domingo, 29 de setembro de 2013

Revolver: A Fugacidade do Sublime - Por Bruno Vitorino


Antes de se materializar em um blog, o Variações para 4 era o encontro semanal que Ângelo, Giba, André, Fernando e eu promovíamos lá em casa. Na verdade, tratava-se de um pretexto solene que encontramos para tomar Heinekens geladas, escutar bons sons e compartilhar nossa sincera (e idealista, diria) preocupação com os rumos da Arte num mundo onde Cinquenta Tons de Cinza é o símbolo da transgressão da mulher contemporânea, Kelvis Duran é ícone cult para jovens intelectualizados de classe média e certos poetinhas cianóticos tecem loas egolombráticas ao poder do amplexo. Como de praxe em qualquer reunião de amigos, à medida que as garrafas do néctar dos deuses se acumulavam, nossas idiossincrasias pessoais se projetavam. Nos momentos de consonância, uníssonos de conformidade e aprovação. Mas, diante das discordâncias mais acirradas – que não eram poucas, ouvia-se a defesa mais acalorada de posicionamentos controversos. No que diz respeito a mim, isso sempre recaia em minha repulsa à obra de Chico Buarque e minha ojeriza à produção dos Beatles.

Não gostar desses artistas já me colocou em sérios apuros. Imagine você um estudante de História em pleno CFCH abrir a boca para dizer que “Chico Buarque é um compositor superestimado e um romancista de merda”. Ou também, em qualquer mesa de bar num papo descontraído com entendedores de rock, que “Os Beatles foram uma praga. A Grande Peste da música do século XX”. O mundo vinha abaixo, meu amigo! Na faculdade, não só minha integridade intelectual, como também a psíquica, logo eram questionadas. “Isso é coisa de alienado, de pelego. Tu tá é doido!”. Já lá na mesa de bar, as reações variavam da fúria extremista à perplexidade retumbante. Faça um teste. Experimente o senhor, como exercício sociológico, dizer quando estiver tomando uma com seus amigos: “Os Beatles foram os maiores vagabundos da história da música”. Em um segundo, meu caro, você será um herege jogado na fogueira do fanatismo dessa inquisição cultural. Reflexo condicionado, não refletido ou problematizado.

Obviamente que por trás dessas afirmações tão categóricas reside uma morbidez galhofeira que zomba da submissão plena aos cânones. E não há como ser de outro jeito, meu querido. Goste ou não, uma coisa é certa: se for para mexer em casa de marimbondo, não adianta ir alisando. Tem que descer o braço, senão você se lasca! Só dinamitando o totem (e o tabu), pode-se vislumbrar que as verdades na esfera artística são, mais do que certezas estéticas, construções sociais sedimentadas pelo tempo e pelo discurso. A memória costuma ser generosa com a pieguice, daí a tendência de visões romantizadas de um passado idealizado povoado por artistas divinos. O erro crasso das legiões de devotos mundo afora que separam o homem de sua produção simbólica, e, mais ainda, que dissociam o artista das conjunturas de seu tempo. Entenda o seguinte: o artista não existe no vácuo.

Pondo de lado toda essa cabecisse, o fato é que eu já tentei gostar dos Beatles. Sério mesmo! De todo o coração e inúmeras vezes. Como a descoberta da música se deu para mim através do rock clássico, não havia como me esquivar da obrigatória visita ao quarteto de Liverpool. Portanto, não pense o senhor que falo aqui sem conhecimento de causa. Deixo para os jornalistas dos cadernos de cultura falar daquilo que não sabem ou sequer compreendem. Ouvi minuciosamente toda a discografia dos ingleses esperando o inevitável deslumbramento que me haviam prometido. Do “Please Please Me” ao “Let It Be”. Disco a disco e nada! Absolutamente nada, para meu desespero. Seria eu um portador de alguma patologia lombrosiana? Não! Era apenas a combinação de uma pitada de senso crítico com um pouco de perspectiva histórica.

