terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Quando Há Arte (Segundo Nelson Goodman)? - Por André Maranhão



Há muito tempo que uma parte da Filosofia se esforça em definir as coisas do Mundo a partir da Lógica. Se um pensador como Aristóteles (384-322 a.C) já se ocupara em explicar logicamente “o que é o Homem”; outros nomes como Avicena (980-1037) e Tomás de Aquino (1225-1274) foram capazes de escrever alguns tratados para provar que toda substância do Universo provém de uma causa: Deus; por sua vez, o único ser perfeito que não necessita de uma causa para existir. De lá pra cá, a Lógica se estabeleceu como uma forte tradição filosófica capaz de abordar diversos temas, e, portanto, era mais do que esperado que a Arte se tornasse um objeto de debate entre os pensadores lógicos.

O pensamento lógico se fortaleceu amplamente numa tradição anglo-americana da Filosofia (sobretudo no Reino Unido e Estados Unidos) conhecida como Positivismo Lógico ou Filosofia Analítica. Já no século XX, um dos autores mais preocupados em problematizar a Arte a partir de algumas bases lógicas foi Nelson Goodman (1906-1998), cujos estudos abordaram várias linguagens da arte e símbolos diferentes – letras, palavras, textos, imagens, diagramas, mapas, modelos e muito mais (GOODMAN, 2006, p. 9). Obviamente, Goodman reconhecia que nem tudo que é simbolizado está fora do símbolo. Porém, não apenas as obras que representam a natureza ou que remetam a algo pitoresco e figurativo são simbólicas. Uma pintura abstrata, por exemplo, pode expressar e simbolizar sentimentos, emoções ou ideias esteticamente válidos. Ora, tal afirmação levou Goodman a perceber que a própria tentativa de separar o que interno do que é externo em uma obra de arte é algo notoriamente confuso; tão confuso como tentar separar os ingredientes de um bolo depois que este bolo já está pronto!

Mas talvez, uma dos problemas mais polêmicos (e não menos interessantes) levantados por Goodman diz respeito à definição de Arte, afinal, o que é Arte? Seria a simples definição daquilo que o artista diz ter criado; do que alguns doutos mais elitistas julgam ser uma “boa arte”; ou o fato de algum objeto ser exposto numa galeria? De acordo com Goodman, nenhuma dessas justificativas é suficientemente forte para definir o que é Arte porque, logicamente, qualquer definição de arte é incompleta. Neste sentido, a pergunta mais proveitosa a ser feita não é “o que é arte?”, mas “quando há arte?” – em outros termos – quando um objeto é ou está sob a condição de obra de arte?

Para estimular ainda mais algumas reflexões sobre o tema, gostaria de encerrar com alguns fragmentos e exemplos escritos de Goodman:

“A pedra normalmente não é uma obra de arte quando está no caminho, mas pode sê-lo quando é exibida num museu de arte (...). Por outro lado, uma pintura de Rembrandt pode deixar de funcionar como uma obra de arte quando é usada para substituir uma janela partida ou como uma cobertura (...). As coisas funcionam como obras de arte apenas quando o seu funcionamento simbólico tem certas características (...). A pintura de Rembrandt permanece uma obra de arte, tal como permanece uma pintura, quando funciona apenas como cobertura; e a pedra do caminho pode não se tornar estritamente arte por funcionar como arte. Analogamente, uma cadeira continua a ser uma cadeira ainda que ninguém se sente nela, e um caixote continua a ser um caixote ainda que nunca seja usado senão para nos sentarmos em cima dele. Dizer o que a arte faz não é dizer o que a arte é, mas considero que o primeiro aspecto é que tem importância primária e peculiar (...) passei a dar atenção ao que a arte faz, em detrimento da questão de saber o que é arte (...). Um objeto pode simbolizar coisas diferentes em momentos diferentes, e nada noutros momentos (...). Em vez de a arte ser perene e a vida curta, talvez ambas sejam transitórias” (2007, p. 130-133).

REFERÊNCIAS

GOODMAN, N (2006). Linguagens da arte: uma abordagem a uma teoria dos símbolos. Lisboa: Gradiva.

