domingo, 25 de novembro de 2012

Vanguart: A Garapa do Cerrado - Por Giba Carvalho



Noite de terça-feira no escaldante calor que faz no Recife. Numa discussão sadia, entre um chopp e outro, eis que surge por intermédio de Marcella o nome – “Vanguart”. Banda oriunda de Cuiabá, do cerrado brasileiro e vizinha do nascedouro da cena musical mais manjada e insuportável deste país. Este, talvez, seja o único mérito dos caras, porque ter coragem de lançar algo diferente de sertanejo “universiotário” pra estas bandas é de fato admirável.

Confesso ter certo receio para ouvir muitas destas bandas novas do cenário nacional. No meio deste papo, Marcella falou uma coisa bastante pertinente – “Você não pode falar se você não ouviu.” É fato minha amiga! No entanto, por incrível que pareça, eu escuto cada coisa que você nem tem noção. Jamais teci opinião sobre um trabalho se não escutei o mesmo. E escuto na íntegra mesmo. Na noite da quarta-feira, Marcella me envia pelo chat do facebook um link para fazer o download do disco – “Boa parte de mim vai embora”. Disco “baixado” e posto no celular para ser “degustado” na manhã do dia seguinte. Segue relato:

“Recife, bairro da Torre, precisamente 05:35 da manhã. Para muitos pode parecer estranho, mas esta é a hora que costumo ouvir música da maneira mais detalhada. Na hora em que coloco os fones de ouvido e estou na viagem para o trabalho em Suape.  Seguem as canções e alguns trechos:
1 - “Eres mi vida” – trecho da letra – Saí de casa a te buscar. Cruzei o país a caminhar. Desenhei nas ruas um amor. Que já não sei se é real. Como se não existe. E se eu sou triste, a causa é você, é só você.”
2 – Se tiver que ser na balada, vai – “O amor não foi suficiente. Eu vou embora, não sei pra onde. Mas ainda um mundo por dizer. Acho que tá claro. E acho da hora.”
3 – Desmentindo a despedida – “As tuas ondas. No meu sono. E este mar. Não foi mais que a nossa cama. Sem você. Amanheceu.”
4 – Nessa cidade – “E eu não vou mais estar do teu lado. Mesmo assim, sempre eu vou te amar. E essas coisas do teu namorado, em silêncio, hoje eu vou falar. É uma necessidade.”
5 – Engole (Arde mais que brasa em pele quente) – E eu te levei até a praia. E eu me desfiz da minha esposa. E eu joguei fora o meu dinheiro. Fechei a porta pra um amigo. Eu só sonhei meu desengano. Eu desenhei as tuas pupilas.”
7 – Eu vou lá – Que eu sou filho dessa chuva. Desse calor dos teus olhos. Seja eu a tua casa,
seja eu o teu mistério, teu riso. E eu vou lá.  Se me faltam caminhos pra ficar.”
8 – Onde você parou – “Quem me dera o céu pudesse ajudar. Noites eu passei em claro. Os olhos que me apetecem. Os sonhos que se antecedem. Pra você chegar na estrada, caminho ou lugar. Onde eu seja teu.”
9 - ...Das lágrimas – “Quando me lembro de você. De mala e cansada de chuva. Das lágrimas na sua blusa. Tentando entender aquele rosto. Aquela dor que trouxe você...”
10 – Amigo – “Quem te vê sorrindo? Quem te vê chorando? Quem me vê gastando os dentes?
Em passarelas, em bares. A procurar tua figura, tão imatura. Na noite em que eu deixei você pra trás. Pra onde é que a gente vai daqui?”
11 – Morrerão – Que não morreria ao ver você assim, tão bonita. O seu último olhar acabou. Nas árvores ficou. As ruas marcou. Nos olhos levou a certeza que teu mar não morrerá em ti.”
12 – O que a gente podia fazer – E nas ondas do mar. Eu vi você voltar. E nas ondas do mar, eu desapareci...(o tempo eu esperei).”
13 – Depressa – “A esperança dos dias cresceu com a dor. De esperar por você, de bolar a flor. Entre os olhos do meu mais puro amor.  Seja o que isso for...”
Pois bem, caríssimos leitores. O que falar depois de demonstrações de tanta “genialidade”? Notem que fiz uma pesquisa minuciosa sobre o disco da banda. Afinal, segundo os “críticos” musicais do nosso querido país, o “precoce” Helio Flanders é o Bob Dylan brasileiro! Minhas “reverências” a este cara meus caros! E como estes mesmos críticos gostam desta palavra “precoce” no ramo musical.
No entanto, eu não posso engolir este tipo de opinião desta forma. Percebo duas coisas bastante claras nestas pessoas que escrevem sobre música hoje em dia. A falta de realmente escutar e até mesmo pesquisar antes de falar sobre qualquer tema. Na verdade, estes críticos, são meros leitores de releases.  Analisem estes trechos de letras postados acima. Friamente. Quantas vezes vocês encontram a palavra “amor”? Ou contextos sugestivos a...a...a...”amor”? Ou lágrimas de...de...de...”amor”? E é claro que não poderia faltar a dor...de...de...de...”amor”! Ahhhh o amor!
Analisando friamente o disco, posso afirmar com certeza que é uma garapa com açúcar, adoçante, mais alguns leves toques de folk (Malu Magalhães faz melhor), indie-rock (eu adoro esses jargões), suspiros de corações machucados e lágrimas incessantes. E eu aposto que você já está com os olhos cheios de lágrimas hein...
Musicalmente a banda não tem absolutamente nada de especial. Alguns momentos lembram o pior do rock gaúcho, noutros se igualam a todas as outras que estão neste mercado de “Ursinhos Carinhosos”. O Flanders (o cara ao menos tem sobrenome de artista), ao cantar suas “poesias”, é uma tentativa muito da ordinária de tentar se aproximar de Rodrigo Amarante.  Aquele jeitinho arrastadinho e cheio de “pra que isso” que, diga-se de passagem, o Hermano faz com o jeito que lhe é peculiar. Sem forçar a parada!
Insisto em voltar a falar sobre algo que escrevi acima: “Na verdade, estes críticos, são meros leitores de releases”. Não é porque um cara diz que tem Bob Dylan como influência e tente fazer algo parecido, que ele será um novo Bob Dylan. Comparar o rapaz em foco com um dos maiores letristas da história da música mundial é uma piada de péssimo gosto.  É ignorar um passado musical bastante rico. Inclusive, duvido que qualquer um destes caras e ouvintes da referida banda saibam que as letras de Dylan são estudadas em cursos superiores de letras nos Estados Unidos e na Inglaterra. E foram docentes de “pequenas” instituições como Harvard e Oxford que lideraram o processo para que tais letras entrassem na grade de estudo das mesmas.  Conselho? Escutem antes de escrever e falar algo sobre, porque até eu posso escrever – “Meu amor...segurei tuas mãos. Olhei profundamente nos teus olhos cinzas de tristeza. Uma lágrima escorreu, nutrida por teu rimel. E depois sorrimos tomando um picolé de acerola.”
Recordo que há alguns anos, eu dizia ao amigo Carlos Eduardo Borba (o Animal da Porão GB): “Bicho, não posso respeitar uma banda que tem uma música chamada – ‘Sorvete de Flocos’ e diz-se Punk!”.  
Propositalmente, pulei a música 6 no desmembramento das composições. E a explicação é bem simples:
“No dia que uma banda tiver uma música intitulada ‘A Patinha da Garça’ ganhar meu respeito, pode esquecer tudo que já escrevi, pesquisei e aprendi sobre música em toda minha vida.”



