domingo, 21 de outubro de 2012

Plumas, pôneis, paetês e o rock and roll dos Titãs - por Gilberto da Costa Carvalho



 Noite de sábado e show do Titãs tocando o clássico disco - "Cabeça de Dinossauro", no Baile Perfumado. Obviamente, que este lance de tocar coisas antigas já está se tornando altamente manjado. E me questiono: "De fato é um resgate musical, ou seria uma tentativa de se livrar da falência?"
     Chegando por lá, fomos recebidos por uma imensa confusão causada por três seguranças da casa, com dois "supostos" cambistas. Um quebra-pau sem tamanho logo na entrada do Baile. Passada a baixaria inicial, adentramos no recinto. De cara, percebi que as condições seriam bastante diferentes do dia que assisti ao show de Zeca Baleiro. O local já estava tomado de gente...muita gente meus caros. Logo fui procurar um local onde pudesse assistir ao show com pelo menos o mínimo de qualidade. Munido da única cerveja da noite, achamos o local e ficamos no aguardo. Algo já me apavorava de forma alarmante - o calor! Diferentemente do show do Baleiro, o vento mudou de direção e o que era agradável tornou-se uma sauna humana.
    O show começou de forma estranha. Sim, "estranha" é a palavra correta para descrever o que ocorreu. Com toda justiça à banda e a equipe, tenho que ressaltar que tudo estava perfeito! Som extramemente bem equalizado e a banda muito afiada nas execuções dos clássicos 80´s. O que causou uma certa "surpresa", foi que o público que superlotava o espaço, mal conseguia vibrar e parecia muito mais assustado com a porrada que vem logo de cara com a música que dá nome ao disco. Sim, recordo que minha amiga Thaís olhou pra mim, por volta da terceira música e disse - "Tás achando o povo meio por fora não?" E não tinha como ser diferente. Notava-se claramente, que pelo menos 70% das pessoas que pagaram para ver o show, foram muito mais esperando que o Titãs tocasse os "clássicos" da sua fase de "músicas de auto-ajuda". Canções que fariam parte de qualquer livro de Lair Ribeiro sem muito esforço.


Segue a detestável "Enquanto houver sol" -



     O negócio foi tão gritante em relação ao público, que eu e os amigos que assistíamos juntos o show, vibrávamos justamente com as músicas que a grande maioria ia comprar cerveja. Vale ressaltar que as versões foram matadoras na sua grande maioria. "A verdadeira Mary Poppins" foi um espetáculo à parte de intensidade. E, de forma contrária os pôneis com suas camisas com cavalos e números imensos só faltavam ter orgasmos compulsivos naquelas únicas que sabiam cantar. E as dondocas cheias de lantejoulas, plumas e paetês de cima a baixo fizeram um verdadeiro Recifolia ao escutar "Sonífera Ilha, decansa meus olhos, sossega minha boca, me enche de luz..."
     Há de se ressaltar também, algo que sempre ocorre aqui em Recife em todos os locais de shows. A super-lotação, ou melhor, o "SUPER-FATURAMENTO". O espaço "Baile Perfumado" é um local muito legal para realização de shows, isto é fato! Faltava há algum tempo na nossa cidade um recinto que fosse mais central e que abrisse as portas para espetáculos de âmbito mais alternativo e que mescle estilos sem se preocupar com "styles", "emos", "fofinhos", "rockers", "samba" e etc...
Isto é extremamente importante para a vida cultural da cidade. Afinal, tristes daqueles que se prendem musicalmente a uma única perspectiva ou local. No entanto, os donos precisam ter bom senso na hora da venda de ingressos. Principalmente, com relação ao número de ingressos colocavos à venda. A noite de ontem foi inesquecível pela super-lotação, pela cerveja quente e, principalmente, pelo calor senegalês que estava  dentro do espaço. Recordo que comentei com Thais, que eu não suava daquele modo desde as primeiras "Noites Cubanas" do Eufrásio Barbosa em Olinda (que é um local que nos faz crer que existe subsolo no inferno).
     Com relação aos Titãs, nota-se uma melhora com a diminuição de membros na banda. Pelo menos foi esta a impressão que me causou. Era "cacique demais para pouco índio", diz o dito popular. Como citei acima, o show foi bom! A banda foi muito profissional e estava muito bem preparada para a apresentação. Mas, é notório que o tempo passou meus caros! Os Titãs ficaram muito vinculados a "nova fase" desde o Acústico MTV (que é até um bom disco, mas que que causou uma mudança drástica e, na minha opinião, catastrófica para a banda). Não os vejo mais com o lado "rocker" aflorado. Foi tudo cena para um espetáculo "saudosista" para minorias. Rocker que no meio de uma música diz - "Agora quero ver o coral", tá mais sertanejo do que qualquer outra coisa. Esse lance de colocar a "mãozinha pra cima" é muito mais axé do que qualquer outra coisa. E presenciei isto ontem! Um misto de silêncios sepulcrais e êxtase com apenas as músicas que fizeram parte do Acústico.
     No mais, o recado que gostaria de passar aos Titãs, foram eles mesmos que fizeram:

"Que não é o que não pode ser que, não é o que não pode,
Ser que não é
O que não pode ser que não
É o que não
Pode ser
Que não
É"

     Faz 15 anos que vocês deixaram de ser que o que foram! Compreendem?

