No ar mais uma coluna “Playlist de
Editores”! Como de praxe, cada editor do Variações para 4 comenta o disco que
vem monopolizando sua atenção e seus ouvidos com o intuito de compartilhar com
os leitores experiências de escuta.
Boa audição!
- Rógeres Bessoni:
Este mês, voltei a fazer jornadas pelo
(para mim e para muitos) bom, grandioso, glorioso e abissal rock progressivo.
Estou agora entrando numa obra sugestiva, rica e épica, o disco 666 [The
Apocalypse of John 13/18] da banda Aphrodite's Child. O disco, lançado em 1972,
é uma viagem através do Apocalipse, alternando musicalizações e declamações de
várias passagens dessa obra a um só tempo religiosa, esotérica e literária, que
é um dos textos mais enigmáticos e fascinantes que o Ocidente herdou. A banda,
só por sua formação, me chamou a atenção quando ouvi falar dela pela primeira
vez. Nela estavam nada mais, nada menso que o greco-egípcio Demis Roussos,
antes do seu sucesso como cantor romântico nos anos 70, e Vangelis, antes das
suas experiências com música eletrônica que o consagrariam como um dos nomes
mais relevantes da música instrumental dos últimos 30 anos do séc. XX. Junto a
eles, o baterista Loukas Sideras segura as levadas com precisão e habilidade,
fazendo um “tapete” inventivo e seguro. Neste disco, juntou-se a eles ainda o
guitarrista Silver Koulouris. Fiquei curioso para conhecer a fase rock and roll
e, ainda mais, progressiva, de Roussos e Vangelis, e terminei mergulhando numa
extraordinária expressão do progressivo. Comecei pelo fim: “666” foi o último
disco da banda. Sugiro essa jornada sonora, principalmente aos interessados no
bom progressivo. Do “666”, destaco The
Four Horsemen, em que é musicada a passagem apocalíptica que descreve os
quatro Cavaleiros.
Abaixo, segue o áudio para ouvir o disco na íntegra, no YouTube. A obra da banda também está disponível para download no site Muro do Classic Rock.
Abaixo, segue o áudio para ouvir o disco na íntegra, no YouTube. A obra da banda também está disponível para download no site Muro do Classic Rock.
- Bruno Vitorino:
Thelonious Sphere Monk. Esses três
nomes se traduzem para mim como uma referência musical absoluta que revisito,
com reverência e muito respeito, sempre. Em minhas recentes andanças por sua
discografia, quedei-me mais uma vez inteiramente fascinado pelo seu clássico
álbum “Brilliant Corners”. Gravado em 1956 pelo selo Riverside, o disco marca
um novo momento na carreira do pianista. Depois dois discos inteiramente
voltados para os standards, seguindo uma
estratégia comercial traçada pelo produtor Orrin Keepnews para quebrar uma
injusta pecha de “louco idiossincrático” que pairava sobre o músico, Monk finalmente
recebia carta branca para gravar um disco com suas composições “estranhas”. O
resultado é uma obra-prima.
Brilliant Corners, tema que abre e dá nome ao disco, é
simplesmente uma masterclass de
engenharia harmônica, ousadia estética e pessoalidade na construção das formas.
Poucos estavam preparados para encarar uma composição de trinta compassos que
quebrava o padrão AABA; apresentava uma progressão incomum cheia de cromatismos
descendentes e “esquinas” (na ponte: Am7 / D7 / - / G7 / Gb7 / B7 / E7 // Am7 /
Ab7 / G7 / Gb7 / F7), além de um ritmo harmônico irregular; trazia uma melodia forjada
em intervalos angulosos e paralelismos; e, ainda de quebra, dobrava o andamento
após o giro na forma. É possível ouvir os músicos lutando com o tema, buscando
entendê-lo e procurando improvisar em sua plataforma hostil. Há também a lindíssima
balada Pannonica, que Thelonious
escreveu em homenagem a sua grande amiga e confidente Kathleen Pannonica, a
qual poderíamos descrever parcamente como uma “rebelde com causa” oriunda da
aristocracia inglesa que se inseriu e apoiou (inclusive financeiramente)
figuras proeminentes do jazz moderno. Um tema difícil de tocar, de complexa arquitetura,
em que a melodia se entrega aos acordes com uma delicadeza tão poética e rara...