Por mais que tentasse, não conseguia entender o porquê de tanto estardalhaço. Incomodava-me a gritante tabacudice boy band – chame de Iê Iê Iê se preferir – da primeira fase da banda em músicas fofinhas sobre paixões adolescentes e corações partidos. Corri para o período de transição do grupo da euforia teen para o experimentalismo mais adulto. Legal. Encontrei músicas interessantes e extremamente bem construídas como Norwegian Wood, mas morguei totalmente com canções bestas como Drive My Car. “Baby, you can drive my car / Yes, I’m gonna be a star / Baby, you can drive my car / And maybe I’ll love you” era leseira demais para meu frágil testículo esquerdo. Por fim, procurei na última fase da banda achar a tão sonhada redenção, contudo me iludi novamente. Ao que parece, depois de ter ouvido o poder incendiário do Led Zeppelin, ficava difícil gostar do bom mocismo inofensivo dos Beatles. A verdade é de quem chega primeiro. E, no meu caso, quem chegou primeiro foi o Led Zepellin. “Melhor assim”, dizia a mim mesmo. Até que veio a verdadeira revolução em minha vida: Theo!

O advento do filho ocasionou em mim rupturas silenciosas, cuja dimensão não podia medir ao certo, em toda a constituição do meu ser. De repente, o mundo ficou de ponta cabeça, a realidade virou pelo avesso. As ilusões que guardava, os horizontes que mirava e as convicções que até então me caracterizavam o Bruno que sempre lembrei ser, já não faziam mais sentido. Eu havia mudado. Comecei então a ressignificar tudo: o valor da família, o caráter formador do trabalho, a relação com a cidade e inclusive a importância da música. E aqui eu chego aonde queria. “Se tudo mudou, não seria agora que eu finalmente iria gostar dos Beatles?”, pensei. Mais uma vez (a 4ª pelas minhas contas), revisitei a discografia do Fab Four. Não senti qualquer emoção diferente a cada disco que ouvia no Youtube, até que finalmente eu vi a luz! Algo inexplicável e totalmente inesperado aconteceu em mim quando pus no buscador “revolver full album”. Foi uma revelação!

Revolver: a obra-prima dos Beatles.
“Revolver” marca o momento mais sublime e único que os Beatles puderam alcançar. “E o Sgt. Pepper’s?”, o senhor pode estar se perguntando. Bem, o “Sgt Pepper’s” é um disco ousado, sem sombra de dúvidas, mas em contrapartida é um amontoado de referências e ideias mal resolvidas, embrulhadas num discurso musical excessivo. Em resumo: um disco gorduroso. “E o White Album?”, o senhor insiste. Esse daí é tediosamente longo e altamente irregular. Como um disco pode ter uma composição tão brilhante como “Martha, My Dear” e outra tão retardada como “Ob-La-Di, Ob-La-Da”? Nem mesmo Bhaskara pode resolver essa equação, permita-me dizer. Por isso, defendo que “Revolver” registra o equilíbrio perfeito da verve intuitiva de John Lennon com a perspectiva cerebral de Paul McCartney e, de quebra, traz o desabrochar criacional do até então sufocado George Harrison. Com esse álbum, os Beatles desbravaram um território completamente novo, tanto no que diz respeito aos métodos de composição e técnicas de arranjo quanto aos temas e enfoques poéticos. Um salto artístico estratosférico num período curtíssimo de tempo, já que apenas três anos separam o pueril “Please Plese Me” desta obra-prima.

A contagem inicial que abre o disco parece avisar ao ouvinte que uma viagem caleidoscópica em direção ao desconhecido está para começar. “Taxman”, de George, escancara uma pegada roqueira mais agressiva, cheia de balanço e uma letra de humor corrosivo sobre a voracidade inflexível da política tributária do Estado Pós-Industrial. Na sequência, em “Eleanor Rigby”, Paul derrama todo seu lirismo sobre uma trama contrapontística das cordas (destaque para o cello) e harmonizações vocais precisas. Um dos pontos mais altos de toda sua carreira, diga-se de passagem. Depois vem Lennon com a onírica “I Only Sleeping”. Seu jeito preguiçoso de delinear as melodias, a simples, e por isso mesmo, deslumbrante harmonia em Mi menor e o solo de guitarra em “loop” e “reverse” de Harrison (algo nunca antes ouvido no rock) constroem uma ambiência surrealista que remete às fronteiras do inconsciente. Até Ringo tem seu momento. Esteja certo de que “Yellow Submarine” povoa o imaginário de muitas crianças por todo o planeta com sua fanfarra marcial psicoldélica. Mais à frente, encontramos “For No One” uma das mais belas descrições narrativas sobre a indiferença (e seus danos) que já ouvi. Preste atenção na linha de fundo cromática que vai costurando o encadeamento dos acordes, representando o afastamento paulatino da pessoa amada e no lamento resignado do solo de trompa ao se deparar com o inevitável ocaso. Já em “I Want to Tell You”, minha favorita, deparamo-nos com a habilidade de George em transformar melodias flutuantes e progressões harmônicas ambíguas em algo extraordinário. Repare no piano que insistentemente toca a nota Fá “errada” (não diatônica em Lá maior) justamente nos momentos da letra em que o autor se vê aturdido pela presença invasiva da musa a quem tenta se declarar. Nada menos que genial! Para concluir essa materialização da excelência, os Beatles atacam com a enigmática “Tomorrow Never Knows” onde John recita trechos do livro tibetano da morte sobre a bateria agitada de Ringo e os efeitos eletrônicos dos ecos de rolos de fita. Reminiscências dos cursos de verão de Darmstadt e da música oriental. Uma advertência clara de que nada seria como antes e que o porvir era uma névoa de incertezas!


