Posso dizer que algumas semanas atrás tive um dos grandes prazeres
musicais de minha vida até hoje. Assistir o concerto do baixista Dave Holland
em parceria com o violonista Pepe Habichuela.
Em termos de estrutura, tudo impecável. A organização da Casa
da Música, a educação do público, o controle técnico do som (nem um triz de
microfonia), a qualidade do som em termos de equalização, por fim a qualidade
dos instrumentos e dos instrumentistas.
Holland, um imponente e lúcido lorde inglês com mais de
cinquenta anos de carreira é considerado um dos principais jazzístas em
atividade, tendo em seu currículo trabalhos com Miles Davis (na lendária época
do Bitches Brew), Thelonious Monk, Chick Corea, Kenny Wheeler, Stan Getz, Bill
Frisell, dentre outros grandes. Mestre do som e do ritmo, de timbre suave e
improvisações inspiradas, teve sua carreira marcada por uma longa relação com a
gravadora ECM onde participou de álbuns lendários.
Habichuela pertence a uma das grandes dinastias da música
flamenca. É da geração de Paco de Lucía e de Camarón de La Isla, porém
manteve-se sempre atualizado, acompanhando os novos rumos tomados por esta
linguagem musical. Em trabalhos anteriores com o trompetista Don Cherry, já
tinha buscado a fusão do jazz com a música flamenca. Mais recente, alguns anos
atrás, experimentou a fusão com a música clássica indiana nos seus trabalhos
com o músico Nitin Sawhney.
Acompanhados de Josemi Carmona no segundo violão e dos
percussionistas Juan Carmona e Bandolero, o concerto de Holland &
Habichuela foi uma verdadeira aula de maturidade musical. Bom gosto de
fraseados, instrospecção e ao mesmo tempo comunicação musical entre os
integrantes, controle técnico e acima de tudo, bom gosto artístico.
Viu-se o Holland descobridor e pesquisador, pois a música era
exclusivamente flamenca. Apesar de ficar claro em suas improvisações que é de base
jazzística o seu idiomatismo musical. Viu-se o Pepe como a personificação do
espírito flamenco. Ao mesmo tempo que era extremamente técnico e veloz, era
doce e sentimental, fazendo-nos lembrar dos verdadeiros propósitos da arte de
fazer música. Viu-se o Josemi Carmona com um toque singular de violão,
enquadrado na escola do Nuevo Flamenco e os percussionistas Juan e Bandolero delicadamente
confirmando o dito popular que na música: menos é mais.Como o Holland dispensa apresentações, segue abaixo um vídeo do Pepe Habichuela pra quem quiser conhecer melhor o mestre:
http://www.youtube.com/watch?v=fl9YTIvZa1s
Devo confessar que quando ouvi o disco Hands pela primeira vez, fiquei com a impressão um tanto quanto negativa. Pareceu-me um pastiche de um flamenco-jazz meio estéril. As músicas não saiam do canto, as improvisações, apesar de extremamente bem construída, não rompiam com o formalismo técnico. Uma música surpreendentemente fria... Contudo, esse texto me instigou a reouvir o trabalho e perceber essas nuances que ao vivo são fortíssimas sempre.
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