Sempre houve e
sempre haverá questionamentos quanto aos filmes indicados e vencedores do
Oscar. Como em toda competição que premia filmes, o critério, na grande maioria
dos casos, é amplamente subjetivo, o que dá margem para todo tipo de crítica.
Já fui de acompanhar Oscar madrugada adentro, mas hoje em dia me conformo em
assistir até onde meu sono aguentar e a paciência aguentar com os números
musicais e discursos pra lá de enfadonhos (reconheço que com o passar do ano a
cerimônia ficou mais dinâmica, mas ainda sim demora por demais). No entanto, é
impossível escapar do “Evento” (com “E” maiúsculo mesmo) Oscar, pois toda mídia
de entretenimento está com os holofotes voltados para a cerimônia. Esse ano
resolvi que assistiria pelo menos todos os indicados para melhor filme e faria
alguns comentários sobre eles. Vamos lá então!
Boyhood- Da infância à
juventude – O diretor, Richard Linklater, optou por narrar a vida do
garoto Mason (o talentosíssimo Ellar Coltrane), como entrega o subtítulo em
português, da infância à juventude. Ao optar por utilizar o mesmo elenco
demorou 12 anos pra poder concluir as filmagens. O filme dá saltos temporais na
vida de Mason de forma que personagens secundários somem sem maiores
explicações e novos personagens vão surgindo à medida que o personagem cresce.
O que dá força dramática ao filme são os personagens com seus dilemas
existenciais, angústias, insegurança, felicidade e toda sorte de emoções às
quais nós, como seres humanos estamos sujeitos durante a vida. Destaque para o
diálogo na cena em que Mason deixa a casa de sua mãe para começar a faculdade.
Divide com Birdman o favoritismo para levar melhor filme. Possivelmente leva o
Oscar de coadjuvante para Patricia Arquette (numa interpretação magnífica). Tem
boas chances também no roteiro e direção para Linklater.
BIRDMAN ou A inesperada
virtude da ignorância - A probabilidade dos roteiristas terem escrito
o filme pensando exatamente em Michael Keaton é gigantesca (talvez eles já
tenham confirmado isso, mas não li). Os personagens pelos quais tanto Keaton
quanto seu alter ego no filme, Riggan Thomson, são marcados são super-heróis
(Birdman e Batman). O ano em que atuaram pela última vez em seus papéis
icônicos foi 1992. E Keaton, tal qual Riggan Thomson busca aclamação da crítica
com um novo projeto (Riggan com uma peça na Broadway e Keaton com o próprio Birdman).
A história gira em torno das dificuldades encontradas por Riggan para conseguir
montar a peça “What We Talk About When We Talk About Love” do escritor
americano Raymond Carver, já que além de ator ele também é o produtor da peça.
Assim como em “A noite americana” de Truffaut, o filme mostra todas as
dificuldades de se produzir arte (egos elevados, insegurança, medo constante do
fracasso, etc.). Para fazer uma ironia ainda maior com o fato de Keaton/ Riggan
serem marcados com super-heróis o diretor confere ao personagem alguns
“superpoderes”. Com uma excelente fotografia em tons escurecidos tem amplas
chances de ganhar. É favorito, junto com Boyhood, à estatueta de melhor filme e
Keaton é o favorito para melhor ator.
O jogo da imitação -
Baseado na vida do matemático Alan Turing, o filme resgata um período sombrio
durante a segunda guerra mundial, no qual os alemães conquistavam várias
capitais da Europa muito em virtude de uma máquina chamada ENIGMA, a qual todos
os aliados tentavam decifrar para captar as mensagens germânicas e evitar ataques
inesperados. Liderados por Turing (em ótima atuação de Cumberbatch), os mais
respeitados matemáticos da Inglaterra tentam de todas as formas “quebrar” a
criptografia da máquina. Aparentemente a história teria tudo para ser
entediante, mas o roteiro de Graham Moore e a excelente edição de William
Goldenberg dão ao filme o clima de tensão necessário para fazer do filme tanto
um drama (que explora a vida de Turing) com um eficiente thriller de espionagem. Tem fortes chances no prêmio de edição e
Cumberbatch corre por fora como ator, mas dificilmente ganhará.
A teoria de tudo – Apoiado numa excelente
atuação de Eddie
Redmayne como famoso físico Stephen Hawking, esse filme tenta ser uma
cinebiografia de Hawking, mas é um melodrama dos mais chatos feitos nos últimos
anos. É inquestionável que um personagem como Hawking, que teve uma vida
realmente extraordinária, mereça uma cinebiografia, mas esse filme,
absolutamente, não faz justiça ao “personagem” Hawking. O filme, literalmente,
junta pedaços da vida do físico e explora ao máximo num tom cheio de
auto-piedade a vida da família Hawking. Enfim, é o típico filme que a academia
gosta, com uma história de superação das adversidades com uma atuação quase
“espírita” do ator principal. Pelo que vi em alguns sites Eddie Redmayne tem
boas chances como ator, mas o prêmio deve ficar com Michael Keaton
(Birdman).