Vai saber! Do jeito que as coisas estão hoje em dia, pode ser que Bob Dylan enlouqueça, faça uma versão em inglês da mesma e lance no carnaval.
Até a próxima.

7 comentários:

  1. Bem, a banda? Só mais uma banda de pop pós los-hermanos. Da mesma forma que toda banda nos fins de 80, e 90, tinham a cara da Legião Urbana, as de hoje tem a cara do LH.Com umas coisas diferentes aqui e outras ali. O cara realmente faz um tipo "Amarante". Ou seja: nada de novo no front. E, caramba, a carência de um ícone é tanta que qualquer carinha nova do cenario vira logo o "Novo" Beltrano, ou o Sucessor de Ciclano... Quem teve por aqui e fez sua parte, a exemplo dos Bob Dilan's, merece apenas ser lembrado, não ressucitado nestas visionárias comparações. No mais, Giba Carvalho, nomes inusitados em letras de musicas não tiram a suposta genialidade que elas possam apresentar. Lembrando que, em algum momento das nossas vidas, um nome "peculiar" (como a tal patinha da garça) ja foi (e continua sendo) mote das nossas alegrias, a exemplo de: Black dog, black bird, blue bird, mobidick...

    Marco Tomé

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  2. De acordo Giba...
    Chega de excessos de verbos no infinitivo!

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  3. Quando começa o papo de "a nova sensação da música" rapidamente ligo o alerta. Na grande maioria das vezes, é jogada de marketing: um produtor resolve eleger a nova revelação da música - de preferência fora do eixo Rio/SP para dar ares de exotismo à "descoberta"; passa o release, fotos e disco para que um jornalista amigo seu escreva uma crítica favorável para um grande veículo de comunicação (para que servem os assessores de imprensa senão para isso?) e referende a suposta genialidade do "precoce" artista; os "descolados", "alternas" e "hipsters" (um termo novaiorquino do anos 1950 que está na moda) mordem a isca lançada pelo formador de opinião e introjetam a genialidade do trabalho. "Voilà"! Surge o novo salvador da pátria. Todos ganham: a banda que desponta nacionalmente e com respaldo intelectual (apenas no caso dos indies); o produtor que agrega mais um nome de peso para servir de moeda de troca junto a casas e outros produtores; o crítico/jornalista que passa a ter um novo nicho de atuação, como um território que protege com ferocidade leonina; o público que ganha um novo ídolo para reverenciar passivamente. A rede se forma.

    Este é o caso do Vanguart! Se a música fosse levada a sério, esses rapazes não passariam de uma apresentação no baile da escola. Mas, num contexto onde a imagem construída vale mais do que a consistência da produção, é normal que ela seja recebida com tanto entusiasmo!

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  4. PS: Esse Flanders está mais para "imitação tacanha de Thom Yorke" do que para "Amarante mal copiado".

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Poxa velho, nada haver esses comentários. Sou fã dessa banda.


    Fred Lyra

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  7. Ahahahahahahaha!
    Ultimamente os comentários de Fred Lyra são os melhores!:D

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