Na coluna deste mês, os editores do
blog comentam o disco de estreia do cantor pernambucano Johnny Hooker, “Eu Vou Fazer
Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!”
Boa leitura!
- Giba Carvalho:
Johnny
Hooker é uma mistura de Cazuza com Ney Matogrosso da Rua da Moeda. A afirmação
pode parecer irônica, mas, não tem nada de ironia na mesma. Escrachado nos
vocais como o ícone oitentista, performático como gigante Ney e recheando seu
disco com tudo aquilo que é modinha na cena cultural recifense (quiçá
brasileira), o ator-cantor pernambucano vem galgando seu espaço a passos largos
dentro da carente música nacional.
“Eu
Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!” (EVFUMPTA,M!) é um animado
disco de dor de cotovelo daquelas de arrombar! Lágrimas incontidas, berros e
emoções aflitas são os principais fatores encontrados no disco. E o garoto não
compõe mal com seu palavreado usual, cru e urbano.
Musicalmente
falando, ao contrário do que se propaga por aí, o referido álbum não é a
“salvação inovadora do mercado”. Mas, ressalto três pontos bastante
interessantes:
Os
arranjos de metais do álbum são primorosos!
Inegavelmente,
o trabalho de Hooker tem personalidade. Para mim, este é um ponto de grande
valia.
E,
o principal, embora muitas vezes parecendo com Cazuza, o rapaz canta bem. E
isto, num meio que perpetua e idolatra “Otto`s, Trummer`s e Buhr´s” (onde o
bonito é cantar mal), é uma diferença IMENSA!
“EVFUMPTA,M!”
é daqueles álbuns que será bem recepcionado nas festinhas “descoladas” de
Recife, passando pelos “pega-bêbo” onde cornos choram as suas lágrimas e em
vários Mp4 da “tchurminha” da cidade. Se isto vai enquadrar-se no seu conceito
pessoal de música popular, já é outra história. Vou mais além. Conscientemente
ou não, o disco de Hooker é um trabalho lançado no momento exato para fazer
sucesso e passa longe de qualquer postura “careta” e “conservadora”.
Particularmente, não é o que costumo (e gosto) de ouvir, mas ainda assim,
prefiro o escracho a sacarose exacerbada da MPB Cupcake, tão propagada aos
quatro ventos.
Destaco
no álbum: “Volta”, “Alma Sebosa” e “Eu Vou
Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito”.
- André Maranhão:
O
álbum de Johnny Hooker é bom, assim como a sua eleição de melhor cantor de
canção popular, no último Prêmio da Canção Brasileira, é positiva. Há algum
tempo, a música produzida em Pernambuco que propõe uma estética vinculada ao
BregaCult, ou ao Pop, não apresenta em sua linha de frente tantos artistas
afinados e que, ao mesmo tempo, criam trabalhos autorais
bem feitos. Pelo contrário, é possível nos depararmos com performers muito mais cuidadosos com seus elementos gestuais,
figurinos do que com a precisão e segurança dos seus cantos. Diferentemente,
Johnny Hooker consegue se fazer um bom cantor, ao mesmo tempo em que se vale de
maquiagens chamativas e traz consigo um figurino interessante, cujas
influências de Secos e Molhados, David Bowie e do Tropicalismo podem ser
claramente apontadas. Em seu disco, as faixas que mais chamaram a minha atenção
foram “Alma Sebosa”; “Volta”; e “Você Ainda Pensa”. De modo mais amplo, as
canções de Johnny Hooker trazem poucos acordes, melodias claras, bem executadas
pela banda, como também letras coloquiais e bem escritas. Portanto, creio que o
trabalho de Johnny Hooker consegue atrair pelo fato de nos oferecer o que há de
virtude quando a forma do simples se apresenta de maneira bem executada.
- Fernando Lucchesi:
Não
é fácil categorizar “Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!”. O
disco de estreia do pernambucano Johnny Hooker é uma junção de tudo que há de
mais popular na música brasileira. Há brega, pop, um pouco de rock e até mesmo
frevo. A temática das músicas de Hooker gira em torno das relações amorosas e
os sentimentos que delas derivam como tristeza, mágoa, felicidade, superação e,
eventualmente, do perdão quando do fim do relacionamento. O que chama a atenção são os arranjos
“bregas” (coloco entre aspas, pois são mais baseados em gêneros caribenhos do
que no brega feito e produzido no Brasil) e a voz rascante e melodiosa de
Hooker que se encaixa perfeitamente na dramaticidade das letras.
Os
destaques do disco são, além da faixa título, “Volta” (um bolero com roupagem
moderna), “Alma Sebosa” (que segue a mesma linha das duas anteriores), “Chega
de Lágrimas” e “Amor Marginal” (curiosamente as cinco primeiras músicas). O
resto do álbum é interessante, mas as faixas não são tão intensas como as acima
citadas, porém são bastante coerentes com a ideia central do disco. Ótima
estreia de Hooker.
- Bruno Vitorino:
Um disco que mergulha no clichê da dor
de cotovelo e se vale do cansativo lugar-comum da estética brega-cabeça da
classe média recifense que, elevada à categoria de arte, tomou conta da
produção musical desta pequena vila, com letras escrachadas sobre amores mau resolvidos
e estereotipados, só que cantados por um artista jovem, performático e com forte apelo à mídia que sabe, ao menos, como projetar sua voz (o que por si só já é raro no Recife), e
que eu não aguentei ouvir até o final: eis o máximo que consegui escrever com o
pouco lastro que “Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!” me
proporcionou.
Ouça até o fim, se for capaz.