Fundadores,
pais, artífices, pioneiros, inventores. Esses são só alguns dos adjetivos
quando se menciona o nome Black Sabbath junto ao termo “Heavy Metal”. Apesar da
“paternidade” desse gênero musical ser altamente discutida, parece haver um
relativo consenso entre público e crítica de que o Sabbath é a primeira banda a
se destacar dentro das características que compõem o gênero.
Lançada com
mais de seis anos de atraso no Brasil, a biografia “Sabbath Bloody Sabbath”
revela-se uma ótima leitura para quem deseja conhecer um pouco mais dessa banda
crucial na história do rock. O autor, Joel McIver, conhecido por seus livros e
matérias sobre rock para as principais publicações britânicas, traz um panorama
bem abrangente da banda. Seguindo uma ordem cronológica, ele nos traz
informações desde a infância de John Michael Osbourne, posteriormente conhecido
como Ozzy e dos demais componentes da banda na industrial e monótona Birmingham
do pós-guerra. Cidade bastante castigada pelos bombardeios da força aérea alemã
durante a segunda guerra mundial, Birmingham pouco podia oferecer à juventude
durante a década de 1950 e começo dos 1960. Isso restringiu as opções de
emprego para os jovens e uma das poucas alternativas era trabalhar nas
indústrias de metalurgia existentes na cidade. Além disso, a cidade ficava
longe do foco de mudanças culturais que começou a se processar na década de
1960, em Londres. Desse
cenário pouco promissor, surge o Earth, o embrião da banda que futuramente
seria conhecida como Black Sabbath.
McIver relata
com riqueza e precisão de detalhes, através de depoimentos dos membros da banda
e daqueles que os acompanhavam, como se deu a produção dos primeiros discos do
Sabbath e primeiras turnês que, em razão do orçamento limitado, restringiam-se
à Europa. Apesar de não ter contado com depoimentos de Ozzy para a composição
do livro, a autor se vale de muitos depoimentos do mesmo em diversas outras
publicações e são esses depoimentos os mais divertidos do livro. Os problemas
de alcoolismo enfrentados pelos membros da banda (de acordo com o livro, o
único que não teve maiores problemas com o álcool foi Tony Iommi) são
esmiuçados pelo autor, inclusive o caso de Bill Ward (baterista da banda) que
chegou a passar mais de um ano trancado em um hotel apenas bebendo. As loucuras
de Ozzy estimuladas por álcool e drogas também ganham destaque no livro, mas
longe de buscar o sensacionalismo. Essas passagens são colocadas em perspectiva
para que o leitor entenda o quanto a formação original da banda foi prejudicada
por esses problemas, o que no fim das contas levou à ruptura da banda em 1978.
Não se pode
dizer que o autor tenha privilegiado a época mais douradora e produtiva do
Sabbath(1970) em detrimento de outras épocas e formações. A Era Dio também tem
o seu destaque, mas proporcional à quantidade de discos em que ele teve
participação. Outro destaque do livro é como o Ozzyfest tornou-se um destaque
para a cena musical americana. O autor revela os bastidores das negociações
para as bandas tocarem, a influência da mulher/empresária de Ozzy e como a
marca cresceu ao longo dos anos. Também não escapa ao olhar do autor o fenômeno
cultural pop “The Osbournes” e como a “persona” Ozzy Osbourne passou de uma
figura conhecida no meio musical para um fenômeno de escala multimídia.
Mas nem tudo
na biografia é positivo. O autor faz comentários/críticas a respeito de todas
(sim, de TODAS) as músicas da banda. Para o leitor que está buscando
informações sobre a história da banda (como era meu caso) a leitura fica
maçante com esses comentários e quebra demais a narrativa fluída que se espera
de uma biografia. Outro ponto negativo (embora seja negativo dependendo do quão
fã da banda você é) é o destaque dado pelo autor a as 900.000 formações do
Sabbath quando o único componente da banda era Iommi. Além de ser uma época
pouco relevante musicalmente, Iommi trocava de músicos praticamente todo mês e
produziu bombas musicais como o intragável “Seventh Star” (disco que só leva o
nome do Sabbath por imposição da gravadora, uma vez que na verdade é um
trabalho solo de Iommi).
Esses pequenos percalços, no entanto, não diminuem a
importância do livro que é leitura obrigatória para quem quer conhecer ou já
conhece e quer se aprofundar na obra dessa banda seminal.