domingo, 13 de dezembro de 2015

Playlist de Editores: Dezembro/2015


No ar mais uma coluna “Playlist de Editores”! Como de praxe, cada editor do Variações para 4 comenta o disco que vem monopolizando sua atenção e seus ouvidos com o intuito de compartilhar com os leitores experiências de escuta.

Boa audição!


- Rógeres Bessoni:



Este mês, voltei a fazer jornadas pelo (para mim e para muitos) bom, grandioso, glorioso e abissal rock progressivo. Estou agora entrando numa obra sugestiva, rica e épica, o disco 666 [The Apocalypse of John 13/18] da banda Aphrodite's Child. O disco, lançado em 1972, é uma viagem através do Apocalipse, alternando musicalizações e declamações de várias passagens dessa obra a um só tempo religiosa, esotérica e literária, que é um dos textos mais enigmáticos e fascinantes que o Ocidente herdou. A banda, só por sua formação, me chamou a atenção quando ouvi falar dela pela primeira vez. Nela estavam nada mais, nada menso que o greco-egípcio Demis Roussos, antes do seu sucesso como cantor romântico nos anos 70, e Vangelis, antes das suas experiências com música eletrônica que o consagrariam como um dos nomes mais relevantes da música instrumental dos últimos 30 anos do séc. XX. Junto a eles, o baterista Loukas Sideras segura as levadas com precisão e habilidade, fazendo um “tapete” inventivo e seguro. Neste disco, juntou-se a eles ainda o guitarrista Silver Koulouris. Fiquei curioso para conhecer a fase rock and roll e, ainda mais, progressiva, de Roussos e Vangelis, e terminei mergulhando numa extraordinária expressão do progressivo. Comecei pelo fim: “666” foi o último disco da banda. Sugiro essa jornada sonora, principalmente aos interessados no bom progressivo. Do “666”, destaco The Four Horsemen, em que é musicada a passagem apocalíptica que descreve os quatro Cavaleiros. 

Abaixo, segue o áudio para ouvir o disco na íntegra, no YouTube. A obra da banda também está disponível para download no site Muro do Classic Rock.





- Bruno Vitorino:



Thelonious Sphere Monk. Esses três nomes se traduzem para mim como uma referência musical absoluta que revisito, com reverência e muito respeito, sempre. Em minhas recentes andanças por sua discografia, quedei-me mais uma vez inteiramente fascinado pelo seu clássico álbum “Brilliant Corners”. Gravado em 1956 pelo selo Riverside, o disco marca um novo momento na carreira do pianista. Depois dois discos inteiramente voltados para os standards, seguindo uma estratégia comercial traçada pelo produtor Orrin Keepnews para quebrar uma injusta pecha de “louco idiossincrático” que pairava sobre o músico, Monk finalmente recebia carta branca para gravar um disco com suas composições “estranhas”. O resultado é uma obra-prima.

Brilliant Corners, tema que abre e dá nome ao disco, é simplesmente uma masterclass de engenharia harmônica, ousadia estética e pessoalidade na construção das formas. Poucos estavam preparados para encarar uma composição de trinta compassos que quebrava o padrão AABA; apresentava uma progressão incomum cheia de cromatismos descendentes e “esquinas” (na ponte: Am7 / D7 / - / G7 / Gb7 / B7 / E7 // Am7 / Ab7 / G7 / Gb7 / F7), além de um ritmo harmônico irregular; trazia uma melodia forjada em intervalos angulosos e paralelismos; e, ainda de quebra, dobrava o andamento após o giro na forma. É possível ouvir os músicos lutando com o tema, buscando entendê-lo e procurando improvisar em sua plataforma hostil. Há também a lindíssima balada Pannonica, que Thelonious escreveu em homenagem a sua grande amiga e confidente Kathleen Pannonica, a qual poderíamos descrever parcamente como uma “rebelde com causa” oriunda da aristocracia inglesa que se inseriu e apoiou (inclusive financeiramente) figuras proeminentes do jazz moderno. Um tema difícil de tocar, de complexa arquitetura, em que a melodia se entrega aos acordes com uma delicadeza tão poética e rara... Uma composição que, no fim das contas, atesta não somente o gênio criativo de um artista por muito tempo incompreendido, mas também o quão imensurável é o poder expressivo da música. E ficarei apenas nestas duas faixas para não me alongar mais do que já me alonguei.

