terça-feira, 22 de abril de 2014

Guns n´ Roses - Saudosismo e Perpetuação por Giba Carvalho.





Certamente, você já ouviu a frase - "Quando você menos espera, algo acontece." Pois é, terça-feira, 15 de abril de 2014. Adentro um Chevrolet Hall por volta de 21:30, já repleto de fãs do Guns n´ Roses tomados de expectativa para assistir o "arremedo de banda" montado por Axl Rose. Desta vez, com a surpresa da presença diferencial de Duff McKagan, baixista da formação original. Confesso que nem a presença de Duff fez com que minha opinião mudasse. E vou mais além. Só fui ao show, porque consegui o ingresso a preço bem melhor do que foi cobrado nas bilheterias da casa, fruto de uma desistência.
     
O show teve início às 23:50, com o atraso bastante peculiar desde os tempos áureos da banda e cultivado por Axl Rose com uma perfeição admirável. O problema nisso tudo é a questão paciência. Até o lançamento dos álbuns Use Your Illusion 1 e 2 (1992), tenho certeza que esperaria até dias para assistir à banda. Hoje, tenho 34 anos e carregava um mar de desconfianças do que seria apresentado ao público. Bem, a apresentação começou gélida com Chinese Democracy, canção que nomeia o último disco da banda (2008) e que ficou conhecido como o disco "eternamente adiado" (foi lançado 12 anos após começar a ser produzido). Daí pra frente as coisas mudaram vertiginosamente. Ao soar dos acordes iniciais de Welcome to the Jungle, eu vi o ambiente pegar fogo e quase vir abaixo. Comecei a observar a reação das pessoas ao meu lado - vi coroas chorando, meninas de 13/14 anos aos berros e cantando todas as letras, vi comentários de um garoto de, no máximo, 16 anos  do tipo - "esse cara é um frontman de verdade!" (E eu pensando - "Meu velho, se você tivesse visto esse cara há 25 anos atrás...") e também vi um rapaz empolgadíssimo querendo ver o show e sua namorada querendo bater o recorde mundial de duração de beijo (sem falar que o mesmo teve o par de orelhas lavadas pela língua da mocinha ao menos umas três vezes). Prova que o rock n´roll é inigualável para atiçar sentimentos impuros e vontades várias vezes reprimidas! Graças a Deus ou ao Demo? Amém!

Daí pra frente um mar de clássicos fizeram uma noite inesperada tornar-se histórica. (Volto a falar sobre mar de clássicos mais abaixo). Axl Rose numa performance totalmente diferenciada do que vimos nas outras vezes em que esteve no Brasil. Honestamente, torço para que as apresentações dos outros estados tenham sido do mesmo nível. Ouvi de um amigo bairrista - "Ah, certamente foi o clima de Recife que fez com que ele cantasse o que cantou." Sorri e respondi - "Certamente! Ele passou no Caldinho da Codorna do Amigo Rogério, tomou um litro de Pau do Índio, 3 caldinhos de feijoada, 5 garrafas de Schincariol quente (pra lavar) sentiu o cheiro de bosta recifense do Canal da Agamenon Magalhães, ficou puto com o assalto da mulher do guitarrista na Avenida Boa Viagem e cantou como nunca em Recife." Eu adoro esse bairrismo daqui, dá pra notar? Pois bem, esqueçam este diálogo de show e entendam que as pessoas envelhecem. Axl Rose jamais será o mesmo. Os anos passaram, milhares de litros de bebidas e centenas de quilos de drogas também foram ingeridos (ele nunca foi algo perto de careta). Ao menos desta vez, ele fez de maneira bastante aceitável. Claro que com pausas excessivas em número e não em duração no decorrer  da apresentação. Dividiu solos para os 3 guitarristas (que juntos não chegam perto de Slash), para Deeze Reed (tecladista que entrou na banda em 91, nas gravações do UYI 1 e 2), Jam Session de todos os músicos e alguns raros diálogos.

