sábado, 26 de outubro de 2013

Black Sabbath: Tradição e Reverência - Por Fernando Lucchesi






Sempre que me lembro de algo relacionado com Heavy Metal, a primeira cena que me vem à cabeça é um diálogo que tive com um primo mais velho, fã do gênero. Tinha por volta de 7 anos quando comecei a prestar atenção nos seus discos de vinil, a grande maioria de bandas de metal com capas e mais capas de fotos de demônios e de cenas sombrias e assustadoras. Virei-me para ele e perguntei: “Como tu pode gostar dessa doideira toda?”. Ele pensou um pouco e me respondeu: “Daqui a alguns anos você é quem estará gostando e você saberá o porquê”. Fiquei com aquilo na cabeça achando que meu primo era mais doido do que imaginava.

Meu primo estava certo em parte. Não sou o maior entusiasta, mas sempre tive admiração pelas bandas responsáveis pelos alicerces do estilo. Das três bandas consideradas as mais influentes (junto com Led Zeppelin e Deep Purple), o Black Sabbath foi a última que capturou minha atenção. Hoje posso falar que, sem dúvida, ela é a que mais influenciou e moldou o Metal como o conhecemos hoje.
          
Exatamente no dia 13/10/2013 tive a oportunidade de confirmar a razão da veneração de muitos (inclusive a minha) pelo Sabbath. A apoteose, normalmente lembrada pelo desfile de escolas de samba, estava tomada por um mar de camisetas pretas. Gente de várias idades, cidades e sotaques diferentes. Todas ali para observar e reverenciar aqueles senhores, mas que quando jovens ousaram e criaram um som novo, sombrio e por vezes macabro. Em sua primeira passagem pelo Brasil com a formação 75% original (a única ausência foi o baterista Bill Ward) a banda despejou clássicos e músicas do seu mais recente disco “13” (um disco que possui muitos elementos dos primeiros discos da banda).

A banda abriu o show com a clássica “War Pigs” do álbum “Paranoid”. A música não podia ser mais atual, uma vez que os “senhores da guerra” continuam enviando jovens para um verdadeiro abatedouro chamado de “guerra” sempre com a desculpa da preservação da paz. Em seguida, Ozzy e companhia convidam os espectadores a imergir no seu som característico com a sinistra e pesada “Into the void”. Tentando entremear os clássicos do início da banda com músicas do mais recente disco, a banda provocou reações adversas no público. Os clássicos como “Snowblind” e a tríade do primeiro disco (“Black Sabbath”, “N.I.B”. e “Behind the wall of sleep”) causaram empolgação e reverência. Entre elas, uma deslocada “Age of reason” do disco novo causou mais letargia do que excitação e o público apenas “observou” a música. Analisando a reação do público às músicas novas, a única que a platéia contou em uníssono foi o primeiro single do álbum “13”, “Gos is dead”. A já citada “Age of reason” e “End of the beginning” (uma variação em cima da música “Black Sabbath”, do disco homônimo) serviram apenas para serem apresentadas ao público.

Seguiram-se então mais três músicas de um mesmo disco (“Fairies wear boots”, “Rat salad” e “Iron man”) do clássico “Paranoid” (o maior sucesso comercial da banda). O ato final do show reservaria mais dois clássicos do Sabbath: “Children of the grave” e “Paranoid”. Essa última, talvez numa sutil ironia, inicia-se com o riff de outro grande sucesso do Sabbath, “Sabbath bloody Sabbath”, do álbum homônimo. A ironia deve-se ao fato da referida música não ser executada em sua totalidade, pois é evidente que Ozzy não tem mais condições de, sequer, cantar razoavelmente a música.       

Espero, sinceramente, que tenhamos mais uma oportunidade de vermos esses senhores aqui no Brasil, pois cada apresentação deles é uma verdadeira aula de Rock n´roll/ Heavy Metal.

Sobre os músicos:

Ozzy: Compensou perfeitamente a notória desafinação com um carisma/simpatia invejável. Concordo com muitos amigos, que entendem muito mais de Heavy metal do que eu, que Ronnie James Dio era melhor vocalista que Ozzy (pelo menos no aspecto técnico). Mas, para mim, o som do Sabbath está intrinsecamente ligado à voz de Ozzy.

Tony Iommi: A despeito do tratamento que vem fazendo contra um linfoma, estava seguro e aparentava tranquilidade enquanto desfilava sua inesgotável quantidade de riffs geniais. Definitivamente o maior responsável pela sonoridade do heavy metal.

Gezzer Buttler: Excelente na execução do seu instrumento. Teve seu grande momento, como não poderia deixar de ser, na execução da abertura de “N.I.B” com seu solo de baixo.

Tommy Clufetos: “Soltou a mão” sem pena. Substituiu com sobras Bill Ward.


Observações sobre o show:

  • Como pude assistir ao show atrás da área reservadas aos deficientes, pude constatar o respeito àqueles que realmente necessitam daquela área. A utilização do banheiro reservado a eles não era permitida nem mesmo à produção do show.
  • Apesar do preço extorsivo por uma lata de cerveja (R$ 8,00) a infra-estrutura estava muito boa.
  • O som estava literalmente “no talo”. Altíssimo e de excelente qualidade. Soube que em SP houve problemas para quem estava mais distante do palco, pois o local do show era um campo aberto.
  • Continuo sem entender muito bem porque alguns fãs continuam achando que o Black Sabbath faz uma ode ao capeta (a despeito de algumas poucas letras falarem abertamente em Lúcifer). Estava eu lá tranqüilo na minha, quando se aproximou um elemento tocando “air guitar” e nos intervalos do seu “show” particular, ele gritava “Viva Satanás”! Atribuí isso a três fatores: o nível etílico, o desconhecimento da língua inglesa ou a algum problema de audição. Ozzy passou a noite INTEIRA falando “God Bless you” (Deus os abençoe). Portanto, gritar “Viva Satanás” parece tão coerente quanto gritar “Viva Xuxa” durante o show.

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