terça-feira, 16 de abril de 2013

Paulo Leminski e Toda Poesia - por André Maranhão Santos




Mal acabou de sair pela Companhia das Letras, e Toda Poesia – uma reunião dos poemas em vida e póstumos de Paulo Leminski – já aparece nas listas dos livros mais vendidos em algumas livrarias nacionais.

Leminski é ao mesmo tempo apontado como alguém curitibano provinciano e como alguém de grande internacionalidade, ao trazer em sua estética Caetano, Glauber, Décio, Pound, Oswald, Dylan, Wordsworth, que se imbricam ao frevo e aos haicais, ao parnasiano e ao concreto, ao coloquial e ao clássico. 

Poeta de mãe negra e pai polonês, Leminski agregou à sua escolaridade católica várias astrologias; a ginga à sua faixa preta de judô. Tudo isso calhou num Mallarmé Bashô, num Kamiquase, num beatnik latino, enfim, num samurai-malandro, como bem o definiu Leyla Perrone-Moisés.

A quem se presta à concisão, Leminski é um bem possível; e parte dos seus feitos apela não só à norma culta como também à norma curta, à economia de versos, de tal modo que nem sempre o breve pode ser apenas pouco.

Por outro lado, alguns comentadores acusam os versos de Leminski de significarem trocadilhos espúrios e óbvios, jogos de palavras previsíveis e caóticos, somados ao desinteresse daquele poeta em buscar uma forma mais sólida e consistente em sua escrita. 

Se Datada ou contemporânea, menor ou monumental, acredito que a poesia de Leminski simboliza uma empreitada fértil em um momento de profunda transformação na Literatura Brasileira. Boa parte dos seus trabalhos mais celebrados (caprichos & relaxos; distraídos venceremos) foi publicada entre as décadas de 1970 e 1980, um contexto em que a poesia de mimeógrafo e a escrita marginal aconteciam, além de certos ingredientes da Tropicália receberem novas leituras. 

Leminski é também um caso emblemático do cancionista – sendo este termo utilizado por Charles Perrone, José Miguel Wisnik, Luiz Tatit e companhia limitada para designar as pessoas que fazem canções, dado que canção é algo bem diferente de poema ou de música. É de modo semelhante ao Leminski cancionista, que dialoga com Caetano Veloso em Verdura e Arnaldo Antunes em Luzes, que outros poetas-cronistas / cancionistas amadurecerão suas literalidades. A dita Música Popular Brasileira também apontará para novas veredas e possibilidades formais: Paulo César Pinheiro, Torquato Neto, Cacaso, Waly Salomão, Xico Chaves, Fernando Brandt, Aldir Blanc, Antonio Cícero, Hilda Hilst e Alice Ruiz (esta última, companheira do próprio Leminski por mais de vinte anos), são alguns dos nomes marcantes que simbolizam o diálogo entre escritor e cancionista na MPB. 

Acionar a poética de Leminski não se resume a um simples diálogo com a Literatura Brasileira; é também um gesto profícuo para a nossa compreensão sobre o desdobramento da tradição cancionística no Brasil. Enfim, a indicação de Toda Poesia serve como um desafio para apreciarmos ou não um dos caminhos tomados pela literatura e, sob algum grau, pela canção, onde o realizador da vez é Paulo Leminski. 

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