_____ (2007). Quando há arte? In D’OREY, C (org). O que é arte?: a perspectiva analítica. Lisboa: Dinalivro, pp. 119-133.

8 comentários:

  1. André,

    Texto muito bom! Sucinto, mas com vários apontamentos feitos e caminhos a trilhar na história do pensamento. Obrigado pelo artigo e pelas referências bibliográficas.

    Ao ler sua postagem, lembrei-me daquele saudável embate de ideias que tivemos há um tempo sobre essa questão do conceito de Arte. Do meu ponto de vista, por mais que entenda essa perspectiva sociológica da Arte, e que certamente só se tornou possível por causa do Modernismo e de sua ampliação de horizontes, tenho alguma dificuldade em aceitá-la (na ausência de um verbo mais adequado, escolhi esse) plenamente, pois me parece que, de certa forma, ela negligencia um fator crucial para a produção artística que é seu caráter artesanal, ou seja, o trabalho inerente à manipulação simbólica da linguagem expressiva por parte do artista e o longo processo que este leva para dominar com maestria esse mesmo material a ponto de criar novos mundos estéticos que o expressem no âmago e o conectem espiritualmente aos demais. Reside aí, no meu limitado ponto de vista, o grande propósito da Arte. Das peças de Sófocles, passando pelas telas de Bruegel, e descambando no Serialismo Integral de Pierre Boulez, encontramos fortemente essa perspectiva. Portanto, por em pé de igualdade uma pedra exposta num museu (ou o ready-made, se preferir) a uma pintura de Rembrant, afirmando que a Arte acontece apenas por que certas nuances simbólicas estão disponíveis no tempo/espaço (o “quando” a Arte acontece), tal como dispositivos que são acionados em momentos e lugares específicos, parece-me um tanto quanto injusto com a tradição artística ao longo da história da humanidade. É negar o valor sócio-cultural inerente e indissociável à obra de arte que, por sinal, só é possível justamente por ser criação exclusivamente humana.

    Gosto muito do que diz o Ferreira Gullar em seu livro “Argumentação contra a Morte da Arte”:

    “Pois bem, se é indiscutível que toda forma (ou conjunto de formas) tem expressão, não é menos certo que essa possibilidade indeterminada de expressões conduz à gratuidade e à anulação do trabalho artístico. Claro, se qualquer forma traçada sobre uma tela expressa alguma coisa, não importa mais nem o talento nem o conhecimento técnico: todo mundo é artista e ninguém o é. Se toda forma é expressão e se a arte, agora livre de qualquer definição ou princípio, não é mais que forma expressiva, então não se pode mais distinguir entre uma obra de arte e outra qualquer coisa, outro qualquer objeto.” (GULLAR, 1998, pág. 58)

    Por todas essas razões, creio que, por mais lacônico que seja definir a Arte, focar no seu status ou numa atmosfera simbólica que a materializa enquanto tal é fugir do verdadeiro problema, abraçar o caráter descartável da produção artística e se esquivar de análises estéticas mais a fundo, vulgarizando a obra de arte. Imbuída de um sentimento antielitista, a Sociologia (e outras Ciências Humanas) contemporânea parece aceitar o vale-tudo no mundo da Arte sem se importar muito com esvaziamento humano da mesma.

    No mais, um abraço e obrigado pelo convite à reflexão.

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  2. Grande Bruno, obrigado pelos comentários. É sempre muito bom dialogar sobre os problemas da arte contigo!