Lembro-me como se fosse ontem de, no calor do debate, Fernando me amaldiçoar: “Bruno, teu menino vai adorar Chico Buarque e amar os Beatles”. Bato na madeira e sinto um calafrio só de imaginar Theo ouvindo “Construção”, acreditando estar diante mais alta representação da cultura brasileira. Mas, depois de sentir o efeito “Revolver” e de ver meu filho dançando ao som de “Love You To” enquanto escrevo a conclusão dessas breves (?) linhas, devo confessar que me parece muito auspiciosa a possibilidade dele curtir os Beatles. Melhor assim.

13 comentários:

  1. Bruno, concordo com seu ponto de vista, mas gostaria de chamar a atenção para uma coisa que muito me preocupa, o fanatismo das pessoas de cultuam determinados artistas com se fossem verdadeiros "Midas", e a caça as bruxas instauradas contra àqueles que não comungam do mesmo pensamento artístico musical, cinematográfico, artes plásticas e tantos outros. Esse fanatismo cultural é, na maioria das vezes, impulsionado pela necessidade das pessoas em preservar uma identidade de vanguarda, de esquerda revolucionária, de pessoas com um alto grau de desenvolvimento intelectual, onde não se admite discordâncias. Mas voltando ao seu texto, eu, particularmente, gosto de algumas músicas de Chico, e não de “Chico – a Obra”, mas reconheço sua importância no momento histórico vivido pelo país na luta contra o regime militar. Quanto aos Beatles nunca fui tiete, na verdade gosto de pouquíssimas coisas, nada que me motivasse a ter um disco da banda, mas confesso que fiquei curiosa após seu comentário, tanto que vou procurar ouvir o Revolver com outros (melhores) ouvidos. Uma coisa (entre tantas) eu adorei no seu comentário, sua colocação sobre os "jornalistas de caderno de cultura que falam do que não sabem ou sequer compreendem" Isso é fato!! (estou rindo até agora), é impressionante o quanto falam besteira, tanto que nem perco meu tempo lendo aquelas baboseiras. Parabéns por mais um comentário bem escrito e construído em pesquisa, o que expressa não apenas sua opinião, mas levanta argumentos para que possamos reavaliar nossos pontos de vista, sobre essas e outras coisas.
    Cristina Monteiro

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  2. Os Beatles são a banda responsável pela "criação" e vulgarização do pop, do seu conceito simples (não simplório) e massivo. Daí talvez os dedos retos na cara no momento que se assume não tê-los ou vê-los como ídolos. Contudo ao ouvi-los, o fã (especialmente o amante do rock) descobre neles, mais do que uma banda, mas uma metalinguagem. Ao se escutar o Fab-4 é possivel ver a evolução do próprio ROCK (enquanto estilo musical) desde o pop-rock iê-iê-iê, passando pela mutação do Revolver até a "coisa" indefinível" do Sargt Pepers. Indo mais além, ao se conhecer a banda, descobre-se que eles são tb a metalinguagem do ROCK enquanto LIFE STYLE: com seus excessos, loucuras, excentricidades, brigas, idas-e-vindas, e fins. Como jovem adentrei no mundo do rock com o LED (também). E devo confessar que é dificil descer do Led II, ou III, ou do House of the Holy para encontrar diversão e algo interessante nos Beatles. Mas ao escuta-los e descobrir toda essa questão evolutiva, ouvi-lo-los ficou muito mais gostoso: pois a medida que eu mesmo crescia, encontrava neles essa sintonia de mudança. A repercussão que a musica (e a arte dentro de uma perspectiva geral) tem na vida das pessoas é algo muito íntimo; alguns precisam de um filho, de uma referencia paterna, outros de uma dor-de-cotovelo. Entre uns e outros os Beatles conseguem atingir a todos, já no fato é Zeppelin de Chumbo não cabem todos... - Tomé