Whiplash - Em busca da
perfeição - Na busca por um lugar como um dos melhores bateristas do
seu tempo, o jovem Andrew Neiman consegue uma vaga em uma das mais conceituadas
escolas de música dos EUA. Lá encontrará um professor de métodos quase sádicos
na busca por ser o descobridor do próximo grande músico de jazz. Com uma
interpretação não mais que excepcional de J.K. Simms como o professor Fletcher,
o filme tem os seus grandes momentos nos embates entre professor e aluno, cada
um ao seu modo tentando extrair o melhor da bateria. O filme também pontua uma
questão interessante: é preciso passar por uma espécie de “calvário musical”
para se tornar um grande músico (mais especificamente de jazz, como é o caso do
filme)? Barbada como ator coadjuvante, Simmons só perde se ocorreu uma
lobotomização coletiva entre os membros da academia.
Sniper americano - Clint
Eastwood é sem dúvida uma dos cineastas mais prolíficos em atividade. A média é
de quase um filme por ano. Não é de se espantar que com uma quantidade absurda
de filmes em tão pouco tempo a qualidade dos filmes caia. Foi o que aconteceu
com esse filme. A história gira em torno do atirador de elite Chris Kyle
(Bradley Cooper). Enviado para o Iraque após os ataques de 11/09 ele enfrenta
diariamente dilemas como quem e quando deverá matar (incluindo crianças) e
priorizar o exército/pátria em detrimento da família. O grande problema do
filme é o roteiro, que ao intercalar os períodos “em casa” e “em campo de
batalha” travam o filme de forma que nenhum deles engrena. Há também um tom
ufanista demais no filme, mas nada que já não se tenha visto em outros filmes
de Eastwood. O elenco tem atuações medianas. Não há realmente nenhum destaque.
Acho que a academia sentiu falta de Eastwood nas últimas premiações e deu essa
indicação só pra matar a saudade.
SELMA - O
filme não é uma cinebiografia do líder negro Martin Luther King, mas sim captura
um fato real ocorrido durante os anos de 1960, quando na cidade de Selma no
Alabama, cidadãos negros eram proibidos de votar pelas autoridades locais,
quando já havia uma lei federal que permitia o voto, embora fosse tão burocrática
que impedia, na prática, o voto dos negros. Há uma tensão permanente mostrada
nas conversas entre Luther King (David Oyetokunbo Oyelowo) e Lyndon Johnson
(Tom Wilkinson). A tensão racial explode na primeira tentativa de fazer uma
marcha entre Selma e Montgomery (distantes 75km). A cena do ataque das
autoridades contra os negros desarmados é de um apuro visual único.
Estranhamente, Tim Roth, que interpreta o governador do Alabama, George Wallace,
não foi indicado a coadjuvante. Apesar do elenco muito bem entrosado deve sair
de mãos vazias.
O GRANDE HOTEL BUDAPESTE – Ótimo trabalho do sempre talentoso
Anderson. Narrado em grande parte por flashbacks pelo antigo carregador de
malas do hotel e hoje dono dele (F. Murray Abraham), a história gira em torno do
Grande Hotel Budapeste (fictício) e as dificuldades e para mantê-lo ativo até
hoje. O filme é narrado num tom de aventura, cheio de reviravoltas e mostra
toda a astúcia utilizada pelo gerente do hotel (Ralph Finnes) para proporcionar
o melhor aos clientes mesmo em tempos de guerra. Dono de um apuro visual
espetacular deve levar sem maiores dificuldades o prêmio de direção de arte.
Tem grandes chances também em fotografia e edição, mas dificilmente levará os
prêmios principais.
Meus favoritos:
Melhor filme: Boyhood
Melhor diretor: Richard Linklater
(Boyhood)
Melhor ator: Benedict Cumberbatch (O
jogo da imitação)
Melhor atriz: Não tenho favorita,
pois só vi uma das indicadas.
Melhor ator coadjuvante: J. K.
Simmons (Whiplash)
Melhor atriz coadjuvante: Patricia
Arquette (Boyhood)
Melhor roteiro: Birdman
Melhor roteiro adaptado: O jogo
da imitação
E você? Tem algum favorito? Mande
sua lista nos comentários do blog.
Minha lista vai um pouco de contra a sua, principalmente no melhor ator. Se pudéssemos saber quem seria o primeiro e o segundo acho que Cumberbatch ficaria em terceiro atras de Keaton e Redmayne, nessa ordem (torço para o segundo). Melhor filme, apesar da torcida para Boyhood (e como torcedor do Santa Cruz, sei como é) acho que birdman leva. Atriz coadjuvante estou com Emma Stone e e ator cuadjuvante, sim, o J. K. Simmons ta muito foda no papel
ResponderExcluirAcho que Hotel budapeste tambem ganha melhor figurino, acrescentando a sua lista na qual também concordo com os prêmios que este filme irá ganhar
Grande Jayme! Cumberbatch é preferência pessoal, mas reconheço que Keaton e Redmayne estão entre os favoritos. Vou ser muito honesto. Nenhum dos indicados me chamou muito a atenção. Os cacoetes irritantes de Michael Keaton ainda estão presentes na primeira metade do filme e Redmayne está muito bem, mas se apoia demais no desempenho físico. Mesmo Cumberbatch não está brilhante, mas é bem eficiente. Bradley Cooper está num papel mais do que normal. O mais surpreendente ,talvez, seja Steve Carrel em "Foxcatcher", mas mais porque foge dos papéis de comédia que habitualmente ele faz.
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