terça-feira, 22 de maio de 2012

Tim...1972 - Por Gilberto da Costa Carvalho



     A angústia e a emoção que definem este disco de Tim Maia, são exatamente as mesmas que me acometem neste momento. Busco uma parte do meu passado que acho que não deveria mexer. Pelo menos em parte... Recordo que há quase 6 anos atrás eu estava na Rua do Riachuelo, Centro do Recife. Mais precisamente na casa do amigo Bruno Cezar. Era lá que ia tentar aliviar um pouco o sofrimento sem tamanho que tomava conta de mim. Estava vendo meu padrinho e herói terminando sua trajetória liquidado por um câncer de grandes proporções. Quando falo em alivio, tenham certeza que eram algumas horas dedicadas a músicas, cigarros e cervejas.

     Numa destas tardes, tocamos no assunto Tim Maia. Foi aí que Bruno me disse – “Vou colocar um negócio pra você ouvir.” Alguns segundos após estas palavras, uma bomba em forma de tristeza me atingiu. “Lamento”, oitava música do disco. Recordo até como e onde estava. Sentado num banco azul que ninguém gostava (só eu) e que o dono da casa disse – “bicho este trono é seu.” O olhar fixo e tentando achar algo no chão. O cigarro queimava incessantemente, a cerveja por alguns instantes parou de ser degustada e nem lágrimas conseguiam rolar. Sem sombra de dúvidas aquele era um lado, dos vários de Tim Maia, que eu não conhecia. Era uma mistura de doçura e tristeza que quase nenhuma vez conseguimos ouvir em composições. Este Lado B, requer luz baixa e um certo clima de romantismo, embora nada disso eu estivesse vivendo naqueles dias. Neste mesmo disco, reencontro uma grande música. A canção “O que me importa”, que exatamente 30 anos depois “estourou” na voz de Marisa Monte. A versão de Tim é altamente intimista e, justamente por isto, torna-se espetacular!

    Para completar a tríade-triste, encontramos uma raridade intitulada - “Sofre”. Não tenho receio de opinar que se trata do melhor blues gravado em português. Emotivo como nunca, Tim Maia solta toda sua potência para "sofrer" nas palavras deste “slow”.

     Analisando a carreira de Tim, este foi o prenúncio do fim de sua primeira fase (ainda foi lançado o excelente – Tim Maia 1973), que foi interrompida 3 anos depois quando o lançamento do Racional I. Encontramos várias vertentes musicais neste disco, principalmente no Lado A. “Idade” pede passagem tal qual um carro alegórico abrindo espaço no meio da multidão. O soul, que é a alma de Tim, está representado pela excelente “O que você quer apostar”. Ainda encontramos uma aula de canto em “Canário do Reino”. Nela, Tim passa toda emoção e, principalmente, o prazer que tinha em cantar. Posso afirmar que seriam “Os bailes da vida” de Milton do jeito alternativo. E o recado deveria ser muito mais escutado por tantos...

O que falar da histórica e imortal - "These are the the songs?"

     Ressalto ainda a importância deste álbum por um fato. É nele (e não nos medianos Racionais), que Tim Maia consegue marcar definitivamente a história da Soul Music Brasileira. Dançante e emocionante. Nada mais que a cara do dono. Além disto, a competência na mescla de ritmos é notória. Temos Baião, Soul, Rock e Blues num cenário inovador e de essencial importância para a história da MPB.


Dedicado a Armando da Costa Carvalho e ao amigo Bruno Cézar Guimarães.


6 comentários:

  1. Adoro seus textos leves, emocionados, doces. Tão lindo e com tanta emoção. Tim Maia merece! =)

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  2. Lindo, Giba! Como Dani já postou, soou leve para mim e de grande tom cronista. Parabéns!

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  3. Porra Giba, que texto lindo! Sempre que escuto esse álbum lembro de você, que alguns meses atrás me mostrou numa noite quente regada a cerveja e cigarro que Tim Maia vai muito além do popular Racionais. Obrigada coisa rica!

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  4. O seu texto mais poético, Giba! Belíssimo!

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  5. Gibangs, Tim é foda, várias verdades com uma carga emocional crua e sensacional, Racionais é pop mas tem tbm seu lugar na história dos grandes albuns... "Ela partiu" é pra chorar com ele... Abração véio!!!!

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