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  3. Bruno, meu querido, você cada vez mais supera-se como crítico musical. Quanto ao Chico Buraco de Olinda, sei que somos unanimidade, apesar de dizerem as más línguas que "toda unanimidade é burra". Não sei "toda", mas "quase toda" deve ser mesmo. Vide esse regime político escroto em que vivemos (ou tentamos viver) em que ninguém sabe mais de que lado ficar. Sabe somente que é melhor ser do lado contrário à correnteza absurda de escândalos que diariamente nos jogam na cara montanhas de lama. Voltemos ao ponto. Sabe que você mexeu com uma coisa que sempre me atormentou, apesar de ter sofrido fortíssima influência dos Beatles... tenho pra mim que eles poderiam ter sido bem melhores, se tivessem tido mais tempo. Talvez por isso, em muitos quesitos, o irreverente clima dos Stones tenha sobrevivido e até evoluído tempo afora. Não sei se concordo no todo com algumas colocações suas no artigo. Realmente "Revolver" é muito mais inovador, para o seu momento, que "Sgt Pepper's". O segundo, num clima altamente psicodélico, influenciado pelas experiências diversas do Fab4, com gurus e drogas, leva-nos a pensar numa virada de mesa tremendamente pesada, em relação a todo o passado discográfico/musical do grupo. Mas, no duro, "Revolver" é bem mais desafiador, criativo e profundo que Sgt Peppers. Agora vem a minha discórdia: mesmo assim "Sgt Pepper's" teve lances por demais ousados. A inclusão de orquestração pesada, quase clássica, como era de se esperar da magnifica direção musical com que o quarteto já contava, fez desse álbum o marco em que se tornou. Enfim, no mais, você está absolutamente correto em seus pontos de vista. Lapidar sua colocação: "as verdades na esfera artística são, mais do que certezas estéticas, construções sociais sedimentadas pelo tempo e pelo discurso." Eu acrescentaria um elemento super importante nisso aí: o dinheiro, a bufunfa, o vil metal. Esse compra qualquer estética, qualquer público, qualquer discurso. Meu caro, eu tive com a arte enquanto profissão (porra, petezei sem querer... "enquanto" é foda... petismo cabeludo!), mas fica aí só pela gozação. Quando a gente faz da arte profissão (assim tá melhor) a gente relega a outro plano certas coisas, entre elas a auto-crítica. É esquecer, ou ir gastar o dinheiro do cachê num bom psicanalista.. ou psiquiatra, em casos extremos, hehehe., Se você tem que fazer pra ganhar, não pode botar a Arte acima da Vida. Infelizmente... Eu toquei de tudo, no tempo em que ganhei meus trocados da Música. O cliente pedia, pagava, se o meu grupo não tocasse, outro contrato seria feito, outro grupo tomaria o lugar do meu. Acho que com todos (cabe aí até mesmo o "deus" XicoBuraco e suas construções, cotidianos e quejandos...praticamente todas as musicas que fez para o "seu" público devoto e reverente. Aquele público que eu chamo de comunista de rolex, ou de hilux, que até hoje vai ao orgasmo múltiplo absoluto só de ouvir ou lembrar-se de ter ouvido em alguma passeata de protesto -dessas mesmo que nunca dão em nada e nem levam a lugar nenhum...(ô povo pra perder tempo com isso !)- alguma música do Guruxico. Por isso mesmo, pra não mais depender do gosto dos outros, nem penso, nem pensarei e recuso-me a pensar que um dia toquei pra ter dinheiro pro ingresso do cinema, pra comprar uma camisa nova, um livro pra faculdade, uns litros de gasolina para passear na fubica. É a vida, é o dinheiro burlando gostos e opiniões, dirigindo a contragosto nossa opinião para o contexto geral do que está na moda, na rua, na praça ou numa casinha de sapé. E nada mais me foi perguntado, pelo que lavro o presente termo. Abração !

