segunda-feira, 12 de maio de 2014

Ninguém Sai Vivo Daqui - Por Fernando Lucchesi


Após longos 33 anos, finalmente é lançado no Brasil o livro “Ninguém sai vivo daqui” (do original “No one here gets out alive) de Jerry Hopkins e Danny Sugerman. O livro foi um best seller quando lançado nos Estados Unidos e lançou luz  sobre a carreira e as  circunstâncias da morte do frontman do The Doors,  Jim Morrison (fato, até hoje, cheio de dúvidas a respeito do que realmente ocorreu). Os autores buscaram depoimentos com todos aqueles que tiveram convivência direta com Morrison, inclusive sua mãe e seu irmão. O “inclusive” surge, pois sabe-se que o vocalista respondia em diversas entrevistas, quando questionado sobre seus pais, que seus genitores haviam morrido.

Boa parte da infância/adolescência do até então desconhecido James Douglas Morrison é narrada nos primeiros capítulos do livro. Desde os primeiros amores, as suas influências literárias até suas passagens pelas Universidades nunca concluídas (entre elas uma de cinema, uma das maiores paixões do cantor). As influências literárias são de extrema importância para a narrativa, pois mais à frente veremos o porquê da origem de muitas das letras da banda.

O livro, como toda biografia honesta deveria ser, procura retirar o biografado do pedestal de “Deus do Rock” e colocá-lo como um ser humano falível, com momentos de “Dr. Jekyll e Mr. Hyde”. Um Morrison carinhoso e ao mesmo tempo perverso com amigos, familiares e seus “conhecidos” (pessoas que orbitavam ao seu redor procurando usufruir de sua fama e dinheiro). Nesse aspecto, os autores não poupam o biografado. Há inúmeros relatos de bebedeiras, consumo de drogas (que para uma figura repleta de excessos, como Morrison, até que é moderado), discussões, confusões em shows envolvendo polícia, fãs e produtores.  O que mais chama a atenção nesse ponto do livro é o relacionamento quase mortal entre Jim e a bebida. Fácil perceber que grande parte da personalidade de Morrison estava diretamente atrelada ao quanto ele consumia de álcool - e quando falo “consumia” não significa uma noite de bebedeira. Ele era capaz de sumir por dias para, por exemplo, levar amigos até a fronteira com o México somente com o intuito de beber. A bebida ajudava Morrison a ser aquele cara ”cool”, que ele na verdade nunca foi. Ele era um sujeito extremamente inseguro e tímido, e a bebida era uma forte aliada dele para lidar com as pressões e exigências do estrelato.

Outro aspecto muito bem enfatizado, de maior relevância até, se refere às letras e músicas produzidas pelos Doors, sua origens e influências musicais.  O livro detalha a produção de cada álbum, como as músicas escolhidas para serem lançadas como single. No entanto, a melhor parte do livro está reservada para os shows e as turnês do grupo. São notórios os shows feitos pela banda em que Jim mal conseguia lembrar as letras ou prolongava a música por intermináveis minutos. Grande parte desse tema dos shows é dedicada à fatídica apresentação realizada em Miami, na qual Morrison foi acusado de conduta pública lasciva por simular felação com o guitarrista da banda. Foi perseguido implacavelmente por um juiz e um promotor que buscavam os holofotes. O processo oriundo dessa apresentação pôs em grande risco a continuidade dos Doors e pela primeira vez deixou o vocalista preocupado com a possibilidade de ir para cadeia. O que mais chama atenção nesse trecho do livro é a informação de que o grupo fez alguns shows no México (desconhecia completamente essa informação) e que a turnê europeia da banda foi extremamente bem sucedida tanto em termos de dinheiro como de performance de palco

O livro acompanha a carreira do cantor até seus últimos dias em Paris, quando morreu, supostamente, de um ataque cardíaco. Não se sabe ao certo se súbito ou causado por alguma substância. Não seria exagero dizer que o livro, juntamente com o filme, lançado onze anos depois, ajudaram a forjar um mito dionisíaco em torno da persona  de Morrison.

A sensação que tive após a leitura do livro foi perfeitamente captada por Jerry Hopkins no epílogo do livro: “Devo acrescentar, como uma nota de rodapé, que quando terminei de escrever os primeiros esboços do livro, não estava gostando de Jim Morrison tanto como gostava quando comecei”.  

P.S: Dizer que o livro é espetacular, seria redundância, mas se você quer ver um Morrison colocado como qualquer um de nós, não recomendo a leitura do prefácio de Danny Sugerman. Há uma louvação um tanto quanto desnecessária ao biografado. Deixe para ler depois de terminado o livro e veja se mesmo assim você concorda com o que Sugerman escreveu.

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