    Sobre alguns pontos que você lançou, eu acredito que Nelson Goodman (assim como outros filósofos, sociólogos e historiadores da Arte) não coloca num “mesmo saco” quaisquer expressões consideradas artísticas. Embora não tenha me delongado muito no texto, posso afirmar que várias análises de Goodman se voltam predominantemente para exemplos grandiosos dentro da Estética; como Rembrandt, Bach, Goya, Dürer, e que não podem se comparar a uma pedra, um mictório ou um cano em um museu, porque são expressões simbolicamente distintas entre sim. Imagino que para Goodman, mesmo a consagração dos grandes artistas e de suas obras monumentais ainda não é suficiente a ponto de alguém fechar por completo ou obter a definição derradeira de “o que é arte?”. Na realidade, a linha que define quais objetos são “arte” e outros não; além de tênue é problemática, porque um mesmo objeto pode funcionar diferentemente conforme situações diferentes. Um dos méritos que vejo em Goodman está em argumentar sob o ponto de vista da Lógica, que o conceito de arte não é definitivamente um exemplo de grandes concórdias! Eu reconheço o mérito de pessoas preocupadas e ocupadas em pensar a arte e ou também defini-la. Mas inspirado por Goodman, também creio que a questão “quando há arte?” parece ser potencialmente mais fértil do que “o que é arte?” – ainda que esta questão não invalide aquela.

    Concordo contigo que é importante não cairmos num “vale tudo estético”; e aqui, cito a velha máxima de Sartre: “Paul Valéry é um burguês, mas nem todo burguês é Valéry”. É preciso analisar e também levar em conta o que há de político na arte, tanto nas formas quanto nos seus conteúdos. Todavia, como diz o próprio Goodman, “A verdade de uma metáfora não garante, de fato, a sua eficácia”. Creio que alguns campos da História, Sociologia e Antropologia nos oferecem trabalhos preciosos por serem capazes de interpretar (em vez de apenas julgar e desprezar) como certos objetos nos mundos da arte são reconhecidos pelas pessoas, pelas instituições e, até mesmo, reforçados por outros objetos. É claro que tudo isso traz consigo a sua parcela triste, pois várias dessas práticas de legitimação, no dia-a-dia, tolhem diversas expressões simbólicas e trabalhos artísticos enriquecedores, que são preteridos e não dispostos para um público mais amplo porque não se adequam aos interesses de empresários, marqueteiros, governantes; além das emissoras de televisão aberta, prateleiras de DVD’s das grandes lojas e do financiamento público da arte.

    Para finalizar, vou contar uma pequena anedota: Um amigo e eu conversávamos, quando ele disse – Oswald de Andrade escreveu “Um dia, a massa ainda vai provar do biscoito fino que fabrico”. Então, meu amigo continuou: Bom, quando eu vejo um cara passando com um carrão e ouvindo bem alto um forró estilizado, acho cada vez mais difícil provarem desse biscoito...
    Um abraço!

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  3. André,

    Fabuloso! Concordo contigo quanto à interpretação e ao olhar analítico no tocante à Arte. Apenas julgar é insuficiente, diria até mesmo desnecessário, contudo historicizar o objeto é imprescindível. Voltando à questão principal, gostaria somente de lembrar que focar no tempo-espaço do "quando" a arte acontece é necessariamente pressupor que antes desse momento houve um conceito de Arte, não? Do contrário, como poderia se identificar a especificidade da ocasião que consagra um objeto em obra de arte?

    No que diz respeito a sua anedota, o que me faz rir nela é certa tendência de a Academia, diante dessa mesma encruzilhada, culpabilizar o artista, taxá-lo de elitista, acusá-lo de fazer uma Arte para as minorias, para as elites, excluindo do processo cultural a grande massa, tornando, assim, a Arte um mero artigo de luxo de uma burguesia (ou classe média) enfadada. Ao invés de investigar as estruturas sociais que multiplicam os carroceiros consumidores do "forró fuleragem" por meio de uma análise crítica e livre de viseiras ideológicas, prefere agredir o que um dia se conheceu como Arte como um simples devaneio aristocrático, dessubstanciando-a no final das contas. Mas, acho que isso é pauta para outro texto e outros debates.

    Um abraço!

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  4. Sempre que falamos de Filosofia nossa referência primeira é a Grécia. Faz parte de nossa tradição, infelizmente, pois quase nada sabemos sobre Confúcio ou Lao Tsé, por exemplo, para ficar nos mais famosos filósofos orientais, que escreveram muito antes dos filósofos gregos. Isso para não falarmos dos persas, assírios, cananeus, egípcios, judeus, que comungavam uma região comum.

