lista excepcional para qualquer guitarrista que procura várias linguagens em
seu modo de tocar e perceber um instrumento não botar defeito. E após conhecer um pouco de Lanny e saber que ele
vivenciou e contribuiu na trajetória de gente das linhas mais variadas, eu diria que ele é não é apenas um
guitarrista excepcional, mais além; Lanny Gordin é uma encruzilhada de experiências
estéticas!
Lanny Gordin com Caetano Veloso no Araçá Azul