segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Os 70 anos do Príncipe do Samba - por Giba Carvalho


Paulo César Batista de Faria, são 70 anos de história. De um caminho traçado por acordes de violão e cavaquinho, pela marcação dos surdos e a bossa das caixas e tamborins da Tabajara do Samba. Pelo desejo de ser músico, violonista e compositor. Mesmo contra a vontade de seu pai, o imenso César Faria do Conjunto Época de Ouro, este tido por muitos como o maior violão de acompanhamento que este país já ouviu. É Paulo César, teu pai te queria médico! Mas no teu sangue correm hemácias, plaquetas e tudo mais em duas cores: o Azul e o Branco da Majestade do Samba! A Portela querida!

E este rio de águas tépidas correu para o mar. E tu soubeste como poucos timoneiros levar o barco na marola. A calma aconchegante de tua voz e a transparência dos teus acordes te fizeram "o Príncipe do Samba".

Neste destino traçado entre a música e a Portela, temos que relembrar alguns fatos. Primordialmente, o respeito a história. Nos idos de 1970, tiveste a ideia de formar a primeira Velha Guarda. Originalmente ao estar sentando numa tarde na quadra e observar como os membros de mais idade da Portela tocavam divinamente e de forma solta. O modo "irresponsável" de um toque de pandeiro no alto mudou a história musical do Rio de Janeiro. Deste um presente sem tamanho a Música Popular Brasileira. A oportunidade de ouvir sambas esquecidos, acalantos empoeirados, amores perdidos. E que se assim ficariam caso a sua iniciativa não tivesse ocorrido à época.

Outro fato bastante curioso ocorreu no ano de 1968. Hermínio Belo de Carvalho resolveu inscrever a música - "Sei lá Mangueira" no Terceiro Festival de Música da Record. O grande problema neste caso é que a letra era de Hermínio, mas quem musicou a mesma foi Paulinho. É meus caros! Seria a mesma coisa um flamenguista elogiar um vascaíno. Este fato causou bastante desconfiança dentro da Portela. Comenta-se até que o Presidente da Escola tarjou o jovem Paulo César de "traidor".

Segue abaixo o belo motivo desta desavença interpretado por Odete Amaral (uma das mais belas vozes femininas da Estação Primeira de Mangueira):

       

Exatamente dois anos depois desta desavença veio a resposta. Digamos que um pedido de perdão dos mais belos que já se ouviu na história da Música Brasileira. Claro que depois de ouvir "Foi um rio que passou em minha vida", muitos afirmaram: "Não era necessário isto! Todos sabem das raízes do garoto." Este single foi o divisor de águas na carreira do garoto Paulo César. O aclamado "perdão" o projetou nacionalmente. Nenhuma outra música foi mais executada nas rádios do país naquele ano.

Lendo uma reportagem sobre as comemorações de tão importante data, fiquei impressionado com duas coisas. Primeiro, uma turnê iniciando por Nova Iorque e que possivelmente irá passar por todo nosso Brasil logo em seguida. Mas, a segunda coisa, foi o que me chamou mais atenção. O fato de que antes desta turnê ter início no exterior, o Mestre Paulinho da Viola irá tocar na Praça Central de Madureira como comemoração inicial do seu aniversário. Obviamente que ele estará acompanhado da Velha Guarda da Portela a qual ele ostenta o título de padrinho. Tudo isto com entrada franca. Isto me remete ao texto que Bruno Vitorino escreveu sobre o show de Chico Buarque em Recife. Principalmente a um questionamento: "O que a dita MPB está fazendo para se aproximar do povo e se tornar novamente popular?"

São atitudes louváveis como esta de Paulinho da Viola que mostram a essência e o modo de pensar do artista. Arte para todos! Para os ricos dos teatros e para os pobres das praças.

Após 40 anos de carreira, podemos esperar um novo trabalho de Paulinho da Viola a qualquer momento. Afinal, como ele mesmo afirma: "Eu não vivo no passado, o passado é que vive em mim." E ele utiliza o mesmo para criar o novo sem olhar para trás. Certamente, é um belíssimo elo entre tradição e modernidade.

Parabéns, Mestre Paulinho da Viola!


Abaixo, este rio que continua a passar na nossa vida:

Se um dia
Meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração
Tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar...
Porém! Ai porém!
Há um caso diferente
Que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de Carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em novo amor
Quando alguém
Que não me lembro anunciou
Portela, Portela
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou...
Ah! Minha Portela!
Quando vi você passar
Senti meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir
Aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar!

     

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