quinta-feira, 15 de março de 2012

A última febre - Gilberto da Costa Carvalho



Há alguns anos atrás, escrevi um texto intitulado - "Por onde andam os revolucionários?". Nele, tentei explanar como seriam as reações de Renato Russo e Cazuza hoje em dia em termos de política. No entanto, a situação teve um agravamento violento, principalmente em termos de rock n´roll. Puxando pela memória, pude constatar que a última grande febre do estilo, foi nada mais, nada menos do que Anna Julia. Sucesso absoluto em todas as esquinas e buracos deste país. Assaz preocupante! 
A referida música era do primeiro, e inegavelmente mais simplório disco do Los Hermanos. Segundo, não era a melhor música do disco. Terceiro, e mais agravante - Os quatro barbudos, são inegavelmente, a última banda de destaque do rock nacional. E olhe que já se passam quatorze anos, desde aquele Abrilprorock de 1998. E, venhamos e convenhamos, depois deste primeiro disco o Los Hermanos nem foi tão "rock" assim.
Durante todo este tempo, tentei procurar algo de interessante e que viesse a chegar perto da essência do imortal rock n´roll. Me deparo atualmente, com três realidades distintas:

1 - "As viúvas do Los Hermanos" - Aquelas bandinhas que acham lindo cultivar o amor, os passarinhos, uma formiga carregando uma folha, um sorvete e que adoram colocar metaleiras nas suas músicas. (Ah, não posso esquecer o circo como regra vital). Exemplos básicos - Móveis Coloniais de Acajú, Malu Magalhães, Orquestra Imperial, Gram (que não era tão ruim assim), o tenebroso Teatro Mágico e, mais recentemente, A Banda mais bonita da cidade, que não passa de cópia de uma turminha estrangeira. Mas, "o amor é lindo", a carência das pessoas me parece ter proporções gigantescas e ficam todos no aguardo do mais novo "mantra fofinho".

2 - "Os sertanejos de guitarra" - O que falar destes seres, que dizem um dia na vida ter ouvidos as clássicas bandas de punk rock, e jogam no ouvido da pessoa uma sorte de baboseiras, pieguices e refrões sofríveis,  com cheirinho de chiclete e lágrimas? Honestamente, o "hardcore melódico" nacional é um lixo de primeira grandeza! Os "criativos punk rockers" nacionais, preferiram se tatuar, pegar a estrutura musical e jogar letras destes cantores sertanejos que acabam com o bom humor de qualquer elemento. Exemplos - Fresno, NX Zero, Banda Cine, a terrível CW7 e o que falar do Restart?

3 - A cena independente, esquecida e sem apoio do rock nacional. Não irei me alongar no que tenho a falar pois, prefiro que as bandas toquem.

Black Drawing Chalks - Goiania (berço do Sertanejo)



Velhas Virgens - São Paulo (Com cara de Rock n´Roll)



Estes são apenas dois exemplos. A primeira banda, é da nova geração e, ironicamente, da terra maternal deste sertanejo fajuto que toma conta das rádios e da cabeça de milhões de alucinados. A segunda banda, tem 25 anos de história e se intitula como - "A maior banda independente do Brasil". Afinal, todos os trabalhos até hoje foram gravados por recursos próprios e com a ajuda dos fãs, o que é louvável!

Honestamente, espero que a cena independente tenha cada vez mais vida. Não podemos viver apenas de músicas de rock n´roll para trilhas de novelas. É uma falta de respeito com as bandas e principalmente com os ouvintes. Precisamos ter uma visão mais atenta a estes talentos. Só assim, o rock nacional poderá sair do coma que se encontra há quase duas décadas.

4 comentários:

  1. Gostei do texto! Só faltou vc colocar a Gandharva!Valeria a pena.

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  2. Fortaleza é um celeiro rico de rock autoral. Apesar da pouca divulgação acredito que somos agraciados com uma geração saudável!

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  3. Realmente a situação está braba!
    O Los Hermanos (e seu séquito) é uma moça na frente de Renato Russo. Uma moça virgem e reticente e irritante...
    O pior é que muita gente continua louvando estes merdas que há muito vem fazendo ESTRITO COMÉRCIO com o que conseguiram produzir de MAIS OU MENOS BONZINHO.
    Enquanto não surge nada que mereça atenção eu me abstenho de ter bandas favoritas, frequentar esses shows cafonas que se apresentam em Recife e redondezas e prefiro focar em outras direções.
    Se o rock encalhou na praia, o jazz contemporâneo vai muitíssimo bem.
    E a música erudita esta sempre aí, com os barrocos, os clássicos, os romanticos, os modernos, os dodecafonicos, os atonais, os serialistas, os minimalistas e mais uma ruma de gente. Tem pra todos os gostos.
    É tempo de começarmos a dar chance a nossos ouvidos de receberem outros estimulos. Estimulos bons e nobres, que não façam a nossa pobre massa cinzenta de otária.
    O rock já foi uma música jovem e criativa.
    Agora é uma repetição enfadonha do passado, uma solfa lamuriosa e individualista, uma música completamente alienada que realmente não vale a pena ser ouvida.

    Tatiana Monteiro

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  4. Tati, ótimo ter seus comentários aqui. A coisa de fato é complicada. No entanto, o Los Hermanos tinha o que mostrar e a Legião Urbana idem. Agora o mar de falta de criatividade pós-barbudos é imenso. É como "se tudo tivesse bonitinho e fofinho demais."
    Concordo que a Música Erudita é pouquíssimo divulgada aqui no país. O jazz, nem se fala. Acho, honestamente, que a primeira ainda pode crescer bastante, já o segundo, tenho sérias dúvidas. Enfim, espero que o estado de coma do Rock Nacional acabe, e que outros estilos de música de qualidade sejam difundidos. Porque a música boa é o que deveria importar!

    Gilberto da Costa Carvalho

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