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  4. Li todo o texto. Me sentia um pouco como vc. Nao conseguia gostar dos beatles. Ate decidi grava-los. Rearranjando as musicas, pude perceber a riqueza das melodias e harmonias, e virei fan dentro desse processo. Na faculdade, ouvi meu melhor professor (Dierson) se espantar ao ouvir "Michele", e exclamar: "Po... Esses caras sao diferentes". A imprevisibilidade de alguns acordes. Exemplo: Here, there and ewerywhere, um acorde que normalmente seria meio diminuto, é tocado como um acorde menor. Ou a propria "Michele", onde comeca em modo maior e deslancha em modo menor. Tudo feito com muito bom gosto e audacia. Confesso que nao sou fan do quarteto tendo eles como instrumentistas limitados. Mas sim, fan como criadores. Ja ouvi muito falar que os Beatles sao melhores com outros tocando.
    Falando de discos, Concordo com o Revolver sendo um dos melhores albuns e gostei da descricao das musicas citadas no texto. No inicio da carreira, musicas como And i love her, if i feel, All my loving, Cant buy me love. Antes do revolver: Day tripper, Norwegian wood, Michele, For no one,Mas na minha opiniao, o Abbey Road tem lugar no topo da discografia tendo musicas como Something, Come together, Here comes the sun. O album branco tem classicos como While my guitar gently weeps, Blackbird e Don't let me down. Mas concordo que tirando essas 3, eh um album cansativo. Em Magical mistery tour, Destaco All we needs love e seu compasso incomum, e The fool on the hill. Em Let it be, destaco Get back. Enfim... em uma vasta producao, pode-se aproveitar muita coisa desse grupo que com certeza foi a frente do seu tempo. A sua frase tendo os beatles como a praga da musica do seculo XX. Eu tenho a mesma frase copiada do grande Tonny Bennett. So que ele fala que Elvis acabou com a boa musica. E eu concordo com ele.

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  5. Sobre a musica I want tell you, Realmente nesse contexto e do jeito que é executada soa bem estranho a nota Fa natural no campo harmonico de La maior. Mas se considerarmos que esta sendo tocada no acorde de Mi (Dominante do tom de La),e nesse caso está, a nota Fa eh uma 9b, perfeitamente plausivel num acorde dominante.

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    1. Thiago,

      Massa vê-lo por aqui, ainda mais com contribuições como esta. Quanto a "I Want Tell You", sua observação é pertinente. De fato, existe essa possibilidade do empréstimo modal do Lá menor harmônico. Essa seria a solução mais jazzística - E7(9b/13b). Mas há uma problema com sua teoria: a melodia não permite esse acorde (muito menos o uso da escala "mixo 9b/13b"), uma vez que existe nela um #C (13ª maior). Ou seja, a intenção é o mixolídio "puro". Se rolasse improvisação, as coisas seriam mais abertas.

      Além disso, se levarmos em conta a progressão claramente maior (remetendo ao modo mixolídio no fim) "A / B7 / E7 / A7"; o momento em que o fá natural aparece na canção em relação à letra e, o mais importante, o fato de que os Beatles tocam um simples "E7" sem colocar a 9b no acorde, isolando o fá no registro médio/agudo do piano; perceberemos a deliberada intenção de deixar o fá soando como nota não diatônica. Repito, algo não menos que genial!

      Um abraço!