Observação 1 - Tenho que ressaltar que fiquei muito frustrado por eles não terem tocado "Será que é disso que eu necessito?". Que é a minha preferida.

Observação 2 - Novamente, pessoas com celulares roubados no show. Uma amiga minha foi vítima desta vez. Meninas, cuidado com vossas bolsas, porque o incidente foi dentro do show.


Quando o Titãs era uma banda de respeito -


     



7 comentários:

  1. O show foi lindo! Estava com saudade, embora fica difícil ouvir algumas músicas sem Nando Reis e Arnaldo Antunes, além disso, a perda de Marcelo Fromer foi irreparável. Achei até que a quantidade de gente foi boa. Dava para transitar...Tirando a tristeza do meu celular, queria de novo!

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  2. Muito bom Giba. Minha resposta a sua primeira pergunta é: tentativa de se livrar da decadência. Pena que aqui em Recife, isso não dá certo. Você descreveu perfeitamente a grande maioria dos shows atualmente em recife: "E, de forma contrária os pôneis com suas camisas com cavalos e números imensos só faltavam ter orgasmos compulsivos naquelas únicas que sabiam cantar. E as dondocas cheias de lantejoulas, plumas e paetês de cima a baixo fizeram um verdadeiro Recifolia ao escutar "Sonífera Ilha, decansa meus olhos, sossega minha boca, me enche de luz..." SENSACIONAL.
    Mesmo nunca tendo gostado de Titãs, me convidaram para este evento dizendo: É o cabeça de Dinossauro (isto soava como uma coisa muito boa, os bons tempos dos Titãs, puro rock'n'roll, etc). Ainda assim já conseguia imaginar estas cenas que vc descreveu, mesmo tendo o evento uma proposta supostamente diferente. É uma pena que hoje em dia, ir a shows em Recife não significa mais apreciar a arte musical; mas aparecer, dizer "eu vou", "eu fui" e posteriormente e o mais importante: colocar as fotos no facebook.

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  3. Giba, atacaste mais uma vez com essa escrita ferina! Sobre o ponto do público parecer meio evasivo durante alguns números tocados pelos Titãs, me lembrei de uma passagem de Theodor W. Adorno em um dos seus textos sobre música. Ao falar de alguns tipos de consumidores culturais, disse Adorno: "a rigor, o consumidor idolatra o dinheiro que ele mesmo gastou pela entrada num concerto de Toscanini. 'Fabricou' o sucesso, não porque o concerto lhe agradou, mas por ter comprado a entrada"... Eu acho um barato esses choques, de quando uma galera vai no "oba-oba" e toma umas chacoalhadas. Abraço!

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  4. Massa, cara. Giba, acho que uma das verdades sobre isso, eu ouvi em uma entrevista/debate com Lobão. O fato é que o rock and roll NUNCA pegou no Brasil, cara. Nunca deu certo, não entrou de verdade na nossa veia. Quem sabe gostar de rock por aqui é sempre a minoria que você mencionou, isso em qualquer vertente de rock. Em matéria de rock and roll, a gente tá tão longe de ter uma excelência de público quanto de ter excelência das bandas. Eu sou chato e não gosto de praticamente nada do que ouço há muito tempo.

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  5. Giba, ótima análise! Respondendo a sua pergunta, opto por "tentativa de se livrar da falência". Falência essa financeira e, principalmente, criativa! Daí o "boom" de bandas que vendem o que representaram no passado como um produto de boutique. E eles cobram muito caro por isso...
    Quanto ao público, nada mais natural! Hoje, a experiência artística foi esvaziada e substituída por arroubos de alegria publicáveis no Facebook. O público que tem um conhecimento prévio do que vai ouvir e entende o contexto em que está inserido está praticamente extinto. Atualmente impera o efeito manada no consumo desse tipo de espetáculo. Portanto, os "pôneis" e as "dondocas" são a consequência inevitável de um contexto que reduz a arte à categoria de produto!
    Outra coisa, perdoe-me a franqueza, Giba, mas esperar uma postura "rocker" do Titãs a essa altura do campeonato é, no mínimo, ingênuo. Os cabras envelheceram, tiveram filhos e contas a pagar e o mais importante: foram DOMESTICADOS pela lógica da indústria cultural que vende discursos e atitudes! Se o cabras ainda estivessem "protestando contra o sistema e dando tapa na cara da sociedade", seria incoerente ou, no máximo, kitsch. Banalidade é a palavra do momento, meu caro, e o futuro é bastante sombrio.

    PS: O nome do disco é "Cabeça Dinossauro" sem a preposição "de". :P

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  6. Pois eu acho que deveriam continuar dando tapa na cara da sociedade sim! Existem rockers bem mais velhos que eles que mantém a postura até hoje! Acho que eles entraram em decadência mesmo! E ficaram muito "auto-ajuda". Valeu pelo nome do disco!

    Abraço.

    Giba.

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