terça-feira, 4 de novembro de 2014

Banda do Mar - Por Giba Carvalho

Arte do primeiro disco da Banda do Mar

Poderia resumir o disco de estréia da Banda do Mar como um prolongamento da fraca carreira solo de Marcelo Camelo. Mas, não seria justo com as pessoas que acompanham nossos textos e para aqueles que no mínimo gostam de ler uma opinião diferente. Tal qual Benjamin Button nas telas de cinema, Camelo nasceu velho e regride a arroubos juvenis a cada passo dado. É exatamente isto que sinto nos seus trabalhos posteriores ao Los Hermanos e não é diferente neste novo projeto.  Parece-me uma busca de fragmentos do que o ex-hermano foi um dia.  Um mar de repetições de formatos e de uma fórmula que caiu na mesmice há tempos. Some-se a Banda do Mar a infantilidade tardia (ainda?) e a emissão de sons provenientes das frágeis cordas vocais de sua companheira Mallu Magalhães e atuação meramente coadjuvante do baterista português Fred Ferreira.

Nesta estréia, especificamente, chamo a atenção dos leitores justamente para a “tríade-ilusão”. É, meus caros, apenas 3 canções merecem atenção neste trabalho e sempre com alguma ressalva (daí a tríade-ilusão). “Cidade Nova” que abre o disco com personalidade e lembra a fase mais legal da carreira de Camelo, embora possua aquela velha história manjada do “tá ruim, mas tá bom”. “Hey Nana” que na minha opinião é a grande música do disco, principalmente por conta da linha de guitarra sessentista (repetidíssima, enfadonha, mas que sempre funciona bem) e “Mais ninguém” que é a maior e melhor música pop do casal, embora “cantada” por Mallu. Outros grandes méritos, são a qualidade da produção e da gravação do mesmo.

O exercício de compor está sendo extremamente improdutivo para Marcelo Camelo. É o mal de quem foi nivelado por cima o tempo todo. O “messianismo” que atingiu seus trabalhos com o Los Hermanos é cada vez mais prejudicial para seus projetos posteriores. Logo ele que foi ícone para tantos outros. Estes não procuraram espelhar-se no caminho percorrido anteriormente pelo artista em foco para desenvolver sua identidade musical e ficaram apenas tentando cópias medíocres. Camelo tornou-se pai para um monte de filhos que não são donos nem do próprio nariz e agora vai nivelando-se a eles.

Banda do Mar. Divulgação. Fonte: Google Imagens.
A Banda do Mar é um trabalho “alto astral” sem graça. Nada além de um compartilhamento de gostos adolescentes de senso extremamente usual. O álbum não evolui em nenhum momento, não oferece outros caminhos além do mundo adulto infantilizado em bobagens e numa pieguice única. Confesso que fico muito triste em referir-me as composições de Marcelo Camelo que tanto me emocionaram outrora desta forma, mas não tem como ser diferente. Na minha concepção, é um desperdício imenso de talento de um dos raros jovens diferenciados, de fato, nos últimos 15 anos na música nacional.  É o brilho de uma carreira que iniciou e se manteve de modo enriquecedor jogado no chão.  

A propósito, aguardo ansiosamente o Box com os vinis do Los Hermanos que encomendei para a minha coleção. Preferencialmente, ouvirei tomando uma cerveja gelada ou um bom vinho com uma tábua de queijos especiais. Feeling por feeling eu prefiro a levada melódica do que “Fez-se Mar” em outros tempos, do que os “muitos chocolates” de agora. Estes, eu deixo para o casal sacarose e para Fred Ferreira, que apenas “segura vela” na bateria.


Observação - não estranhem o porquê da ausência de comentários sobre as composições de Mallu Magalhães, com exceção de “Mais ninguém” por um lado indie-pop cool e de “MIA”, que não passa de um Indie-axé e que certamente é uma das piores coisas que já ouvi em toda minha vida. Para Mallu, insisto no que disse em outro texto – “Mallu Magalhães tem 21 anos, três álbuns e a vida toda pela frente. Inclusive, para aprender a cantar”.


Um comentário:

  1. Discordo caro Giba...

    Acho o disco excelente e um ponto alto da carreira do Camelo, pois agora é que o mesmo começa a trabalhar letras de cunho existencialista. Além de mostrar mais controle, musicalidade e timbres maduros como guitarrista.

    Mallu, se "sente ótima" e continua sendo uma boa representante do folk-indie brasileiro. Fred, minimalista, faz o que tem que ser feito. Isto também é grandeza.

    Concordo que, na superfície, é um disco de fácil audição. Rock, Pop e tal. Mas também entendo que as pinceladas aqui foram trabalhadas de forma espontânea, de coração aberto. E isso existe na arte. Caso contrário nem Pollock, nem Basquiat, nem Coltrane, nem Cage seriam artistas.

    E, obviamente, estamos falando aqui de realidades. A minha e a sua. Essas são perfeitamente descritivas e, bem argumentadas, podem ser defendidas e analisadas. Mas aqui não cabe a "verdade". Porque esta é UMA só, igual para todos. E a "palavra", legado humano, sequer alcança um pequeno vislumbre da sua infinitude.

    Abraço meu amigo!

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