Uma composição que, no fim das contas, atesta não somente o gênio criativo de
um artista por muito tempo incompreendido, mas também o quão imensurável é o
poder expressivo da música. E ficarei apenas nestas duas faixas para não me
alongar mais do que já me alonguei.
Simplesmente
escute. É um disco obrigatório!
- Fernando Lucchesi:
Talentosíssima
cantora de soul music/pop dos anos 1960, a britânica Dusty viveu um relativo
ostracismo até ser resgatada por Quentin Tarantino, que incluiu uma das suas
grandes músicas na trilha sonora de Pulp Fiction. O disco inicia com o pop
singelo e inocente de I Only Want to Be
with You, segue com a epicamente dramática You Don´t Have to Say You Love me e chega na beleza melancólica de Son of a Preacher Man. Essas três
músicas são, sem dúvida alguma, as grandes músicas do disco e possivelmente os
maiores sucessos dela. No entanto, o disco está repleto de grande faixas e
arranjos vocais da melhor música soul e do pop, como I Just Don´t Know What to Do with Myself (regravada pelo White Stripes), The Look of Love e Wishing and Hoping.
- Giba Carvalho:
Minha
indicação sonora deste mês é um retorno de 16 anos no tempo. “Cantoria de Festa”
foi lançado em 1999 pela Kuarup Discos e é uma verdadeira aula de interpretação
de diversos ritmos peculiares ao Nordeste brasileiro. Do Xote ao Rastapé, do
Baião a Ligeira, do Galope ao Coco e do Rojão ao Galope, recebemos uma aula de
um dos maiores intérpretes vivos no mundo que é Xangai.
Este
trabalho é uma imensa homenagem a vários compositores que fazem a história da
música nordestina perpetuar-se no tempo. Algumas figuras bastante conhecidas
como Déo do Baião, Capinam, Jacinto Silva, Marinês e o Mestre Jackson do
Pandeiro se fazem presentes no disco. E outras, que hoje em dia, são muito
importantes como Juraildes da Cruz e o grande Maciel Melo.
Nóis É Jeca Mais É Jóia de Juraildes quase deu o nome ao
trabalho e abre o disco com um imenso destaque. Não É Brincadeira, de Maciel Melo, vem com um arranjo belíssimo e
um bandolim único. E, não poderia deixar de citar duas versões da obra do Maior
de Todos. A Função e Clariô do Mestre Elomar Figueira Mello,
este gênio supremo da música brasileira.
O
trabalho foi produzido por Mário de Aratanha e Xangai, teve os arranjos
elaborados no detalhe por João Omar (virtuoso Maestro e Violonista que é filho
de Elomar) e Xangai e tem participações de nomes como o de Armandinho no
Bandolim e Osvaldinho do Acordeon. Aqui para nós...não tem como ficar ruim.
Convido os senhores e senhoras para esta viagem
pela música nordestina.
- André Maranhão:
Estou
ouvindo “The Hour of Separation”, álbum lançado de modo independente e assinado
por Joseph Tawadros, um grande alaudista copta, nascido no Egito e radicado na
Austrália desde os seus três anos de idade.
Recomendo
o disco não apenas porque Joseph Tawadros nos brinda com o som do seu alaúde,
combinado com o riq de seu irmão caçula James, mas pelo fato de o trabalho
também revelar boas confluências entre sonoridades árabes, do Norte da África,
jazzísticas. E para referendar todo esse projeto, ninguém menos do que John
Patitucci (baixo); John Abercrombie (guitarra) e Jack DeJohnette (bateria)
dividem as faixas com Joseph Tawadros, imprimindo mais riqueza, virtuosismo e
variações melódico-harmônicas.
Meus destaques vão para as faixas Gare de L’Est; Give or Take; Forbidden Fruit
(momentos que podem nos lançar em uma verdadeira encruzilhada de timbres,
despejados em compassos bastante envolventes); além da riquíssima construção
melódica de The Hour. Recomendo também
ouvir os trechos onde a guitarra de Abercrombie cresce, combinada com modos
orientais em Phoenix; e Rose; o solo de Patittuci em In the Stars. Finalmente, para os mais
interessados em momentos mais meditativos, indico as faixas The Black Forest; Nostalgia in D; Promise,
belamente acentuadas pela estética dos modais de Tawadros.
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