segunda-feira, 3 de junho de 2013

Dave Holland & Pepe Habichuela - por Dom Angelo



Posso dizer que algumas semanas atrás tive um dos grandes prazeres musicais de minha vida até hoje. Assistir o concerto do baixista Dave Holland em parceria com o violonista Pepe Habichuela.
Em termos de estrutura, tudo impecável. A organização da Casa da Música, a educação do público, o controle técnico do som (nem um triz de microfonia), a qualidade do som em termos de equalização, por fim a qualidade dos instrumentos e dos instrumentistas.

Holland, um imponente e lúcido lorde inglês com mais de cinquenta anos de carreira é considerado um dos principais jazzístas em atividade, tendo em seu currículo trabalhos com Miles Davis (na lendária época do Bitches Brew), Thelonious Monk, Chick Corea, Kenny Wheeler, Stan Getz, Bill Frisell, dentre outros grandes. Mestre do som e do ritmo, de timbre suave e improvisações inspiradas, teve sua carreira marcada por uma longa relação com a gravadora ECM onde participou de álbuns lendários.
Habichuela pertence a uma das grandes dinastias da música flamenca. É da geração de Paco de Lucía e de Camarón de La Isla, porém manteve-se sempre atualizado, acompanhando os novos rumos tomados por esta linguagem musical. Em trabalhos anteriores com o trompetista Don Cherry, já tinha buscado a fusão do jazz com a música flamenca. Mais recente, alguns anos atrás, experimentou a fusão com a música clássica indiana nos seus trabalhos com o músico Nitin Sawhney.

Acompanhados de Josemi Carmona no segundo violão e dos percussionistas Juan Carmona e Bandolero, o concerto de Holland & Habichuela foi uma verdadeira aula de maturidade musical. Bom gosto de fraseados, instrospecção e ao mesmo tempo comunicação musical entre os integrantes, controle técnico e acima de tudo, bom gosto artístico.
Viu-se o Holland descobridor e pesquisador, pois a música era exclusivamente flamenca. Apesar de ficar claro em suas improvisações que é de base jazzística o seu idiomatismo musical. Viu-se o Pepe como a personificação do espírito flamenco. Ao mesmo tempo que era extremamente técnico e veloz, era doce e sentimental, fazendo-nos lembrar dos verdadeiros propósitos da arte de fazer música. Viu-se o Josemi Carmona com um toque singular de violão, enquadrado na escola do Nuevo Flamenco e os percussionistas Juan e Bandolero delicadamente confirmando o dito popular que na música: menos é mais.

Como o Holland dispensa apresentações, segue abaixo um vídeo do Pepe Habichuela pra quem quiser conhecer melhor o mestre:
http://www.youtube.com/watch?v=fl9YTIvZa1s

Um comentário:

  1. Devo confessar que quando ouvi o disco Hands pela primeira vez, fiquei com a impressão um tanto quanto negativa. Pareceu-me um pastiche de um flamenco-jazz meio estéril. As músicas não saiam do canto, as improvisações, apesar de extremamente bem construída, não rompiam com o formalismo técnico. Uma música surpreendentemente fria... Contudo, esse texto me instigou a reouvir o trabalho e perceber essas nuances que ao vivo são fortíssimas sempre.

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