Heitor Villa-Lobos |
"Has come? Had come, rather; was there all along…” – Leonard Bernstein
Parafraseando
Leonard Bernstein, pode-se dizer que o tempo de Villa-Lobos chegou! Por um
longo período, o compositor fora sobrepujado pela exuberância nacionalista de
suas Bachianas Brasileiras, o que inequivocamente sombreou a grandiosidade
quantitativa e qualitativa de seus demais escritos. São aproximadamente 1.000
títulos que abarcam do poema sinfônico à música de câmara. Contudo, o trabalho
de revisão musicológica promovido pela Orquestra Sinfônica do Estado de São
Paulo (OSESP) por meio de sua editora “Criadores do Brasil” traz à luz da execução
o lado oculto do compositor. Assim, de modo semelhante ao que aconteceu com Gustav
Mahler nos anos 1960, Heitor Villa-Lobos é enfim revisitado e redescoberto.
Acaba
de ser lançado pelo selo Naxos, o primeiro volume do projeto de gravação das 11
sinfonias (deveriam ser 12, mas a 5ª se perdeu) do compositor brasileiro pela OSESP
sob a direção do maestro Isaac Karabtchevsky. Esse disco traz um registro
primoroso das Sinfonias n.º 6 e n.º7 que representam o amadurecimento do Villa
em sua busca por um discurso musical sinfônico efetivamente brasileiro para
além das peculiaridades folclóricas e do exotismo tropical. Mais ainda: essas
obras evidenciam a preocupação do autor em romper com o impulso meramente
estético para delinear uma afirmação política na sua construção da “alma
brasileira”.
“Sobre as Linhas das Montanhas” fora o título
dado à Sinfonia n.º6 por se basear nos contornos do Pão de Açúcar, do Corcovado
e da Serra dos Órgãos no Rio de Janeiro. Para tanto, Villa-Lobos utilizou uma
ferramenta pedagógica que desenvolvera para o ensino de crianças: a
Milimetrização, isto é, o uso de papel quadriculado sobre uma fotografia a fim
de perscrutar, através de gráficos, as melodias. Logo no início, o ouvinte
percebe o quão escarpado é o relevo! O Allegro
non troppo despeja uma torrente de melodias angulosas que se movem
impetuosas sobre um terreno harmônico cromático e tenso para descambar num Lento reflexivo de densa tessitura. O
breve terceiro movimento retoma a
fúria inicial com harmonizações imaginativas e um vigor rítmico notável,
expondo as marcas deixadas por Stravinsky no compositor anos atrás. Já o quarto
e último movimento – Allegro – segue
a trilha de seu predecessor, explorando, contudo, uma riqueza temática
estonteante.
O
disco prossegue e a opulência revela seu significado absoluto: Sinfonia n.º 7.
Composta em 1945 visando ao concurso de composição realizado pela Orquestra
Sinfônica de Detroit, o autor utilizou uma ampla formação orquestral com naipes
duplicados e até triplicados, além de um imenso set de percussão. Equilibrando uma massa sonora descomunal e uma sofisticada
trama de fluxo contínuo, o compositor escreveu uma de suas mais audaciosas peças.
Do Allegro vivace com seus pesados acordes
aumentados, variações rítmicas irrefreáveis e padrões melódicos simétricos,
passando pela calmaria contemplativa do Lento
e pela inesgotável inventividade melódica do Scherzo até chegar à luxúria contrapontística do Allegro preciso; o ouvinte se depara com
uma construção narrativa bastante elaborada e singular que revela seus
pormenores a cada audição.
Em
seu anseio por criar uma linguagem totalmente brasileira, Heitor Villa-Lobos conseguiu
unificar em sua música os múltiplos aspectos intimamente associados que deram corpo
à ideia de identidade nacional. Por essa razão, é muito importante que uma
orquestra brasileira, portanto ligada às tradições e raízes culturais do país, se
lance a um projeto dessa magnitude e desentranhe da obscuridade as obras do mais
sólido alicerce da música erudita nacional, enaltecendo sua importância
histórico-musicológica. Afinal, seu tempo urge, não pelo “hoje”, nem pelo “ontem”;
mas, pelo “sempre”!
Ótimo texto e ótima dica, Bruno. Parabéns, meu caro!
ResponderExcluirBruno, você falando só posso crer que seja bom, principalmente por tratar-se de Villa-Lobos, com certeza apreciarei esse trabalho. Parabéns pelo texto e pela dica!
ResponderExcluirCristina Monteiro
Grato pelo texto e pela dica, meu caro. Parabéns e forte abraço!
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