domingo, 28 de janeiro de 2018

Cavaleiro da Lua (Lunático / Encarnações) - por André Maranhão

Cavaleiro da Lua em um Pop-Magritte.

A primeira coisa que você deve saber para se situar em o Cavaleiro Da Lua 4 e 5 é: desconsidere a numeração das edições! Isso, porque, ao serem publicadas pela Panini em meados de 2017, as duas revistas saíram com as numerações 4 e 5 no Brasil, quando, na realidade, integram uma nova saga iniciada em 2016 e que segue, até o momento, nos Estados Unidos.
Esclarecida a confusão, é bom registrar outra coisa fundamental: não é preciso ter conhecimento prévio sobre o Cavaleiro da Lua para ler ambas as edições publicadas aqui no Brasil. Isso porque, os dois volumes de O Cavaleiro da Lua fazem parte de um reboot feito pela Marvel em 2015, o All-New, All-Different Marvel –, uma resposta a outro reboot feito pela concorrente DC poucos anos antes. O que isso significou? Bem, que uma parte dos personagens icônicos dessas editoras foram “zerados” e deram início a novas sagas, inclusive com enredos diferentes das narrativas mais clássicas e já consolidadas pela mídia.
Sobre as edições: Ambas foram lançadas por um preço acessível (menos de R$ 20), mas que, infelizmente, até o momento estão esgotadas. Oxalá, as edições sejam relançadas e que venham em um formato de capa dura. O volume 4, do Brasil, compreende Moon Knight 1-5, enquanto o volume 5 traz Moon Knight 6 a 9 e Moon Knight 2, de 1980. Atenção aqui! A reedição de Moon Knight 2, de 1980, também pode ser encontrada na série Paladinos Marvel (também publicada pela própria Panini). É verdade que, por um lado, houve redundância ao se trazer parte de uma revista já publicada pela própria editora Panini para as bancas, livrarias e sites. Por outro lado, a inserção do volume 2, de 1980, tem um propósito compreensível, uma vez que busca contribuir para o melhor entendimento sobre o que está a ocorrer com o Cavaleiro da Lua nas histórias, além de tornar a edição mais rica e variada, sobretudo nos quesitos de narrativa e de ilustração.
Sobre o Roteiro: O Cavaleiro da Lua caiu nas mãos de Jeff Lemire, já conhecido por outras realizações, dentre elas o Arqueiro Verde (2013-2014) e Essex County. Na Marvel, Lemire aproveitou que o Cavaleiro da Lua é um personagem completamente maluco para inserir o leitor em um mundo conflitivo e labiríntico, seja nas viagens surreais dos personagens, seja no ponto de partida da trama. Vide a situação kafkiana, vivida por Marc Spector, que de repente se vê dentro de um hospício sem saber como foi parar nele e por qual motivo (além de ser considerado louco) foi bater lá.
Sob o roteiro de Lemire, não espere uma trama mais clichê sobre o que pode ser uma HQ de super-herói, haja vista o tom da narrativa se apresentar muito mais pautado pela subjetividade e transtornos de personalidade, do que pelo viés da ação, da pancadaria, das explosões e companhia limitada. Com um arco repleto de complexidades e incertezas, o leitor passará a duvidar se o aquilo que o personagem vivencia é algo plausível ou apenas parte de sua loucura – um ponto onde se tem grande chance de mergulhos em fluxos intrigantes, à medida que surgem diferentes situações e cenários.
Sobre as ilustrações: Acredito ser o ponto mais alto das edições. Um grande trunfo foi trazer Greg Smallwood em um trabalho sensacional, ao explorar o negative space, ou seja, as partes mais básicas da folha de papel, redimensionando as bandas dos quadrinhos e abrindo mão de limites mais convencionais das cores e dos traços. Vejamos um curto exemplo disso em O Cavaleiro da Lua:
O Negative Space, por Greg Smallwood.
Capa de Moon Knight 1, por Greg Smallwood.

Para coroar ainda mais a qualidade das edições, ao longo dos volumes, um time de mais desenhistas não menos competentes começa a entrar: Wilfredo Torres, Francesco Francavilla e James Stokoe imprimem uma base mais ainda mais plástica, tanto para alternar a parte gráfica das páginas, quanto para sinalizar melhor para o leitor as viradas entre as diferentes cenas e personalidades apresentadas.
Ora diante do ex-mercenário Marc Spector, ora ante o milionário hollywoodiano Steven Grant, o taxista Jake Lockley, o piloto intergaláctico, além do deus egípcio Khonshu, nos deparamos com a pergunta derradeira: Qual entre eles seria o verdadeiro Cavaleiro da Lua? Qual seria o real, ou mais: dentre tantas fendas e facetas, haveria algum real para nós?

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