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  6. Desde José Ortega y Gasset, sabemos que "o Homem é o Homem e suas circunstâncias" Qualquer análise que se faça do Beatles não pode deixar de levar em consideração o universo cultural de que fazia parte, dentro da lógica da, assim chamada, "Indústria POP". Nesse contexto, Sgt. Pepper’s e o "álbum branco" seriam uma virada na própria criação do grupo, entrando em um universo "novo", dentro da lógica POP (integração/revolução).
    Sua análise, para ser mais consistente, deve deixar de lado os Beatles, em si, e compreender melhor seu entorno e com quem dialogava. Sem esquecer que os Beatles foram um fenômeno mercadológico, envolvendo U$ bilhões de dólares, em um período da Indústria Cultural que ela partiu-se ante a "contra-revolução cultural" do rock e a literatura Beat e o fenômeno Hippie (comportamental e de valores).
    Os Beatles emergem nessa encruzilhada cultural, política e social dos anos 60 e 70, que são parte indissolúvel de sua própria criação artística, com seus altos e baixos.
    De meu ponto de vista, que sempre gostei mais do The Who e Grand Funk Railroad, os Beatles são um marco precioso para se entender as contradições de uma época que prometia tanto e terminou com os yuppies dos anos 80 e a prevalência da lógica do mercado, quer dizer do consumo ostentatório, que tudo tocou com sua voragem prenunciando um novo tipo especial de sociedade, a do espetáculo. Esta a qual estamos submetidos, com sua lógica da aparência e da impotência.

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  7. Concordo em parte. Sem falar de emprestimo modal, o que na minha opiniao nao eh o caso. Pra mim o que importa eh a função do acorde, neste caso um dominante. Ja que o acorde dominante suporta qualquer nota da escala cromatica (menos a maj7). Acho que foi bem inteligente o uso dessa tensao, ja que pra mim a 9b soa bem romantica e melancolica. Nao eh a toa que os acordes de 7/9b sao construidos sobre acordes diminutos, nada tao tenebroso quantos esses acordes. Nesse caso a escala em questao seria a Dom-dim, que tem em seu primeiro intervalo uma 2 menor. Mas concordo que a intencao era chocar, e chocou. So que de forma milimetricamente pensada, pra gerar essa sencacao de romantismo e melancolia. (na minha opiniao). Parabens pelo texto. Aguardo ancioso o texto sobre sua conversao a igreja do poeta... Hahahahaha!!!! Grande abraço!!!

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  8. So ratificando, Sendo um simples E7, esta totalmente aberto o uso de qualquer tensao inerente ao Vgrau. Ja que nao afirma nenhuma alem da 7, Estranho seria se afirmasse uma 9 maior. Ai sim, pra mim soaria bem errado. Chocaria, Mesmo que pra mim, pela concepcao em questao, tbm tenha me incomodado um pouco pelo jeito agressivo que foi tocado.

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  9. Brunão, parabéns pelo texto e meus agradecimentos a todos que participam do nosso blog. Vossas opiniões são de suma importância para a música e para nós.

    OBS - viva Theo!

    Abraço,

    Giba Carvalho

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  10. Meu velho, esse foi, sem sombra de dúvida, teu texto mais divertido desse blog. Peguei-me dando verdadeiras "gaitadas" aqui em casa! A "praga" que eu joguei parece que vai pegar. eheheheheheh! O mais importante é que Theo forme o gosto dele independente se ele vai gostar de Beatles ou Chico Buarque. Um grande abraço e parabéns pelo excelente texto.

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  11. Grande Bruno. Parabéns pelo texto. Erudito e democrático como sempre, meu querido. Gostei muito da leitura! Eu tinha um pouco dessa rejeição, quando via as coisas de Andy Warhol. Mas quando li um filósofo como Arthur C. Danto, comecei a admirar várias coisas do projeto artístico da Pop Art. Este blog rende discussões arretadas. Um abraço!

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  12. Bruno, belíssima análise. Diferente de você e Tomé, que comentou no começo, minha iniciação ao rock aconteceu pelas mãos do meu pai ouvindo Beatles. Do iê-iê-iê à psicodelia. Eles podem ter essa característica do "pop-rock", mas inserido em um contexto histórico/cultural que faziam deles geniais, mesmo no please, please me. Sua contribuição na música, e no rock, ultrapassa as harmonias, composições, instrumentos e vozes. Beatles foi uma transformação social, além de musical. Esse legado não se pode tirar deles, mesmo que não se goste. Seu texto foi mega leve e engraçado como Fernando falou. Gostei tanto que ouvi "I want to tell you" neste momento em sua homenagem! kkkkk Que Theo não se torne fã cego de Beatles e Chico, mas que, ao ouvir qualquer um, ele compreenda um contexto histórico, social, musical transmitido através das composições e tornando o momento dessa audição um apreço pela maravilha que é descobrir algo de bom em tudo, assim como você descobriu ao ouvir Revolver. Mais uma vez, parabéns pelo texto! Abraços!

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