quinta-feira, 16 de julho de 2015

No Passo de Caymmi - Por Giba Carvalho




O Grupo Casuarina está no mercado musical brasileiro há 13 anos e, após o lançamento comemorativo do “CD/DVD – 10 anos de Lapa”, os garotos cariocas emplacaram um trabalho de releituras da excelente obra de Dorival Caymmi. Só o fato de tal escolha já é de grande mérito, afinal, não é qualquer amontoado de “Zé Manés” que tem capacidade de pesquisar e desenvolver novos arranjos para tão grandiosa e profunda obra. O mar de Dorival Caymmi não é mar para marinheiros de primeira viagem, principalmente, porque possui gravações peculiares e imortalizadas pelo próprio compositor baiano.

O álbum é um compilado de canções lançadas entre 1939 e 1994, perfazendo um total de 16 faixas (muito embora possua 17 no disco) e uma vinheta levada apenas com dedos estalados e vocalizações, que é o que ocorre no samba “Maricotinha”. O que me deixa feliz com relação a grupos como o Casuarina é a evolução a cada novo lançamento. É perceptível o esforço dos rapazes para melhorar desde a qualidade vocal, aos belos arranjos desenvolvidos por João Fernando (Bandolim) e Daniel Montes (Violão 7 cordas).

No passo de Caymmi começa com uma versão vocal da tradicional Suíte dos Pescadores, onde fica claro o supracitado. Os rapazes trabalharam bem as vozes, mas, capricharam ainda mais ao harmonizá-las. Você já foi a Bahia? chega trazendo um molejo peculiar aos ritmos baianos mesclado com a ginga do samba carioca. Peguei um ita no norte, demonstra que o minimalismo do arranjo caiu como uma luva ao tom jocoso com o qual João Cavalcanti a interpreta (uma das minhas preferidas). Saudade da Bahia é um espetáculo à parte! Daniel Montes dá uma aula no arranjo desta canção e comove os ouvintes com seu Violão de 7 cordas. Inicia calma e depois o ritmo similar a uma marola toma conta do pedaço. Dora, inegavelmente, é uma das canções mais bonitas da carreira de Dorival Caymmi. Sua gravação original é belíssima e única e, por mais que o executado pelos garotos cariocas seja de muito valor, passa longe da gravação original. É doce morrer no mar possui os mesmos problemas da antecessora. A intensidade de Caymmi sobra no original e a ausência dela é completamente perceptível no trabalho do Casuarina. O bem do mar, que é um clássico supremo brasileiro, surge para por equilíbrio ao trabalho. Arranjo e voz, desta feita a de Gabriel Cavalcante, caminham lado a lado de modo especial. Sem sombra de dúvidas um dos destaques do disco.



O grupo Casuarina tem um trabalho próprio que, praticamente, foi todo concebido nas noites boêmias e de agitação na Lapa. Conforme dito pelos próprios integrantes, diferentemente do que é apresentado neste trabalho, eles costumam apresentar-se com uma formação maior e “da bagaceira”. Em duas canções do disco eles provaram do próprio veneno. Lá vem a baiana e O que é que a baiana tem? parecem ter sido vestidas unicamente com roupagem das músicas do repertório usual dos rapazes. Execuções corretas e de clima “festinha da night”, mas perdendo muito do charme original. Na sequência, encontramos a divertidíssima Requebre que eu dou um doce. A mesma inicia em ritmo cadenciado e explode num samba de roda de primeira. Percorrendo um caminho contrário a que a antecede, João Valentão entra em jogo partindo para cima e caindo num extraordinário clima melodioso. Para coroar tal arranjo, somos presenteados com um solo belíssimo de João Fernando e seu bandolim, ladeado pela execução pontual do 7 Cordas de Daniel. Uma riqueza! Marina e Só loucosurgem para causar imenso diferencial. A primeira é um clássico da música brasileira e a segunda é de uma beleza cativante. As versões do Casuarina superam até mesmo as gravações originais, principalmente, no esmero com que os arranjos foram concebidos. Estes dois sambas-canção também são pontos altos do trabalho. “A vizinha do lado” possui uma versão bastante animada, no entanto, penso que o grupo poderia ter ousado um pouco mais em sua execução. A conhecidíssima “Maracangalha” aparece no final apenas para dar o tom de despedida.


Ainda que com certa oscilação em alguns pontos, considero “No passo de Caymmi” um dos bons trabalhos feitos ultimamente no Brasil. E como é bom percebermos o esforço do desenvolvimento de um grupo novo, com músicos que sabem executar bem seus instrumentos e utilizar bem suas vozes. Fica a dica!

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