quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O brilho de um garoto - por Gilberto da Costa Carvalho

     Há muito tempo Fernando Lucchesi insistia: "Tu tens que ouvir um cantor chamado Paolo Nutini". Eu, com minha tradicional relutância em aceitar estas novidades sonoras, sempre deixava o descaso tomar conta desta afirmativa.
     O dia era 10 de Julho de 2012, meu aniversário. Estávamos perambulando pelo coração da Boa Vista atrás de um depósito aberto para comprar as grades de cerveja da festa. De repente, num CD de vários MP3, eis que surge o tal garoto escocês. Fernando olhou para mim e disse: "Bicho, agora não tem como você não escutar."  De repente, após os primeiros acordes de "No other way", a paralisia. Quando algo me surpreende de forma avassaladora em termos musicais, eu costumo fixar o olhar em algum local, fico espontanemante parado para que possa perceber cada detalhe daquilo que bateu de frente. Ao término, viro para Fernando e digo - "Porra véio! Repete isso aí!"    
     Paolo Nutini é um garoto escocês, que surgiu no ramo musical em 2006 com apenas 19 anos de idade. "These streets" seu primeiro trabalho é recheado de música pop de excelente qualidade. Já nesta época ele se destacava por um fator preponderante, que não eram a carinha de galã descolado e descabelado. O timbre vocal do garoto o fazia tornar-se bastante diferente na safra de novos cantores britânicos. Nutini sôa bem mais velho do que parece. E isto impressiona sobremaneira! O primeiro disco virou logo sucesso e vendeu milhares de cópias. Os 3 singles do disco - Last Request, Rewind e New shoes foram insistentemente vinculados as rádios do Reino Unido.
     Como qualquer "novo sucesso" da mídia, todos esperavam um segundo disco de imediato. Nutini remou contra a corrente, e só 3 anos após o lançamento do primeiro album surge - "Sunny Side Up (2009)". Este trabalho marca a primeira revolução musical do garoto. A ambição de ser pessoal rege todo o disco. Saindo de um universo totalmente pop, o novo trabalho é tomado pelo "Folk Rock", e flertes com "Soul" e a tradicional "R&B". Risco? Que nada! O album estourou em primeiro lugar no Reino Unido recebendo inúmeros elogios dos críticos e fãs. Para mim, a voz sofreu alguns novos contornos que se tornaram essenciais para este sucesso. Mais amadurecido, Nutini conquista a cada dia mais fãs por onde passa, principalmente pela ousadia em inovar.
     De cara, o primeiro single do novo disco cai nas graças do público. "Candy" é uma baladinha com ritmo de verão europeu. Despojado como sempre, Nutini encanta com seu jeitão descompromissado de cantar as partes "pops", mas que termina a música com um show de potência vocal.
     Para falar de "No other way", preferi um parágrafo especial e único. Desde a primeira audição, dentro do carro, eu não consigo parar de ouvir esta canção. Há muito tempo não ouvia algo tão bem interpretado por um cantor da nova geração. É um verdadeiro soul! Com alma ,cara e jeito sessentista. Acompanhado de uma letra brilhante e de entrega, Nutini explora todo seu talento vocal com maestria similar aos grandes nomes do estilo. A interpretação do garoto é simplesmente espetacular e de dilacerar corações!



     Certa feita, um amigo músico que hoje reside no Rio de Janeiro me perguntou: "Giba, o que as gravadoras  procuram atualmente no mundo pop?" Na época eu não soube responder, mas, nunca esqueci tal questionamento. Tem certas coisas que ficam martelando na minha cabeça e só sossego quando acho a resposta. E a resposta para o questionamento é "Ré-invenção". Ao analisarmos um artista novo como Paolo Nutini, que em tão curta carreira já mostra para que veio, sem medo de errar e de inovar, podemos enxergar claramente todo o universo que se abre para nossas vidas e, principalmente, para nossos ouvidos.

E que assim seja! Vai em frente Paolo!


Abaixo, segue uma apresentação no Paleo Festival de 2011. Vale a pena conferir!

5 comentários:

  1. Do caralho... muito pela competência docara, mas talvez pq o som dele remonte ao estilo negro dos 70's... Por uma coisa ou outra, enfim,axei massa...
    Talvez falte um pouco disso nesse pop industrializado que aconteça nesses anos 2000: falta de sentimento, de vontade, de retrospecto, de busca e inspirações no que o pop já teve de melhor. Muito bom.

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  2. Valeu pela dica, Giba. Agora é acrescentar à playlist.

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  3. Grande voz! Valeu a dica! Baixarei seus discos para ter uma opinião mais embasada sobre seu trabalho.

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  4. Bicho, sou suspeito pra falar, mas gostei pra caramba do texto. Muito bom mesmo! Pelo visto quem terá de procurar mais sobre Nutini agora sou eu. Abração, meu velho!

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