Após longos 33 anos, finalmente é
lançado no Brasil o livro “Ninguém sai vivo daqui” (do original “No one here
gets out alive) de Jerry Hopkins e Danny Sugerman. O livro foi um best seller quando lançado nos Estados
Unidos e lançou luz sobre a carreira e
as circunstâncias da morte do frontman do The Doors, Jim Morrison (fato, até hoje, cheio de dúvidas
a respeito do que realmente ocorreu). Os autores buscaram depoimentos com todos
aqueles que tiveram convivência direta com Morrison, inclusive sua mãe e seu
irmão. O “inclusive” surge, pois sabe-se que o vocalista respondia em diversas
entrevistas, quando questionado sobre seus pais, que seus genitores haviam
morrido.
Boa parte da infância/adolescência
do até então desconhecido James Douglas Morrison é narrada nos primeiros
capítulos do livro. Desde os primeiros amores, as suas influências literárias
até suas passagens pelas Universidades nunca concluídas (entre elas uma de
cinema, uma das maiores paixões do cantor). As influências literárias são de
extrema importância para a narrativa, pois mais à frente veremos o porquê da
origem de muitas das letras da banda.
O livro, como toda biografia
honesta deveria ser, procura retirar o biografado do pedestal de “Deus do Rock”
e colocá-lo como um ser humano falível, com momentos de “Dr. Jekyll e Mr.
Hyde”. Um Morrison carinhoso e ao mesmo tempo perverso com amigos, familiares e
seus “conhecidos” (pessoas que orbitavam ao seu redor procurando usufruir de
sua fama e dinheiro). Nesse aspecto, os autores não poupam o biografado. Há
inúmeros relatos de bebedeiras, consumo de drogas (que para uma figura repleta
de excessos, como Morrison, até que é moderado), discussões, confusões em shows
envolvendo polícia, fãs e produtores. O
que mais chama a atenção nesse ponto do livro é o relacionamento quase mortal
entre Jim e a bebida. Fácil perceber que grande parte da personalidade de
Morrison estava diretamente atrelada ao quanto ele consumia de álcool - e
quando falo “consumia” não significa uma noite de bebedeira. Ele era capaz de
sumir por dias para, por exemplo, levar amigos até a fronteira com o México
somente com o intuito de beber. A bebida ajudava Morrison a ser aquele cara ”cool”,
que ele na verdade nunca foi. Ele era um sujeito extremamente inseguro e tímido,
e a bebida era uma forte aliada dele para lidar com as pressões e exigências do
estrelato.
Outro aspecto muito bem
enfatizado, de maior relevância até, se refere às letras e músicas produzidas
pelos Doors, sua origens e influências musicais. O livro detalha a produção de cada álbum,
como as músicas escolhidas para serem lançadas como single. No entanto, a melhor parte do livro está reservada para os
shows e as turnês do grupo. São notórios os shows feitos pela banda em que Jim
mal conseguia lembrar as letras ou prolongava a música por intermináveis
minutos. Grande parte desse tema dos shows é dedicada à fatídica apresentação
realizada em Miami, na qual Morrison foi acusado de conduta pública lasciva por
simular felação com o guitarrista da banda. Foi perseguido implacavelmente por
um juiz e um promotor que buscavam os holofotes. O processo oriundo dessa
apresentação pôs em grande risco a continuidade dos Doors e pela primeira vez
deixou o vocalista preocupado com a possibilidade de ir para cadeia. O que mais
chama atenção nesse trecho do livro é a informação de que o grupo fez alguns
shows no México (desconhecia completamente essa informação) e que a turnê europeia
da banda foi extremamente bem sucedida tanto em termos de dinheiro como de performance de palco
O livro acompanha a carreira do
cantor até seus últimos dias em Paris, quando morreu, supostamente, de um
ataque cardíaco. Não se sabe ao certo se súbito ou causado por alguma
substância. Não seria exagero dizer que o livro, juntamente com o filme,
lançado onze anos depois, ajudaram a forjar um mito dionisíaco em torno da persona de Morrison.
A sensação que tive após a leitura
do livro foi perfeitamente captada por Jerry Hopkins no epílogo do livro: “Devo
acrescentar, como uma nota de rodapé, que quando terminei de escrever os
primeiros esboços do livro, não estava gostando de Jim Morrison tanto como
gostava quando comecei”.
P.S: Dizer que o livro é
espetacular, seria redundância, mas se você quer ver um Morrison colocado como
qualquer um de nós, não recomendo a leitura do prefácio de Danny Sugerman. Há
uma louvação um tanto quanto desnecessária ao biografado. Deixe para ler depois
de terminado o livro e veja se mesmo assim você concorda com o que Sugerman
escreveu.
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