Simplesmente escute. É um disco obrigatório!




- Fernando Lucchesi:


        
Talentosíssima cantora de soul music/pop dos anos 1960, a britânica Dusty viveu um relativo ostracismo até ser resgatada por Quentin Tarantino, que incluiu uma das suas grandes músicas na trilha sonora de Pulp Fiction. O disco inicia com o pop singelo e inocente de I Only Want to Be with You, segue com a epicamente dramática You Don´t Have to Say You Love me e chega na beleza melancólica de Son of a Preacher Man. Essas três músicas são, sem dúvida alguma, as grandes músicas do disco e possivelmente os maiores sucessos dela. No entanto, o disco está repleto de grande faixas e arranjos vocais da melhor música soul e do pop, como I Just Don´t Know What to Do with Myself (regravada pelo White Stripes), The Look of Love e Wishing and Hoping.



- Giba Carvalho:



Minha indicação sonora deste mês é um retorno de 16 anos no tempo. “Cantoria de Festa” foi lançado em 1999 pela Kuarup Discos e é uma verdadeira aula de interpretação de diversos ritmos peculiares ao Nordeste brasileiro. Do Xote ao Rastapé, do Baião a Ligeira, do Galope ao Coco e do Rojão ao Galope, recebemos uma aula de um dos maiores intérpretes vivos no mundo que é Xangai.

Este trabalho é uma imensa homenagem a vários compositores que fazem a história da música nordestina perpetuar-se no tempo. Algumas figuras bastante conhecidas como Déo do Baião, Capinam, Jacinto Silva, Marinês e o Mestre Jackson do Pandeiro se fazem presentes no disco. E outras, que hoje em dia, são muito importantes como Juraildes da Cruz e o grande Maciel Melo.

Nóis É Jeca Mais É Jóia de Juraildes quase deu o nome ao trabalho e abre o disco com um imenso destaque. Não É Brincadeira, de Maciel Melo, vem com um arranjo belíssimo e um bandolim único. E, não poderia deixar de citar duas versões da obra do Maior de Todos. A Função e Clariô do Mestre Elomar Figueira Mello, este gênio supremo da música brasileira.

O trabalho foi produzido por Mário de Aratanha e Xangai, teve os arranjos elaborados no detalhe por João Omar (virtuoso Maestro e Violonista que é filho de Elomar) e Xangai e tem participações de nomes como o de Armandinho no Bandolim e Osvaldinho do Acordeon. Aqui para nós...não tem como ficar ruim.

Convido os senhores e senhoras para esta viagem pela música nordestina.





- André Maranhão:



Estou ouvindo “The Hour of Separation”, álbum lançado de modo independente e assinado por Joseph Tawadros, um grande alaudista copta, nascido no Egito e radicado na Austrália desde os seus três anos de idade.

Recomendo o disco não apenas porque Joseph Tawadros nos brinda com o som do seu alaúde, combinado com o riq de seu irmão caçula James, mas pelo fato de o trabalho também revelar boas confluências entre sonoridades árabes, do Norte da África, jazzísticas. E para referendar todo esse projeto, ninguém menos do que John Patitucci (baixo); John Abercrombie (guitarra) e Jack DeJohnette (bateria) dividem as faixas com Joseph Tawadros, imprimindo mais riqueza, virtuosismo e variações melódico-harmônicas.

Meus destaques vão para as faixas Gare de L’Est; Give or Take; Forbidden Fruit (momentos que podem nos lançar em uma verdadeira encruzilhada de timbres, despejados em compassos bastante envolventes); além da riquíssima construção melódica de The Hour. Recomendo também ouvir os trechos onde a guitarra de Abercrombie cresce, combinada com modos orientais em Phoenix; e Rose; o solo de Patittuci em In the Stars. Finalmente, para os mais interessados em momentos mais meditativos, indico as faixas The Black Forest; Nostalgia in D; Promise, belamente acentuadas pela estética dos modais de Tawadros.

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