    Mas vamos ao que interessa! Toda vez que se pergunta o que é a Arte é por que ela está em crise. A Arte, enquanto tal, hoje é posta em
    Antes de mais nada, gostaria de lembrar uma coisa que quase nunca aparece nesse debate, o contexto sócio-cultural que a Arte é produzida. Isso é importante não apenas para termos noção do aparato técnico posto a disposição dos artistas, como também de suas temáticas, e de seu "público alvo". Mas o mais importante dessa abordagem é a possibilidade de discutirmos a "sensibilidade" social de cada época, fato quase sempre desconsiderado pelos que se interessam em discutir a apreensão da Arte no Tempo.

    Devemos a Walter Benjamim, esse marxista atípico, por sua profunda ligação com a Cultura Judaica e sua Metafísica - sobretudo, para quem acredita que foi Aristóteles que inventou a Metafísica - um texto capital para entendermos as modernas vicissitudes da Arte, o clássico "A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Mecânica". A partir desse trabalho seminal, o contexto social e tecnológico da sociedade de massa, torna-se o fenômeno novo pelo qual a obra de Arte passa a ser compreendida, revelando então aspectos absolutamente novos, em sua percepção e sensibilidade social.

    Como cada época tem a sua "sensibilidade" e noção socialmente construída do que é Belo ou Feio, a Arte, que reflete de maneira imediata os movimentos contraditórios desse movimento no interior de cada formação social, de "perene" torna-se "provisória", mitigada por seu ambiente histórico e expectativas sociais, sejam elas conscientes ou não.

    O fato fundamental para avançarmos a compreensão do que entendemos por Arte, hoje, é que vivemos em um tipo de sociedade que não existia historicamente antes, a sociedade de massas, fruto "natural" do desenvolvimento da economia produtora de mercadorias, em que tudo é reduzido a essa condição, sobretudo a Arte, que passa a ser comercializada na ótica do sistema capitalista, onde o que se visa é o lucro.

    Esse fato, dessacraliza a Arte e denota que sociedade vivemos. Há uma passagem elucidativa no Manifesto Comunista de Marx (1848) que sempre deveríamos reler para melhor entendermos a época que vivemos: "A burguesia desempenhou na História um papel eminentemente revolucionário.

    Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia calcou aos pés as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores naturais" ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta.

    Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.

    A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados. A burguesia rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias."

    A Arte não infensa a essa nova "sensibilidade" criada pelo sistema de produção de mercadoria, tornado-se ela própria, mais uma mercadoria...

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  5. Sempre gostei de arte mas nunca havia me aprofundado sobre sua definição ou mesmo o seu conceito, até ter a oportunidade de ler esse texto do André a convite de Bruno. Isso me deixou curioso, também, para ler um livro chamado Isso é arte?, de Will Gompertz, e já no primeiro capítulo eu aprendi algo que parece simples (talvez não) mas que me deixou ainda com mais sede de aprender sobre arte: a origem do Conceitualismo. O pai do Conceitualismo, Marcel Duchamp, ficou conhecido pelo seu mictório com a assinatura R. Mutt. Qual era o propósito dele? A intenção dele era mesmo provocar. “(...) Era da natureza de Duchamp brincar com as palavras, fazer piadas e zombar do pomposo mundo da arte. (...) Ele queria questionar a própria noção do que constituía uma obra de arte tal como decretada por acadêmicos e críticos(...). A seu ver (de Duchamp), o papel de um artista na sociedade era semelhante ao de um filósofo; não importava sequer se ele sabia pintar ou desenhar.”, diz Gompertz. Assim, ele quebrava, também, o significado de que arte vinha somente através dos meios (pintura, escultura) para passar a vir, inicialmente, de uma ideia, de uma simbologia, transformando o prazer estético em algo secundário ou mesmo dispensável.