Já na metade do show, eu lembrava da época que conheci o Guns n´Roses e o que isto representava. Afirmo sem titubear que tirando os Beatles (7 anos do primeiro ao derradeiro álbum) e o Led Zeppelin (6 anos do primeiro álbum até o Physical Graffiti), nenhuma outra banda teve um desenvolvimento tão avassalador num espaço tão curto de tempo. Do Appetite for Destruction (1987), passando pelo GNR´s - LIES (1988) e na chegada do Use Your Illusion 1 e 2 (1991), ninguém chegou perto do patamar alcançado pelos californianos. Foram cinco anos de absoluto domínio de venda de discos, shows e platéia ao redor de todo mundo. Embora mereça um texto à parte, Appetite for Destruction foi o grande causador disto. O rock mundial vivia um momento muito nebuloso com o pós-punk, com as novidades dos sintetizadores oitentistas e com as pavorosas bandas de Glam-Metal. Mesmo admirando e respeitando bem mais as bandas inglesas e a banda australiana, reconheço que o disco de estréia do Guns n´ Roses é o melhor disco de hard-rock da história. Como uma banda consegue fazer com que 11 músicas (de 12 do disco) virassem clássicos? Esta é uma pergunta sem resposta até hoje, quase trinta anos após o lançamento. Muitas bandas, durante anos e anos de carreira, não conseguem imortalizar este número de canções. E estou falando apenas do primeiro disco dos caras.

É justamente pelos comentários acima, que afirmo ter a certeza de que com uma banda de acompanhamento de bom nível de execução e Axl Rose num dia "inspirado", o show vai embora numa boa e o delírio é geral. Delírio! É exatamente esta a palavra. O mundo da música está carente de postura "rocker" e, arrisco dizer, de bandas que surjam de modo avassalador como o Guns n´ Roses surgiu. E, por estas e por outras, ainda vejo que Axl Rose é necessário no mundo da música. Parafraseando Miguel Sokol - "Hoje achamos que a postura de bad-boy é a do retardado canadense que mastiga de boca aberta e pixa muro no Rio de Janeiro." Aí enxergamos o que o envelhecido Axl Rose ainda apronta. Todos estes atrasos costumeiros nos shows? (E foda-se o resto!) O episódio que ocorreu ano passado na edição de um dos mais cultuados festivais ingleses (Reading Festival), onde Guns n´Roses teve o som cortado com pouco mais de uma hora de show, porque nenhum membro da equipe quis acordar Axl Rose? (Detalhe - eles são proibidos de acordá-lo.) Todos foram sumariamente demitidos por ele e recontratados no outro dia. E, para completar, em meados de 1986, nas gravações de Appetite for Destruction a ex-namorada do baterista Steven Adler chegou no estúdio em que a banda gravava revoltada por uma traição. E, como forma de vingança, pediu que Axl Rose fizesse o que quisesse com ela. Ele não só fez, como ligou os microfones do estúdio e gravou os gemidos da santa-menina. Posteriormente usou os mesmos em Rocket Queen, música que encerra este clássico. E eu os questiono: "Você ainda acha Justin Bieber um mal elemento?"

Fiquei feliz de ter visto Axl Rose mesmo com mais de vinte anos de atraso. E o mais impressionante nisso tudo, é que não foi apenas um encontro saudosista. Foi um encontro de perpetuação de um dos mais grandiosos períodos do rock n´roll e da banda responsável pela minha devoção pelo estilo mais pesado. Ah, você não concorda com o termo - "perpetuação"? Diz isso pros garotos e pras garotas de 12 anos que estavam lá, mesmo influenciados pelos pais e que não estão ouvindo os "meninos mimados de hoje em dia" e todo este lixo comercial.


Dedicado a - Carlos Eduardo Montenegro, Rafael Lucchesi, Rógeres Bessoni e para que o pós-show do rapaz que estava no concurso de beijo e lambida nas orelhas tenha sido muito mais rock n´roll.

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