    Foi aí que minha mente clareou para o simbolismo, para o significado de uma obra. Pense nas fotografias feitas com açúcar Vik Muniz dos meninos da área canavieira na África (não me lembro de que país). Sem um sentido e apenas com simetria e beleza não passa de imagem decorativa. Muitas vezes me perguntavam sobre o sentido de alguns desenhos que eu fazia nas minhas camisetas quando mais novo e eu dizia que não tinha sentido, eram apenas formas de que eu gostava, somente o prazer estético estava em jogo. Mas quando se coloca um conceito e um propósito em algo, ah! Aí sim sente-se algo verdadeiro(mesmo que não seja bom, mesmo que não seja intenso) ou pelo menos entende-se a razão.

    Agora, pense na música Noite na Casa Amarela de Bruno Vitorino, em que ele, através da música, dos instrumentos, simboliza o caos do lugar onde mora no horário de pico no tráfego da cidade, cheia de pessoas sem senso de respeito e sem habilidade para conviver de forma harmônica na coletividade. Muitos dos ouvintes devem ter se perguntado: que porra é essa? Mas depois que ele diz do que se trata, os espectadores se transferem para algum lugar em Recife das 17h às 20h e compreendem a “mágica”. Não tiro aqui o status de arte da citada música, pelo contrário,, mas digo que se fossem apenas notas soltas ao acaso, sem simbolizar algo, aí não seria arte.
    ...

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  6. ...Há de se observar, como lido no livro Isso é arte?, que o próprio movimento impressionista, cujas pinturas são consideradas belíssimas hoje em dia, com suas pinceladas fortes e sem intenção alguma de esconder a tinta, teve seus dias de luta para ser aceito pela Academia, quando esta tinha normas rígidas para apontar se uma obra era arte ou não. Gompertz diz:”(...) Os impressionistas foram o grupo mais radical, rebelde, rompedor de barreiras e memorável em toda a história da arte. Eles suportaram privações pessoais e ridículo profissional na perseguição obstinada de sua visão artística”. Em outro parágrafo ele diz: “O problema para os impressionistas havia começado quando eles violaram as regras da todo-poderosa e enfadonhamente burocrática Academia de Belas-Artes de Paris. A Academia esperava que os artistas fizessem obras baseadas em mitologia, iconografia religiosa ou na Antiguidade clássica num estilo que idealizava o tema.
    (...)
    Arte era uma questão de precisão. Uma paleta de cores terrosas, tonais, devia ser misturada e aplicada à tela com pinceladas precisas que, ao longo de muitas, muitas horas e dias de trabalho, podiam ser aprimoradas até a imperceptibilidade. Por meio de gradações sutis entre luz e sombra, o objetivo era produzir uma pintura que desse a impressão de solidez tridimensional”. O Impressionismo rompeu essas regras. E, trazendo para o Modernismo, o Conceitualismo rompeu com a regra de aperfeiçoamento no manejo dos instrumentos e do meio para, então, dar ênfase e importância para a representação e sentido de uma obra artística. Posso dizer que a arte está em constante mudança, assim como seu conceito e os meios para alcançá-la.

    Quanto ao caráter comercial, a arte era o meio de vida dos grandes artistas de séculos atrás. A intenção deles era encher os salões com suas obras e, também, dos milionários da época. Acontece que nos dias atuais, com o aumento da população e dos meios de comunicação, tornou-se mais evidente a comercialização, principalmente, de música sem qualquer teor artístico, pois é o que se vende para a grande massa da população, enquanto a arte, no seu maior grau de plenitude, tenta encontrar espaço para sair do sufocamento, mas a ganância e a vaidade a empurram para baixo. Ainda assim, aqueles que entendem o teor artístico da música, da pintura e de outras formas de expressão, estendem as mãos para salvá-las e colocá-las em algum espaço visível para si e para outros.

    E antes disso tudo, quando eu ainda havia lido pouco a respeito e mal entendia do assunto, vi que vários objetos comuns ou esculturas, pinturas e coisas tão feias que chegam a ser bizarras são tidas como arte, eu criei a seguinte definição: arte é toda expressão criativa que cause emoção através dos sentidos. Já nem sei se só isso é verdade. Sinto que é muito mais.

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